"A lavoura não tem apoio", diz agricultor sobre mudanças no Código Florestal

Publicado em 05/04/2011 17:38
Grandes e pequenos proprietários de terra se uniram nesta terça-feira (5) para pedir a aprovação imediata do Código Florestal e criticaram o mesmo ponto: a possibilidade de aumento da área destinada para preservação, o que invadiria as áreas já destinadas para o plantio ou para a criação de animais. “Nós queremos sair daqui com uma data marcada para a votação do projeto”, gritavam os manifestantes, pouco antes da pausa do movimento para o almoço.

Os ruralistas apoiam o texto do deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que alterou a preservação da mata ciliar dos rios. O código atual prevê que o produtor mantenha 30 metros de mata ciliar nesses rios. Já o texto de Rebelo, primeiro propôs a redução para 15 metros, mas pode reduzir ainda mais a proposta para a área de proteção para 7,5 metros – o que vai gerar reação dos ambientalistas.

“A lavoura não tem apoio. Tudo que a gente vai fazer é contra lei. Estou fazendo meus filhos estudarem para fazer outra coisa da vida”, disse Valmor Boni, 44, que trabalha há 21 em uma fazenda de soja em Querência (MT), e tem três filhos. Boni viajou mais de 17h de ônibus fretado pelo sindicato para representar “ao patrão” na manifestação.

Assim como ele, o pequeno produtor Anísio Oliveira, 53, quis apoiar o movimento e ajudou a encher o ônibus que saiu às 14h de ontem de Ortigueira (PR) e chegou às 10h da manhã em Brasília.

“Não vai sobrar nada de terra para nós se fizerem o que estão pedindo. Vamos ter menos lugar ainda para plantar. A gente já reserva 20% do terreno para a mata e, agora, querem mais área além dessa”, afirmou Oliveira, que trabalha sozinho na sua fazenda com 25 cabeças de gado de corte e cerca de três alqueires de reflorestamento de eucalipto.

O médico e pecuarista Edison Derzi, 59, do Mato Grosso do Sul, também acredita que o aumento das áreas de proteção ambiental inviabiliza a produção rural.

“Fora dos 20% que a gente já preserva, estão querendo colocar a questão da APPs (áreas de proteção ambiental). Com isso, vão diminuir a área de produção. Não posso concordar que ONGs de outros países como Estados Unidos e da Europa, onde não tem mais área preservada, venham aqui e pressionem o nosso governo para aumentar uma área que atrapalha o produtor brasileiro. Preservar a Amazônia, sim, mas aumentar a área de preservação inviabiliza a vida do produtor do país”, disse Derzi, que tem 350 cabeças de gado em Ponta Porã.

Ainda hoje, os manifestantes se preparam para dar um abraço simbólico no Congresso. Eles esperam que a matéria saia logo da Câmara e seja aprovada em seguida no Senado. “Quando ela chegar ao Senado, vamos aprovar rapidamente”, prometeu o senador Waldemir Moka (PMDB-MS), em discurso num palco colocado em frente ao Congresso Nacional.

Movimento organizado

A Esplanada dos Ministérios da capital federal está desde o inicio da manhã tomada por mais de 15 mil trabalhadores e produtores rurais de todo país. A maioria veio por meio de caravanas de ônibus, financiadas pelos sindicatos da categoria.

O movimento no local está bastante organizado. O tráfego da via não foi alterado, não houve tumulto, até o momento, e a polícia militar aumentou o contingente que circula na região.

Há tendas que distribuem água, sucos, frutas e bolos aos manifestantes durante todo o dia. E o cardápio do almoço gratuito é arroz carreteiro. Quem quiser variar o menu pode recorrer aos ambulantes que rodeiam o canteiro central da Esplanda, oferecendo picolé, refrigerante e churrasquinho.

Reuniões no Congresso

Enquanto os manifestantes se protegiam da chuva e ouviam os discursos de deputados e senadores ruralistas, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS).

Na saída da reunião, a ministra admitiu a possibilidade de prorrogar a validade do decreto 6.514, de 2008, que vence em junho. Caso o decreto perca a validade, será necessário cumprir regras de averbação de terras.

O projeto de lei dispõe sobre normas gerais sobre a proteção da vegetação, estabelece limites para as áreas de Preservação Permanente e as áreas de Reserva Legal; define regras gerais sobre a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance desses objetivos.

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Fonte:
UOL Notícias

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