Grécia e EUA derrubaram bolsas ontem e deram força do dólar
O resultado foi uma forte saída de bolsas e commodities e aumento na demanda por dólar e títulos dos Estados Unidos. Essa corrida aos ativos americanos denota busca por liquidez e não por qualidade, já que os fundamentos econômicos dos EUA estão fragilizados.
Por aqui, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) renovou mínima não vista desde julho do ano passado e o dólar subiu a R$ 1,60. No mercado de juros, os prêmios apontaram para baixo.
Em Wall Street, o Dow Jones fechou com baixa de 1,48%, voltando a perder os 12 mil pontos. O S&P 500 cedeu 1,74%, a 1.265 pontos. E a bolsa eletrônica Nasdaq declinou 1,76%, a 2.631 pontos.
Entre as commodities, o barril de petróleo do tipo WTI afundou 4,6%, para US$ 94,81. O índice CRB caiu 2,31%, a 338,96 pontos. Do pico de 370 pontos registrado em 29 de abril, o índice já perdeu 8,39%.
Bovespa
Ainda que com queda menos expressiva que a de Wall Street, o Ibovespa voltou para o nível dos 61 mil pontos e definiu novo piso para este ano. A maior parte das ações recuou na jornada, mas a baixa foi limitada pelo desempenho positivo de alguns bancos e de papéis de empresas elétricas, considerados defensivos.
O Ibovespa terminou com queda de 0,97%, aos 61.603 pontos. Menor patamar desde 5 de julho de 2010, quando marcou 60.865 pontos. O giro financeiro ficou em R$ 8,084 bilhões, inflado em parte pelo vencimento do contrato futuro do Ibovespa e de opções sobre o índice, que girou R$ 4,25 bilhões. Agora em junho, o Ibovespa já caiu 4,7% e, em 2011, recua 11,1%.
Na avaliação do operador da Um Investimentos Eduardo Oliveira, a desaceleração da atividade nos EUA tende a afetar com maior força o próprio mercado americano que o brasileiro. Dada a elevada baixa do ano, o espaço para novas perdas do Ibovespa é menor que o de Wall Streeet.
Para Oliveira, a trajetória da Bovespa segue mais atrelada às notícias vindas dos países emergentes e da China. A opinião é compartilhada pelo diretor de investimento da Victoire Brasil Investimentos, Mohamed Mourabet, para quem as questões da Grécia são secundárias ao mercado brasileiro.
“Se o país entrar num processo de default com ou sem a participação do setor privado pode até ser um alívio em termos de mercados. Está sendo formada uma necessidade de austeridade para os próximos dez anos que é impossível de ser vivenciada”, destacou.
Câmbio
O dólar comercial retomou a linha de R$ 1,60 pela primeira vez desde o fim de maio. A demanda por moeda cresceu conforme piorou o humor externo onde Grécia e EUA tiveram no foco dos investidores.
No fim da jornada, a moeda americana apresentava apreciação de 1,13%, maior ganho diário desde 5 de maio, negociada a R$ 1,600, maior cotação desde o dia 27 do mês passado. Na máxima, a cotação foi a R$ 1,607.
Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o dólar pronto avançou 1,17% e também fechou a R$ 1,60. O giro caiu de US$ 256 milhões para US$ 183,5 milhões.
No mercado futuro, o dólar para julho registrava valorização de 1,03%, a R$ 1,6065, antes do ajuste final.
No câmbio externo, o ajuste de preço foi mais acentuado. O euro caiu mais de 1,8%, voltando à linha de US$ 1,417. No começo do mês, a divisa chegou a US$ 1,47.
O dólar é demandado por representar liquidez ao investidor, já que, pelo lado dos fundamentos, a compra não seria recomendada. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, subiu 1,61%, a 75,53 pontos, patamar não registrado desde o fim de maio.
Dando cara à aversão ao risco, o VIX, que mede a volatilidade das opções na bolsa americana e é visto com um termômetro do medo do mercado, saltou 16,76%, a 21,32 pontos, maior leitura desde meados de março. O ponto máximo do VIX em 2011 foi visto em março, aos 30 pontos, em meio ao terremoto do Japão e da invasão militar da Líbia.
Para alguns agentes de mercado, os espasmos de alta no preço do dólar com relação ao real fazem parte do jogo, mas não mudam a tendência principal da moeda que continua sendo de baixa.
Esses agentes se apoiam no fato de que o dólar continua sendo uma moeda sobre ofertada e que seu emissor, os EUA, não apresentam sólida condição econômica. Então, passado os momentos de maior incerteza, o investidor voltaria a buscar rendimento por aqui.
Outra boa indicação de que não se vê uma disparada no dólar é o tamanho da posição vendida do estrangeiro no mercado futuro. O tamanho da “aposta” no real atingiu novo recorde, ontem, a US$ 20,515 bilhões.
Juros futuros
O mercado de juros futuros devolveu parte do ajuste de alta registrado ontem. O que explica a queda nos prêmios de risco é a forte piora de humor externo que pauta o dia, tirando valor das commodities e piorando as perspectivas de crescimento. Dois fatores que resultam em menor pressão inflacionária.
Segundo o vice-presidente de tesouraria do Banco WestLB, Ures Folchini, o tom negativo do dia foi ditado pela falta de acordo quanto a um resgate para a Grécia aliado a dados ruins sobre a atividade nos Estados Unidos.
No entanto, diz Folchini, a queda nos prêmios de risco por aqui foi bem menos acentuada do que a observada em outros mercados, ou seja, precisaria de mais incentivo para os agentes seguirem ampliando a posição vendida.
Os investidores também operaram no aguardo da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que sai nesta manhã de quinta-feira. Segundo o tesoureiro, se o documento trouxer alguma surpresa, será no sentido de um ciclo mais curto de alta de juros.
Apesar do termo “suficientemente prolongado” utilizado pelo Copom no seu último comunicado suscitar a ideia de novas elevações na Selic, Folchini avalia que há dúvida se o BC está falando desde o começo do ciclo ou se tal visão passou a valer apenas depois da reunião de abril, quando o termo surgiu na comunicação oficial da autoridade monetária.
De volta ao quadro externo, Folchini aponta que boa parte do mau humor da quarta é reflexo do tom positivo da terça-feira, quando dados bons nos EUA e China trouxeram certa euforia em alguns mercados.
Segundo Folchini, a sensação é que os agentes estão tentando adivinhar o fundo do poço, só que as tentativas não dão certo e eles vão se iludindo. Então, o ajuste de baixa, após a tentativa de alta, é ainda mais forte.
Antes do ajuste final de posições na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em julho de 2011 apontava baixa de 0,01 ponto percentual, a 12,11%. Outubro de 2011, o mais líquido do dia, também marcava baixa de 0,01 ponto, a 12,30%. E janeiro de 2012 diminuía 0,02 ponto, a 12,38%.
Entre os contratos mais longos, janeiro de 2013 mostrava queda de 0,03 ponto, a 12,44%. Janeiro de 2014 perdia, também, 0,03 ponto, a 12,35%. Janeiro de 2015 diminuía 0,03 ponto, a 12,33%. Janeiro de 2016 projetava 12,26%, baixa de 0,03 ponto. E janeiro de 2017 valia 12,15%, decréscimo de 0,04 ponto.
Até as 16h10, foram negociados 1.649. 237 contratos, equivalentes a R$ 152,26 bilhões (US$ 96,23 bilhões), o dobro do registrado no pregão anterior. O vencimento outubro de 2011 foi o mais negociado, com 722.370 contratos, equivalentes a R$ 69,75 bilhões (US$ 44,08 bilhões).