Depressão e euforia desenham “mercado de crise”

Publicado em 10/08/2011 09:28
Em desenho clássico de “mercado de crise”, a terça-feira terminou com forte alta nas bolsas, apenas um dia depois do pior pregão desde o auge da crise de 2008.

Oscilações assim mantêm o clima de tensão no mercado. Sabe-se que, quanto maior a volatilidade, mais elevada a chance de movimentos bruscos, sejam de alta ou de baixa. Conforme a amplitude das variações diminui, mais próximo estaria o mercado de assentar alguma tendência.

Na terça-feira, o evento do dia foi a reunião do Federal Reserve (Fed), banco central americano, que não anunciou novas medidas de estímulo à economia. O comunicado mostrou, no entanto, que os membros do Fed avaliaram as ferramentas disponíveis para promover uma recuperação mais forte dentro de um contexto de maior estabilidade de preços.

Outra novidade foi a indicação de que a taxa de juros deve permanecer baixa até meados de 2013. Até então, o Fed não dava indicação de prazo para isso.

Dos dez membros, três votaram contra, justamente por desaprovar essa indicação de prazo sobre os juros baixos.

Como não poderia ser diferente, a avaliação sobre a atividade econômica piorou muito. Segundo o Fed, o crescimento no ano está se mostrando consideravelmente menor do que o previsto pela própria autoridade monetária.

O BC também mudou a avaliação de que o segundo semestre poderia ser de crescimento mais firme. A visão agora é de avanço ainda mais modesto, com a taxa de desemprego recuando apenas gradualmente. “Além disso, os riscos de baixa para a atividade econômica aumentaram”, escreveu o Fed.

Sobre a inflação, a visão é de que os preços ficarão em linha (ou até abaixo) do considerado consistente com o mandato duplo do Fed de emprego máximo e estabilidade de preços.

Nos mercados, a primeira reação ao Fed foi de melhora. Depois, o pessimismo se instalou, derrubando as bolsas americanas, mas isso não durou muito. O movimento final foi de firme alta nas bolsas de valores, queda no preço do dólar e recuperação no after-market do mercado de petróleo.

Em Wall Street, o Dow Jones chegou a cair 1,9% depois da decisão do Fed, que saiu por volta das 15h15 (horário de Brasília), mas encerrou a jornada com valorização de 3,98%, aos 11.239 pontos. O S&P 500 garantiu alta de 4,74%, a 1.172 pontos, enquanto a bolsa eletrônica Nasdaq subiu 5,29%, a 2.482 pontos.

No mercado de câmbio, chama atenção a derrocada do dólar, que subia firme desde o começo do dia, principalmente ante as moedas emergentes. O Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, recuava cerca de 0,27% antes do Fed, mas encerrou com queda de mais de 1%. O euro, por sua vez, acentuou alta, saindo de 0,45%  para mais de 1% e retomando a linha de US$ 1,43.

O VIX, que mede a volatilidade das opções na bolsa americana e é visto com um termômetro do medo do mercado, tombou 27%, para 35,06 pontos, depois de uma disparada de 50%, maior salto diário desde 2007, na segunda-feira.

Entre as matérias-primas, o barril de WTI caiu 2,5%, para US$ 79,30, mas no after-market apontava alta superior a 3% em Nova York. Os negócios com a commodity no pregão regular encerraram antes da reação positiva do mercado.

Bovespa

Depois de perder mais de 8% na abertura da semana, quando o Ibovespa voltou para a casa dos 48 mil pontos, o mercado acionário brasileiro teve o melhor pregão desde outubro de 2009.

Em busca de pechinchas, investidores foram às compras aqui e em Wall Street. Um rali de alta imperou, mas a insegurança do investidor não se dissipou. Com a falta de uma ação definitiva por parte do Fed, sem uma nova edição do chamado "quantitative easing", o medo da recessão naturalmente não desapareceu. Apenas foi deixado de lado.

A volatilidade acentuada das bolsas deixa claro que o investidor continua confuso e de olho em operações mais voltadas ao curto prazo. Apesar da busca por um reequilíbrio dos mercados, ainda não se sabe se as bolsas chegaram ao fundo do poço.

Na terça-feira, contudo, os compradores fizeram sua parte. O Ibovespa fechou na máxima do dia, ao avançar 5,10%, a 51.150 pontos. Este foi o melhor pregão desde 29 de outubro de 2009.

O giro financeiro desta terça-feira atingiu o expressivo valor de R$ 10,338 bilhões, com 1.092.368 negócios, novo recorde histórico, que supera do da segunda-feira. Em agosto, o Ibovespa ainda cai 13% e, no ano, perde 26,2%.

Para o estrategista-chefe do Crédit Agricole, Vladimir Caramaschi, a reação inicial do mercado foi de certa decepção e de incertezas.

“Havia a expectativa de que o Fed pudesse anunciar algo prático. Mesmo que não fosse o programa de recompras, que sinalizasse com uma mudança em seu portfólio. Além disso, gerou desconfiança o fato de terem sido constatados três votos contra, já que esta oposição pode impedir ou postergar alguma ação do Fed, na visão dos mais pessimistas”, destacou. O estrategista aponta que a volatilidade só ganha força nos mercados.

O analista de investimento da SLW Corretora, Pedro Roberto Galdi, compartilha desta avaliação. “Vamos continuar convivendo com o mau humor e com uma volatilidade acentuada.”

Mesmo que a indicação de juros baixos nos EUA possa favorecer a migração para ativos de maior risco, o que incluiria o Brasil, o mercado avalia que a Bolsa segue sem atratividade diante da renda fixa.

Câmbio

O pregão no mercado de câmbio mostrou uma variação de preço bastante acentuada e volumes expressivos no mercado futuro.

Começando pelo mercado à vista, o dólar comercial encerrou com alta de 0,99%, a R$ 1,626 na venda. Tal valorização estava contratada desde a noite de segunda-feira, pois a cotação havia se descolado dos preços futuros, que mostraram forte alta no fim do primeiro pregão da semana.

O mesmo vale para o mercado de dólar pronto da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), onde a moeda ganhou 1,06%, para R$ 1,625. O volume caiu de US$ 218,15 milhões na segunda-feira para US$ 160 milhões.

O dólar futuro, por sua vez, apontava queda de 2,19%, a R$ 1,6025, antes do ajuste final de posições. Esse contrato subiu mais de 3% no fim da segunda-feira e caiu 0,67% no começo do pregão de ontem. Depois, por volta das 12h30, passou um repique de alta de 1,98%, quando marcou a máxima do dia, a R$ 1,671.

Toda essa oscilação de preço foi acompanhada de elevado volume de negócios. Foram mais de 692 mil contratos.

Mantendo o foco no mercado futuro, esse acentuado movimento de venda tomou forma depois da decisão do Fed.

No câmbio externo, outras moedas emergentes como peso mexicano, dólar australiano e rand sul-africano também se recuperaram ante a moeda americana e passaram a subir com força.

Segundo um estrategista, o que o Fed fez ao falar que o juro vai ficar próximo de zero até meados de 2013 foi abrir espaço para que os investidores tomem dinheiro barato nos Estados Unidos e possam arbitrar moedas, bolsas e outros ativos de risco ao redor do mundo.

Mas isso não é garantia de “solução” para o atual ambiente de crise. Esse especialista acredita que a volatilidade nos preços seguirá bastante elevada.

Juros Futuros

Depois de uma tentativa de recomposição de prêmios, os contratos de juros futuros voltaram a apontar para baixo na BM&F, reforçando a sugestão de que o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará a taxa básica de juros ainda em 2011. De fato, a probabilidade de uma redução da Selic no encontro de 31 de agosto já está em 50%.

A inversão nos prêmios de risco começou no meio da tarde, acompanhando um movimento mais amplo de realização de lucros conforme os agentes esperavam a decisão do Fed.

Os juros externos também diminuíram o movimento de ajuste de alta, assim como as bolsas e o mercado de commodities. Após a esperada decisão do BC americano, o movimento de baixa de juros se acentuou, tanto aqui quanto no mercado externo.

De volta ao mercado local, a inversão da estrutura a termo de taxa de juros aconteceu na semana passada e foi se acentuando conforme cresceu a expectativa de nova recessão nos Estados Unidos menor crescimento mundial.

Mas os juros no Brasil demoraram a reagir à degradação de ambiente externo. Por vezes, o mercado parecia operar acreditando que o Brasil seria uma ilha, que não seria afetado pela piora de ambiente global.

Antes do ajuste final de posições na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em outubro de 2011 apontava alta de 0,02 ponto percentual, a 12,33%. Novembro de 2011 ganhava 0,01 ponto, a 12,28%. E janeiro de 2012 projetava 12,23%, baixa de 0,04 ponto.

Entre os contratos mais longos, janeiro de 2013, o mais líquido do dia, apontava baixa de 0,16 ponto, a 11,83%, menor taxa desde novembro do ano passado. Janeiro de 2014 registrava queda de 0,15 ponto, a 11,88%. Janeiro de 2015 tinha desvalorização de 0,10 ponto, a 11,97%. Janeiro de 2016 caía 0,12 ponto, a 11,95%. E janeiro de 2017 projetava 11,94%, queda de 0,13 ponto.

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Fonte:
Valor Econômico

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