Sob pressão, Palocci faz pronunciamento

Publicado em 03/06/2011 08:22
Sob intensa pressão do PT, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) prometeu ao partido dar explicação à opinião pública sobre seu rápido enriquecimento, mas até ontem não havia fixado a data e a forma - entrevista ou um pronunciamento sem direito a perguntas dos jornalistas. "Em data próxima", sinalizou o presidente do PT, Rui Falcão. O silêncio do ministro agravou a divisão interna petista, que ontem chegou ao plenário do Senado por meio de um discurso do senador Delcídio Amaral (PT-MS) com duras críticas ao "fogo amigo" que, segundo afirmou, em última instância atingem a presidente Dilma Rousseff.

A Casa Civil confirmou que o ministro vai se manifestar sobre as acusações, mas não tem ainda uma data específica. Não foi na quarta-feira, porque o ministro estava concluindo o documento com as informações adicionais solicitadas pela Procuradoria-Geral da República. Ontem, qualquer explicação concorreria com o lançamento do principal programa social de Dilma, o Brasil Sem Miséria. Pode ser hoje, segundo fonte credenciada, mas pode também ser na segunda-feira. O Valor apurou que Palocci gostaria de primeiro tomar conhecimento do noticiário dos jornais e revistas no fim de semana.

O ministro não quer ser surpreendido com o surgimento de novas denúncias, especialmente das revistas semanais. Falando na próxima semana, ele poderia abordar inclusive eventuais fatos novos. Teme-se no PT que Palocci tenha demorado tanto a se explicar que sua credibilidade já esteja abalada o bastante para não ser "ouvido" quando se manifestar. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff também teriam manifestado a Palocci que é hora de o ministro falar - eles já teriam feito o que podiam em sua defesa, segundo fontes petistas. A expectativa no PT, no governo e no Congresso é que a "crise Palocci" está próxima de um desfecho.

O Palácio do Planalto aguardava por uma decisão rápida do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, esperada para ontem, isentando o ministro de enriquecimento ilícito - o patrimônio de Palocci cresceu 20 vezes em apenas quatro anos; nesse período, uma empresa do ministro faturou R$ 20 milhões, sendo que a metade em seu último ano de mandato como deputado federal, que acumulou com a chefia do comitê de campanha de Dilma. Gurgel disse ontem que nunca mencionou uma data e que ainda está estudando as explicações dadas por Palocci.

Com reunião marcada para ontem, a executiva nacional do PT evitou tratar oficialmente do assunto. Havia a expectativa de aliados de Palocci que o partido o socorresse com uma nota de apoio. O assunto foi formalmente evitado para não agravar ainda mais o racha interno - havia integrantes da executiva também dispostos a pedir a demissão de Palocci ou convidá-lo para dar explicações ao partido. Com a reunião em andamento, o presidente do PT, Rui Falcão, foi ao Palácio do Planalto para a solenidade de lançamento do programa de combate à miséria. Lá, ouviu a promessa de Palocci de falar em breve sobre as acusações.

"Considero que o ministro Palocci e agiu dentro da legalidade, com a lisura que lhe é peculiar", disse Falcão no fim da tarde, no encerramento da reunião. "Sua honestidade não está em questão nesse momento", acrescentou. Segundo Rui Falcão, "o governo está tratando deste assunto corretamente" e o PT não achou necessário entrar o mérito da questão, por enquanto.

Enquanto isso, a extensão da crise - e do drama petista - se manifestava no plenário do Senado. Pouco depois de o senador Pedro Simon (PMDB-RS) subir à tribuna para pedir o afastamento do ministro Antonio Palocci da Casa Civil, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) fez um pronunciamento criticando a conduta de integrantes da base governista que tentam "desestabilizar" Palocci, pondo em risco o governo Dilma Rousseff. Disse que a crise é "individual", mas, "se não for bem administrada, pode se estender".

O recado de Delcídio, no entanto, não era para Simon. Ele não apontou, mas o pronunciamento era dirigido a petistas que supostamente trabalham para enfraquecer Palocci, numa articulação para substituí-lo no cargo. "Como é que pode a gente receber tiro de quartel para entender? Será que a gente não tem o bom senso e a racionalidade para entender que isso afeta o nosso governo, que isso afeta a presidenta Dilma?", perguntou.

Um grupo de petistas mais ligados à presidente está preocupada com a movimentação de políticos do partido disputando a Casa Civil. O receio é que, enquanto o PT enfraquece o ministro, o PMDB "abrace" Palocci e aumente seu poder no governo.

De fato, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), foi à tribuna rebater Simon, deixando claro que a posição do gaúcho não tinha respaldo do partido. Simon defendeu que Palocci afaste-se do cargo antes de o procurador geral da República, Roberto Gurgel, se manifestar sobre as explicações dadas por ele sobre a evolução patrimonial.

"Afaste-se do cargo antes da manifestação do procurador, para [o afastamento] não ser em consequência. Afaste-se antes de se criar uma CPI. Já está ficando feio para o PT e o PMDB impedir que vossa excelência venha depor no plenário ou numa comissão", disse.

"A história hoje deixa para o ministro Palocci a possibilidade de sair temporariamente com dignidade. O futuro vai dizer o que vai acontecer. É o mínimo que ele deve à presidente da República", afirmou.

Mais tarde, foi a vez do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), subir à tribuna para defender Palocci. "O PMDB não vai participar de nenhuma conspiração para fragilizar o ministro Palocci, nem para expor o governo que está apenas começando", disse.

No seu discurso, Delcídio afirmou que Palocci apresentou as explicações e agora cabe ao procurador se manifestar. Quanto ao cargo de chefe da Casa Civil, disse ser da absoluta confiança da presidente e cabe somente a ela decidir.

"Não podemos desestabilizar o chefe da Casa Civil. Não pode ter tiro de quartel, por uma razão simples: Casa Civil, presidência da Petrobras e Ministério da Fazenda são cargos de proximidade absoluta do presidente. Quem vai fazer juízo da situação é ela. Tem um fato individual, mas há uma sensação de que o Brasil está em crise. E o Brasil está andando. Eu não posso, em função de buscar espaço que pode vagar com a saída dele, prejudicar o governo. O que quero é deixem a Dilma trabalhar."

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Fonte:
Valor Online

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