Preocupação com Japão garantiu novo dia de baixa nas bolsas

Publicado em 17/03/2011 07:59
As notícias sobre a crise nuclear no Japão deram o tom do pregão de quarta-feira. O comportamento dos mercados foi negativo, e o viés de baixa nas bolsas e de alta do dólar se acentuava conforme as notícias sobre o reatores da usina de Fukushima.

O dia contou com comentários do comissário de energia da União Europeia (UE) alertando sobre “eventos catastróficos” no Japão e com os Estados Unidos pedindo para os americanos no país asiático se afastarem ainda mais de Fukushima.

Na agenda econômica, a inflação ao produtor americano surpreendeu para cima ao avançar 1,6% em fevereiro. No lado da atividade, a construção de novas moradias caiu 22,5% no mês passado.

A crise no Oriente Médio e Norte da África, que ficou eclipsada pela catástrofe no Japão, voltou a ganhar mais espaço no noticiário, conforme se intensificaram os embates no Bahrein, país vizinho à Arábia Saudita. Isso teve influência na cotação do petróleo, que recuperou parte das perdas recentes para fechar a US$ 97,98 o barril de WTI, alta de 0,8%.

Ilustrando bem o grau de instabilidade ao longo do dia, o VIX, que mede a volatilidade das opções no mercado americano e é visto com um termômetro do medo do mercado, chegou a saltar 28% ao longo do dia, antes de fechar com alta de 20,9%, aos 29,4 pontos, maior leitura desde julho do ano passado.

No mercado local, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a cair 2% no intradia, mas diminuiu as perdas e conseguiu defender a linha dos 66 mil pontos. O Ibovespa terminou o dia com baixa de 1,50%, aos 66.002 pontos. O giro ficou em R$ 8,63 bilhões.

Para o operador da Icap Brasil, Carlos Augusto Nielebock, o pregão da quarta-feira repetiu o movimento de terça-feira, com os agentes apenas mais avisados dos problemas.

“O mercado opera em função do Japão, de olho no tamanho dos custos do problema e se vai haver uma contaminação em outros países mais para frente. O mercado nervoso gera um fluxo de venda grande e um pouco de zeragem de posições”, comentou.

Ele ainda ressaltou que o estrangeiro marcou posição na Bovespa, seja por meio da saída propriamente dita do mercado, ou via transferência de posições. Vale notar que esta modalidade de investidor reduziu sua posição “vendida” (com aposta na queda) sobre o Ibovespa futuro entre os dias 11 e 15.

Em Wall Street, os estragos foram maiores. O Dow Jones perdeu 2,04%, para 11.613 pontos. Já o S&P 500 e o Nasdaq, que caíram 1,95% e 1,89%, respectivamente, voltam a acumular perda em 2011. O S&P 500 deve 0,10% no ano e a bolsa eletrônica perde 1,4%.

No câmbio, o pregão foi de forte instabilidade. O dólar oscilou R$ 0,017 entre máxima e mínima, subindo a R$ 1,678 e caindo a R$ 1,661, antes de fechar negociado a R$ 1,674, valorização de 0,41% sobre o pregão de ontem. O giro estimado para o interbancário ficou em US$ 1,8 bilhão.

Na roda de pronto da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) o dólar pronto ganhou 0,28%, e fechou a R$ 1,671. O volume subiu de US$ 98 milhões para US$ 315 milhões.

Segundo o superintendente de tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta, o comportamento da moeda está relacionado à crescente instabilidade externa e à preocupação de que o governo brasileiro ainda possa tomar alguma medida cambial.

Pelo lado externo, os agentes estão rápidos do gatilho, acentuando ou reduzindo vendas conforme o noticiário sobre as usinas nucleares japonesas. Quanto maior a incerteza, maior a demanda por dólar.

No front doméstico, diz Trotta, um sinal claro de que o mercado teme novas medidas cambiais é o próprio fluxo cambial. O montante acumulado nos sete dias úteis de março soma US$ 7,429 bilhões, resultado maior do que todo o saldo de fevereiro, que foi positivo em US$ 7,419.

No ano até o dia 11 de março, o saldo é positivo em US$ 30,361 bilhões, montante 24% maior do que os US$ 24,354 bilhões registrados em 2010.

“Esse fluxo barbaramente positivo pode ser uma antecipação dos agentes com relação a alguma medida”, avalia o especialista.

O “lado positivo”, diz Trotta, é que esse excesso de nervosismo externo aliado a uma alta global do dólar pode ajudar a amenizar uma eventual medida que venha a ser tomada.

No mercado de juros, os vencimentos voltaram a apontar para baixo, mas fecham longe das mínimas do dia. Na visão do estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, ganha força a ideia de um quadro de viés recessivo na economia global em função dos desdobramentos do terremoto e tsunami que atingiram o Japão.

Dentro desse quadro, o crescimento é menor, a inflação é menor e, consequentemente, os juros são menores.

No lado doméstico, diz Nepomuceno, os dados de atividade são fortes, mas isso é válido “olhando pelo retrovisor”. Só que, no momento, não dá para olhar para trás, diz o especialista, tem que se priorizar a cena externa, que está cada vez mais incerta.

Segundo o estrategista, o problema não são os estragos causados pelo tsunami e terremoto. A questão está na crise nuclear, que além de todos os problemas que pode causar ao Japão, começa a levar outros países a questionar o uso dessa fonte de energia.

Segundo Nepomuceno, o questionamento da matriz energética nuclear soma mais incerteza sobre ao rumo da economia mundial, já que não há gás, petróleo e carvão em quantidade suficiente para permitir uma substituição.

Cabe lembrar que alguns países já indicaram que vão paralisar novos projetos e rever usinas nucleares existentes.

Para o estrategista, esse quadro mais pessimista não deve se confirmar, mas é isso que o mercado está vendo hoje.

Na agenda do dia, o Banco Central (BC) mostrou seu índice de atividade, visto como uma boa indicação do comportamento do Produto Interno Bruto (PIB). O IBC-Br registrou alta de 0,71% em janeiro, contra dezembro. Sobre janeiro de 2010 o avanço foi de 4,58%.

No lado da inflação, o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) subiu 0,84% agora em março, resultado em linha com o previsto e abaixo do 1,03% de fevereiro. Já o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), também calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), avançou 0,64%.

Antes do ajuste final de posições na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em abril apontava estabilidade a 11,65%. Julho de 2011 recuava 0,02 ponto, a 11,98%. E janeiro de 2012, o mais líquido do dia, apontava 12,31%, baixa de 0,02 ponto.

Ente os mais longos, janeiro de 2013 apontava estabilidade a 12,75%, mas chegou a cair a 12,68%. Janeiro de 2014 recuava 0,02 ponto, a 12,75%. Janeiro de 2015 também marcava queda de 0,02 ponto, a 12,73%. Janeiro de 2016 e janeiro de 2017 apontavam estabilidade 12,64% e 12,54%, respectivamente. Mas marcaram 12,68% e 12,48% nas mínimas.

Até as 16h10, foram negociados 1.010.038 contratos, equivalentes a R$ 88,95 bilhões (US$ 53,29 bilhões), queda de 8% sobre o registrado no pregão anterior. O vencimento janeiro de 2012 foi o mais negociado, com 297.093 contratos, equivalentes a R$ 27,08 bilhões (US$ 16,22 bilhões).

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Fonte:
Valor Online

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