China deve ultrapassar EUA em vendas ao Brasil no próximo ano

Publicado em 30/12/2010 07:48
Caso a tendência atual seja mantida, em 2011 a China irá desbancar os Estados Unidos e tornar-se o principal fornecedor externo do mercado brasileiro. Os dois países devem terminar 2010 com diferença de cerca de US$ 1,5 bilhão nas exportações ao Brasil. No acumulado até novembro, a China foi responsável por 14,1% do total das importações brasileiras. Os chineses devem terminar 2010 com novo recorde de participação nos desembarques brasileiros. Os EUA terão fatia pouco maior (14,96%).

Ao mesmo tempo os EUA também devem, em 2011, deixar de ser o segundo destino mais importante das vendas ao exterior do Brasil. Em 2011, se a tendência se mantiver, o segundo lugar será perdido para os argentinos. Os americanos eram, historicamente, os maiores compradores de produtos brasileiros, mas deixaram de ser o principal parceiro em 2009, quando a China passou a ser o destino mais importante. Os americanos devem terminar 2010 com o menor patamar de participação nas exportações brasileiras desde 1989.

As duas mudanças previstas para 2011 são resultado de tendência mantida há alguns anos e que despontou bem antes da perda de fôlego da economia dos EUA, em função da crise. A perda de participação americana nas exportações brasileiras acontece desde 2003.

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que em 2002 os americanos responderam por 25,4% das exportações brasileiras. Com gradativa queda de participação desde então, as vendas aos americanos ficaram com fatia de 10,2% em 2009. No acumulado de janeiro a novembro de 2010, a participação caiu para 9,4%.

As exportações para a China foram em sentido inverso, em crescimento constante desde 2000. Puxados principalmente pela venda de soja e minério de ferro, os embarques para os chineses saltaram de 1,41% do total das vendas ao exterior do Brasil em 1999 para 13,7% dez anos depois. No acumulado até novembro de 2010, a fatia da China alcançou 15,6%.

Foi nesse contexto que as exportações para a Argentina encostaram nos EUA este ano, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). De janeiro a novembro de 2010, 9,09% dos embarques brasileiros se destinaram à Argentina, enquanto que os americanos ficaram com 9,39%. A diferença nos valores vendidos aos dois países no acumulado até novembro de 2010 foi de US$ 545,2 milhões.

"A Argentina tem chegado perto dos americanos em função da queda de participação dos EUA. Essa redução de vendas para os americanos está fortemente influenciada pelo aumento dos embarques direcionados à China", diz Castro.

Para Fábio Silveira, da RC Consultores, a economia enfraquecida e o baixo dinamismo da indústria americana permitem imaginar que a tendência de queda da fatia americana nas exportações brasileira continue em 2011. Ao mesmo tempo, o avanço, ainda que pequeno, da participação argentina é creditado ao crescimento econômico do país vizinho. Silveira estima que o PIB da Argentina cresça entre 7% e 7,5% em 2010, com expectativa de manutenção do dinamismo em 2011. O cenário torna factível, diz, que a Argentina ultrapasse os EUA como destino das vendas brasileiras ao exterior.

Ao mesmo tempo, lembra Castro, a China está prestes a desbancar os EUA como principal fornecedor ao Brasil. Desde 2002, a fatia dos desembarques de produtos americanos no país tem sofrido redução. Em 2001, a participação dos americanos era de 23,21% das importações totais brasileiras. Em 2009, a fatia caiu para 15,68%. No acumulado até novembro de 2010, desceu para 14,96%.

Os desembarques de produtos chineses, ao contrário, estão aumentando de forma consistente desde 2000, quando a participação dos chineses no fornecimento estrangeiro ao Brasil era de 2,19%. Em 2009, a fatia já havia saltado para 12,46% , chegando a 14,1% no acumulado dos 11 meses de 2010.

Para Silveira, o cenário mostra grande dependência do Brasil em relação à venda de commodities. "Isso é negativo a médio a longo prazo, porque os preços desse tipo de produto são muito voláteis."

Castro lembra que não só os embarques para a China mostram a vulnerabilidade das exportações. "As vendas aos EUA e à Argentina revelam que a pauta de exportações está restrita, com produtos de baixa intensidade tecnológica."

Os embarques para os americanos, diz Castro, são de produtos de baixo valor agregado. Cerca de 18% do que foi exportado aos EUA de janeiro a novembro de 2010 foram óleos brutos de petróleo. Para a Argentina, há mais produtos com maior intensidade tecnológica, lembra Castro. Cerca de 14,5% do que foi vendido pelo Brasil aos argentinos no acumulado até novembro de 2010 foram automóveis. Há, porém, destaca ele, grande dependência dos carros e das autopeças e, por isso, pouca diversificação da pauta brasileira.

Para Castro, a situação torna o Brasil vulnerável. Uma valorização do real, diz, não significará recuperação dos compradores internacionais de manufaturados e nem a manutenção dos atuais importadores das commodities brasileiras. "O comprador de commodities não é fiel, ao contrário dos compradores de produtos de maior intensidade tecnológica."
Fonte: Valor Online

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