Brics: China busca abordagem agrícola comum
Na semana passada, nas negociações técnicas do G-20 agrícola, em Paris, China e Rússia enfrentaram o Brasil querendo, na prática, que a política brasileira de etanol fosse sujeita à segurança alimentar global. Os chineses reclamaram que a produção de biocombustíveis era uma das causas da alta dos alimentos e afetava sua segurança.
Em Roma, na conferência ministerial da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), o ministro chinês da agricultura, Changfu Han, usou um tom bem diferente daquele de seus negociadores em Paris.
Ao se encontrar em Roma com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o chinês destacou o compromisso dos Brics e de estar ao lado do Brasil para formar uma abordagem comum na agricultura. Disse que Pequim vai organizar uma grande conferência agrícola com vários países em novembro, e conta com a participação brasileira.
Ele repetiu a mensagem ao futuro diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva. Prometeu apoio ao brasileiro, mas avisou que o maior compromisso que Pequim pode assumir no combate à fome no mundo é cuidar de mais de 1 bilhão de chineses. "Eu disse que está ótimo, é um 1 bilhão a menos para me preocupar", afirmou Graziano.
As diferenças de visão e interesse na agricultura nos Brics, em todo caso, são evidentes. O Brasil é o grande exportador e quer mercado livre. China, Rússia, Índia freiam a entrada de produtos estrangeiros. Mas uma busca de entendimentos poderá evitar a persistência de barreiras contra produtos brasileiros, mesmo se a abertura for limitada por cotas.
No G-20 agrícola, a Índia chegou a ficar contra o envio pelo grupo de uma recomendação à Organização Mundial do Comércio (OMC), para que os países se comprometam em não mais restringir exportações de alimentos para operações humanitárias, ou seja, para atender aos pobres em situação crítica.