Alta de juros na China acende sinal de alerta para inflação em emergentes

Publicado em 28/12/2010 07:30
Excesso de aquecimento traz de volta o fantasma da inflação, com os preços de commodities reacendendo o alerta mundial e abrindo a ameaça de uma nova crise de alimentos.

De um lado, economias que mal conseguem sair da recessão e entrarão em 2011 com uma palavra de ordem: austeridade. De outro, mercados em plena expansão e com uma preocupação bastante diferente: excesso de aquecimento e o fantasma da inflação, com os preços de commodities reacendendo o alerta mundial e abrindo a ameaça de uma nova crise de alimentos.

Em 2011, países ricos e emergentes viverão situações opostas e desafios contraditórios que dificultarão ainda mais a capacidade de uma coordenação global para permitir que, finalmente, o mundo saia da crise.

Na Europa e nos Estados Unidos, uma série de medidas de corte de gastos e de austeridade entra em vigor a partir do dia 1º de janeiro. Na Irlanda, que se beneficiou de um pacote de resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia, € 4 bilhões desaparecerão do orçamento anual. Em Portugal, funcionários públicos terão o primeiro corte de salários, em 5%.

A meta é reduzir déficits que colocam em risco o euro. Mas o impacto será uma redução na taxa de crescimento, de 1,7% em 2010 na zona do euro para 1,5% em 2011. O desemprego também não deve cair e a tensão promete aumentar.

Nos EUA, a projeção é de um crescimento de 3%. Mas sem a geração de postos de trabalho e, portanto, com um crescimento do consumo limitado. O Fed (banco central americano) avalia que a deflação seja uma ameaça mais real ao país que a inflação. No Japão e na Irlanda, o FMI prevê uma deflação.

Emergentes

Nos países emergentes, a situação é bem diferente. O FMI estima que esses mercados terão um crescimento de 6,4%, em média, em 2011, quase três vezes a média dos ricos.

A expansão não vem sem riscos. Para o banco Goldman Sachs, China, Índia e Brasil terão inflação acima de 5% em 2011, mesmo elevando juros e limitando o consumo. A Rússia, que pela primeira vez desde o fim do comunismo teve inflação abaixo de 5%, verá um retorno na pressão de preços em 2011. Segundo o FMI, a taxa chegará a 7,4%.

De acordo com o FMI, vários países emergentes colocarão todas suas energias para reduzir a inflação. Mas o problema é que a redução ainda não seria suficiente e, em vários casos, continuará a ser um obstáculo para a estabilidade. Na Ásia, o melhor cenário do FMI é que a inflação caia de 6,1% para 4,7%, o que ainda é considerado pouco adequado.

Sem recuo

Em alguns mercados, a inflação será ainda maior. Na Indonésia, passará de 5,1% em 2010 para 5,5%. No Paquistão, subirá de 11% para 13%.Na Índia, a inflação de alimentos superou neste mês a marca de 12% em relação a dezembro de 2009.

No Vietnã, a inflação atingiu em dezembro sua maior taxa em 22 meses, com alta de 11,75%. "A inflação na Ásia não dá sinais reais de retroceder", afirmou um relatório do banco HSBC.

Na América Latina, a redução será marginal, caindo de 6,1% em 2010 para 5,8%. A presidente Dilma Rousseff terá dificuldades, mas o FMI aposta numa inflação de 4,6% para o Brasil em 2011. A Argentina não conseguirá reduzir a pressão e permanecerá com alta de 10,6%. Chile, Colômbia, Bolívia e toda a América Central terão alta da inflação.

A taxa só não será maior porque países emergentes já iniciaram medidas duras contra a inflação. A China promoveu em pleno Natal a segunda alta de suas taxas de juros no ano. O banco central russo aumentou, na sexta-feira, as taxas de juros sobre as operações de depósito bancário para conter a inflação.

Alimentos

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) já soou o sinal de alerta em relação aos preços de alimentos pelo mundo e seu impacto social. Em 2007 e 2008, a crise gerou dezenas de protestos pelo mundo e até provocou a queda de governos.

A pior crise econômica mundial em 70 freou a alta por alguns meses. Mas agora a FAO alerta que os índices de preços de alimentos se aproximam "perigosamente" dos níveis de 2007. Milho e trigo já estariam no mesmo patamar da crise, voltando a gerar temores de manifestações.

Desde julho, o índice de preços de alimentos não parou de subir e já chegou a poucos pontos da marca recorde de junho de 2008, com 213,5 pontos.

Safras abaixo do esperado, tarifas para evitar a exportação de alimentos em alguns países e a volta da especulação estão alimentando a nova alta. Se não bastasse, a produção de trigo foi afetada na Rússia pelos incêndios.

Outro fator que pesará cada vez mais será o consumo crescente entre os emergentes, o que tornará os alimentos entre 15% e 40% mais caros nos próximos dez anos, com ou sem crise.

Fonte: O Estado de SP

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