Bolsa e dólar ficaram descolados do sinal externo pós-Fed

Publicado em 28/04/2011 08:05
Enquanto as bolsas americanas testaram máximas não observadas em alguns anos e o dólar caiu ante o euro e outros rivais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perdeu mais de 1% e o dólar comercial apontou alta. Ou seja, os mercados brasileiros não foram “contaminados” pelo bom humor pós-decisão do Federal Reserve (Fed), banco central americano, e entrevista de seu presidente Ben Bernanke.

Entre as explicações para esse descolamento, temos a saída de capital estrangeiro e movimentos técnicos de correção. No entanto, segue a dúvida sobre qual será o rumo dos mercados brasileiros depois desse encontro do BC americano e suas possíveis implicações.

Em linhas gerais, Bernanke apontou que não haverá um novo programa de estímulo. O atual “Quantitative Easing 2” será encerrado em junho, cumprindo com seu objetivo de comprar US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro. Por outro lado, o Fed não deixará de injetar liquidez no mercado, apenas fará isso de forma mais moderada, utilizando o dinheiro que recebe com pagamento de dividendos e principais dos títulos que tem em carteira. Não é, de forma alguma, um movimento de restrição monetária.

Também ficou assegurado que o juro americano ficará entre zero e 0,25% ao ano por um “longo período de tempo”.

Bernanke e seus colegas de Fed parecem mais atentos à inflação, mas não veem o aumento de preços como uma ameaça. De fato, Bernanke repetiu que esse aumento da inflação é passageiro e muito relacionado ao comportamento do preço das commodities.

O BC americano ainda revisou para baixo a previsão de crescimento e aumento a de inflação. O PIB para 2011 deve cresce entre 3,1% e 3,3%, contra visão anterior de 3,4% e 3,9%. Já a inflação ao consumidor deve oscilar entre 2,1% e 2,8%, contra a previsão de janeiro de 1,3% a 1,7%. Mas o desemprego deve diminuir de 8,8% a 9% para 8,4% a 8,7%. Para 2012, o avanço da economista fica entre 3,5% e 4,2%, contra 3,5% a 4,4%, com inflação variando entre 1,4% e 2%, em comparação com 1% a 1,9%.

Em Wall Street, as bolsas firmaram alta após a decisão, que foi anunciada às 13h30, e as compras foram aumentando conforme Bernanke começou a falar à imprensa às 15h15. No fim da jornada, o Dow Jones apontava alta de 0,76%, a 12.690, maior fechando desde maio de 2008. O S&P 500 subiu 0,62%, para 1.355 pontos, patamar não registrado desde junho de 2008. E a bolsa eletrônica Nasdaq avançou 0,78%, a 2.869 pontos, pontuação que não era reservada desde dezembro do ano 2000.

No câmbio externo, o dólar chegou a ensaiar alta, mas os vendedores voltaram com força no decorrer da tarde. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, perdeu 0,78%, a 73,26 pontos, menor desde 2008. Já o euro subiu mais de 1%, para US$ 1,478, maior cotação desde o começo de 2010.

No mercado de commodities, o ouro voltou a fazer máxima história a US$ 1.524,20 a onça em Nova York. Já o barril do tipo WTI ganhou 0,5%, para US$ 112,76.

Bovespa
Ações ligadas a commodities e bancos, que têm forte peso na Bovespa, exerceram pressão negativa e o Ibovespa fechou com baixa de 1,31%, aos 66.264 pontos. O giro financeiro atingiu R$ 6,715 bilhões, após dois dias de fraco movimento. No mês, o índice ainda perde 3,4% e, no ano, 4,4%.

O analista de investimento da SLW Corretora Pedro Roberto Galdi observou que, no Brasil, o dia não contou com notícias negativas para explicar a baixa da Bovespa.

“Como o volume financeiro foi muito forte, deve ter havido uma pressão vendedora de capital estrangeiro. A queda de hoje [quarta-feira] vai chamar alta da bolsa amanhã [quinta-feira]”, afirmou Galdi, para quem o movimento do mercado brasileiro beirou a irracionalidade, em função da ausência de fundamentos.

Câmbio
Assim como na Bovespa, a formação de preço no câmbio local acabou descolada do sinal externo e o dólar fechou o dia em alta. A linha de R$ 1,55 foi testada e respeitada no pregão desta quarta-feira tanto pelo dólar comercial quanto pelo dólar futuro.

Entre as explicações estão fatores técnicos, como limites de baixa atingidos, e a percepção de investidores estrangeiros vendendo ações na Bolsa e comprando moeda americana.

No fim da jornada, o dólar comercial apontava alta de 0,44%, a R$ 1,571 na venda. Na mínima a divisa foi a R$ 1,559 e na máxima marcou R$ 1,574.

Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto encerrou a jornada alta de 0,42%, a R$ 1,5695. O giro caiu de US$ 36,5 milhões para US$ 18,25 milhões.

Também na BM&F, o dólar para maio, avançava 0,25%, a R$ 1,565, antes do ajuste final. Na mínima, o contrato foi a R$ 1,556.

Além dos fatores acima citados, o diretor de tesouraria do Banco Prosper, Jorge Knauer, enxergou outra fonte de pressão sobre o preço do dólar. É a persiste distorção de preço entre dólar pronto e futuro.

Faz semanas que o preço à vista está mais caro que o futuro, algo que contraria a lógica de mercado, pois o preço no futuro é formado pelo à vista mais um prêmio em decorrência do prazo do contrato.

Segundo Knauer, os bancos que tem acesso fácil a crédito externo podem se aproveitar dessa anomalia, ganhando a diferença entre pronto e futuro antes de fazer qualquer outra operação no mercado doméstico, como a arbitragem de juros.

Cabe lembrar que essa distorção também gera preços fora do normal nos mercados de cupom cambial (DDI – juro em dólares), onde as taxas sobem de forma acentuada.

Os agentes também aguardam alguma consulta do Banco Central (BC) sobre realização de swap cambial reverso (operação que equivale à compra de dólares no mercado à vista) visando rolar os contratos que vencem dia 2 de maio. Cabe lembrar que, no fim de março, o BC fez rolagem dos swaps que venceriam em abril.

Juros Futuros
Os contratos tiveram um pregão instável na terça-feira, mas a curva fechou o dia mostrando leve alta para os vencimentos curtos e nova queda nos contratos de longo prazo.

Segundo o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, o que se observa é o mercado passando a colocar no preço uma série de alta de 0,25 ponto percentual na Selic.

No formato atual, há duas altas de um quarto de ponto colocadas no preço e se percebe uma tentativa de se colocar uma terceira.

A queda nos longos decorre de tal movimento, já que o mercado passa a ver mais altas de juros, independentemente de sua intensidade. Também há a percepção de que os estrangeiros seguem doadores de dinheiro nesses vértices de prazo mais dilatado.

A curva pode confirmar tal formato ou passar por alteração dependendo do conteúdo da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que será apresentada agora pela manhã. O documento mostra as razões que levaram o BC a optar por reduzir o ritmo de alta de 0,5 ponto para 0,25 ponto percentual.

Antes do ajuste final de posições na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em maio apontava alta de 0,01 ponto percentual, a 11,91%. Junho de 2011 marcava estabilidade a 11,90%. Julho de 2011 apontava 11,98% também sem alteração. Outubro de 2011 avançava de 0,01 ponto, a 12,19%. E janeiro de 2012 apontava 12,31%, alta de 0,02 ponto.

Ente contratos os mais longos, janeiro de 2013, o mais líquido do dia, ainda mostrava alta de 0,02 ponto, a 12,69%. Mas janeiro de 2014 caía 0,04 ponto, a 12,71%, depois de subir a 12,80%. Janeiro de 2015 recuava 0,05 ponto, a 12,75%. Janeiro de 2016 também caía 0,05 ponto, a 12,69%. E janeiro de 2017 marcava 12,57%, baixa de 0,07 ponto.

Até as 16h10, foram negociados 909.711 contratos, equivalentes a R$ 77,92 bilhões (US$ 49,78 bilhões), queda de 30% sobre o registrado no pregão anterior. O vencimento janeiro de 2013 foi o mais negociado, com 325.180 contratos, equivalentes a R$ 26,59 bilhões (US$ 16,98 bilhões).

Fonte: Valor Econômico

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