Valor Online: Convidado, Blairo tende a rejeitar Transportes

Publicado em 08/07/2011 09:37 e atualizado em 08/07/2011 11:23
O senador Blairo Maggi (PR-MT) recusou o convite da presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério dos Transportes no lugar do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM). Nascimento foi demitido por Dilma após denúncias de suposto superfaturamento e cobranças de propina em obras vinculadas aos Transportes.

Recém-chegado ao Senado, Maggi explicou à presidente, segundo apurou o Valor, que não teria "carta branca" do próprio partido, o PR, para mexer nos principais cargos do ministério e de seus órgãos vinculados, sobretudo no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Pressionado pelo partido a aceitar o posto para manter a influência do PR na cobiçada Pasta, Maggi repetiu que não deseja assumir o comando do ministério. Pediu, entretanto, um prazo até segunda-feira para responder definitivamente. Maggi não quer dar a impressão de não fazer o jogo da cúpula do partido, que tenta emplacar um nome no cargo. Em Cuiabá (MT) desde a tarde de ontem, o senador reunirá argumentos jurídicos contra sua transposição do Legislativo para o Executivo. A amigos, disse que não prejudicará "jamais" o grupo empresarial fundado por seu pai, André Maggi. Essa mudança para o ministério aumentaria as restrições e proibições de relacionamentos de suas empresas com bancos públicos federais, como BNDES e Banco do Brasil. "Tenho que pesar isso. Não vou prejudicar minhas empresas em hipótese nenhuma", afirmou a amigos. Por isso, manterá a recusa ao cargo, algo já informado aos ministros palacianos Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais).

O roteiro do acordo de Maggi com a cúpula do partido prevê a apresentação, na quarta-feira, de uma lista com "três ou quatro nomes" à presidente Dilma. Próximo do ex-presidente Lula, e financiador da campanha de Dilma, Maggi é apontado como o melhor nome para unir as alas em conflito no PR. Embora filiado ao partido, o ministro interino Paulo Sérgio Passos é identificado como "um técnico mais obediente ao Palácio do Planalto", e não como um político com "jogo de cintura" necessário para abrigar a confederação de interesses do partido.

Na prática, o PR é hoje controlado pelo secretário-geral, o deputado Valdemar Costa Neto (SP), principal acusado nas denúncias publicadas pela "Veja". A revista informou que o deputado operava um esquema de cobrança de 4% de "pedágio" sobre o valor das obras do ministério, além de controlar a ação do Ministério dos Transportes. Para assumir, Maggi teria que enfrentar os aliados de Costa Neto no PR, o que poderia significar até mesmo um rompimento do partido com a presidente Dilma no Congresso. Contrariado com sinais de redução de seu poder de influência nos Transportes, Costa Neto tem dado recados de que pode levar seu grupo, maioria no partido, à oposição ao governo Dilma. "O ministro não pode ser tutelado, tem que ter autonomia. E a cúpula tem que mudar de posição", afirmou o deputado Homero Pereiro (PR-MT), antigo colaborador de Maggi no Estado.

A recusa de Blairo Maggi tem outros componentes. Ele avalia, segundo interlocutores, que assumir o ministério sepultaria a reabilitação de seu dileto amigo e braço-direito, o diretor-geral licenciado do Dnit, Luiz Antônio Pagot. Aceitar a "compensação" de cargos está fora dos planos. Maggi quer "limpar" o nome de Pagot ao desvincular o auxiliar das denúncias contra a "turma" de Alfredo Nascimento. Por isso, Pagot vai ao Senado e à Câmara afirmar que "não deve e não teme" nenhuma investigação no Dnit. Mesmo que não reassuma o posto, Pagot quer um "atestado de boa conduta". Primeiro, para não prejudicar Maggi. Depois, para manter-se em condições de coordenar as eleições nos 142 municípios de Mato Grosso em 2012, e até mesmo disputar o governo estadual em 2014.

No Palácio do Planalto, informa-se que a presidente Dilma Rousseff gostaria que o interino Paulo Passos continuasse à frente dos Transportes. A ministra Ideli Salvatti disse ontem que Alfredo Nascimento participará da escolha do futuro ministro. E que a decisão deve sair rápido. "Eu acredito que não há, da parte da presidenta, nenhuma situação que coloque o ministro Nascimento sem condições de fazer sugestões, indicações, dar opinião, inclusive como presidente do partido. Agora, a decisão é dela", disse Ideli Salvatti.

Ex-líder do PR na Câmara, o deputado Luciano Castro (RR) afirmou que ainda não existe nenhuma indicação unânime. "Alguns nomes estão sendo discutidos e o dele [Maggi] está no meio", disse Castro. Maggi é, segundo ele, um nome "de grande referência" e o partido se consideraria satisfeito com sua indicação. "Temos que ver, antes de tudo, se é interesse dele assumir ou não", disse.

O Palácio do Planalto confirmou ter feito uma "sondagem" a Maggi. O ministro Gilberto Carvalho telefonou ao senador para saber de seu interesse pelo cargo. Blairo teria dito o primeiro "não", ou seja, que só aceitaria com "apoio total" do PR, e a união do partido é algo impossível. A presidente Dilma aguardará a lista de nomes do PR. Enquanto isso, tentará "sentir" a aceitação a Paulo Passos, seu preferido, dentro do partido aliado.

As investigações sobre as denúncias no Ministério dos Transportes continuaram a mobilizar o governo. Uma portaria, publicada ontem no Diário Oficial da União, oficializou a indicação do ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, para formar uma equipe que fará uma auditoria completa nas licitações, contratos e execução de obras a cargo do DNIT e da Valec, ambos citados como centros das denúncias de irregularidades na "Veja". Foram designados oito servidores da CGU. Eles terão prazo até o fim de agosto para apresentar um relatório sobre o escândalo.

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Fonte:
Valor Econômico

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