Grécia enfrenta greve geral, à frente de votação no Parlamento

Publicado em 28/06/2011 09:23
A Grécia enfrenta greve geral de 48 horas contra as medidas de austeridade e privatizações, à frente da votação no Parlamento do programa fiscal do país.

A manifestação, convocada pelas duas principais federações da Grécia - a GSEE e Adedy, que representam os setores privado e público, respectivamente - deve paralisar os serviços públicos e os transportes. Os bancos também vão fechar as portas e os hospitais devem ter apenas atendimento para emergências.

A votação no Parlamento grego é importante para a Grécia receber uma parcela de 12 bilhões de euros do resgate financeiro acertado no ano passado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Economistas recomendam calote à argentina para crise grega

Economistas da Argentina, país que viveu uma crise crônica em 2001, estão recomendando à Grécia que adote o modelo de Buenos Aires e declare um default (calote) da dívida do país para evitar o "caos social". Em dezembro de 2001, o governo argentino decidiu suspender pagamento de uma dívida de US$ 132 bilhões - o maior calote da história - e permitiram a flutuação de sua moeda, o peso, que até então estava atrelado ao dólar.

A Argentina amargou uma retração de 11% em 2002, mas a partir daí sua economia entrou em rota acelerada de recuperação. O endividamento da Grécia já atingiu quase 150% do PIB (Produto Interno Bruto). O país deve aprovar, nesta semana, mais cortes de gastos e aumento nos impostos enquanto negocia um segundo pacote de ajuda, que pode chegar a 120 bilhões de euros (cerca de R$ 271,4 bilhões), com a União Europeia.

O economista argentino Orlando Ferreres, da consultoria Ferreres e Associados, disse à BBC Brasil que "a dívida grega deveria ser reestruturada com um desconto similar ao da Argentina, que a leve para 60% do seu PIB, nível que jamais deveria ter passado, segundo as normas da União Europeia".

O ex-presidente do Banco Central da Argentina, Alfonso Prat-Gay, defendeu que os "credores paguem um preço" e, como ocorreu na Argentina, "a dívida grega seja aliviada". Assim como Ferreres, ele defende que a Grécia se organize para evitar um "default traumático". A Argentina ofereceu aos credores um pacote de reestruturação da dívida em que estes tiveram que amargar uma perda de entre 70% e 75% do valor investido.

Hoje deputado federal, Prat-Gay recomenda ao governo grego emitir novos títulos públicos substituindo os atuais, deixando claro que só pagará em cinco anos, para que a Grécia "coloque sua economia em ordem". "O desconto (para pagamento da dívida) seria maior do que o que conseguiu a Argentina. Se evitaria um caos social", afirma Prat-Gay.

Segundo os economistas, após a acomodação a Grécia poderia voltar a crescer - como ocorreu com a Argentina a partir de 2003, com taxas de expansão de 9% anuais, favorecida pelo crescimento internacional.

Fracasso

O ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, criticou as medidas adotadas pelo FMI em relação à Grécia. Ele também defende um default organizado. No seu site, Lavagna lembra que a Argentina enfrentou a pior crise da sua história após uma longa recessão, que derrubou o então presidente Fernando de la Rua. "Houve caos nas ruas, mais de trinta mortos e um default (calote) desorganizado, um grande vazio político (quatro presidentes em poucos dias), uma desvalorização (em janeiro de 2002) que gerou inflação", afirmou Lavagna.

O PIB argentino despencou 20% e o desemprego e a pobreza bateram recordes, recordou. Para ele, "os governantes argentinos e o FMI fracassaram" e agora estão tentando impor "aos gregos" a mesma receita que fracassou na Argentina - a de ajustes. "Na Grécia, é possível uma reestruturação organizada da dívida atual", disse.

Crítica

As comparações entre os dois países têm sido quase diárias. Na sexta-feira, o editor geral do jornal Clarin, Ricardo Kirschbaum, apontou ressalvas para a ideia de que a Grécia seguisse a fórmula argentina, defendida em artigo do Premio Nobel de economia, Paul Krugman, em texto no New York Times. Segundo Kirschbaum, depois do "desastre" a Argentina encontrou um caminho que "estimulou a recuperação da economia, empurrada por uma nova situação internacional e o preço excepcional das matérias primas", como a soja e a carne.

Mas ele destacou que a Grécia não é a Argentina, porque está na zona do euro e conta com respaldo financeiro da União Europeia para sair da atual situação.

Já o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social da Argentina (Idesa), criticou o "calote à la Argentina". Por meio de um comunicado, o Idesa lembrou que salários e aposentadorias despencaram mais de 30%, depois do default e da desvalorização do peso. O instituto diz que "seria um exagero esperar que o default seja transformado imediatamente em recuperação econômica".

Diferenças

A economista Marina Dal Poggetto, da consultoria Bein y Asociados, e o economista Abel Viglione, da FIEL consultores, disseram à BBC Brasil que a diferença básica entre a Grécia de 2011 e a Argentina de 2001 é que a Grécia "tem crédito" da União Europeia e a Argentina não tinha a quem recorrer.

Marina disse que o Fundo decidiu não socorrer a Argentina, os capitais deixaram o país por falta de confiança e a sangria acabou no default "desorganizado" e "traumático". Para ela, a Grécia de hoje e a Argentina de então têm o mesmo problema: contas para pagar além do que o caixa permite. Apesar de "Grécia contar com ajuda externa para sair do sufoco", Marina diz que os gregos estão numa "armadilha ainda pior".

Antes de cair no default, a Argentina tinha sua moeda atrelada ao dólar, o que permitiu ao país desvalorizar o peso, diminuindo a pressão sobre a economia. Já a Grécia faz parte da zona do euro, o que deixa o país sem margem de manobra para medidas de política monetária, que só podem ser tomadas pelo Banco Central Europeu.

Fonte: Valor Online + BBC Brasil

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