Surpresa com Copom desencadeia onda de revisões para rumo da Selic

Publicado em 02/09/2011 09:28 e atualizado em 02/09/2011 09:58
Decisão extrema, reação extrema. Os economistas, que em bloco projetavam a manutenção da Selic em 12,50% em agosto, estão correndo para as revisões. Concordando ou não com o cenário mais grave apontado pelo Banco Central (BC), todos se renderam à realidade da autoridade monetária e já projetam vários cortes de juro à frente. Selic de um dígito em 2012 - um grande objetivo acalentado pelo Ministério da Fazenda - não surpreende ninguém. Fato raro, o mercado encerrou os negócios nesta quinta-feira, irmanado com o BC, a Fazenda e, porque não, o Palácio do Planalto.

De 23 economistas consultados pelo Valor, 16 preveem corte de Selic em outubro e novembro e 7 ainda estão revendo as projeções. A maioria dos analistas crava juro de 11% ao final de dezembro deste ano. O Credit Suisse é, na pesquisa do Valor, a instituição que vê o afrouxamento monetário mais agressivo. Espera Selic de 9% em dezembro de 2011 e 8,5% em dezembro de 2012.

Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e economista-chefe do Banco J.Safra, previa quatro cortes da Selic em 0,50 ponto percentual a partir de outubro. Após a última decisão, ele mantém a previsão, sendo que uma delas já ocorreu agora. Ele prevê Selic a 10,50% no fim deste ano e explica que já tinha esse cenário por dois motivos. "Um ligado à atividade, com desaceleração lá fora, piora do cenário e aqui dentro também vendo produção industrial mais fraca. Nos parecia que esse cenário criou um dilema muito grande com a desaceleração de atividade mas não mostrando inflação em queda, que seria o que esperar. O segundo motivo para esperar uma sequência de cortes da Selic é ver a inflação convergindo mais lentamente para a meta, talvez em 2013", explica.

O economista-chefe do J.Safra afirma que o ambiente internacional é de desaceleração, porém inflacionário. Os preços das commodities seguem fortes, não só pela demanda da China, mas também porque os BCs estão buscando evitar que a inflação tenha uma queda mais aguda. "Daí eu acreditar que a opção seria evitar desaceleração muito forte sob o custo de convergência mais lenta da inflação. Foi essa a visão que prevaleceu, só que mais cedo. Outro ponto é a mudança de 'mix' de políticas. O governo deve ter imaginado que, com juro tão alto, haveria um período crônico de apreciação cambial e a maneira de garantir um rebalanceamento disso é a política fiscal mais apertada e juro menor", pondera Kawall.

Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, entende que a decisão do Copom foi influenciada pelas perspectivas do BC quanto ao cenário internacional e também pelas "intenções de mudança" na política fiscal. Mas ele destaca que o IPCA ainda mostra muita rigidez em torno do topo da banda de tolerância, 6,50%. "A robustez do mercado de trabalho e o aumento do salário mínimo em 2012 sugerem que esse quadro não vai se alterar rapidamente. Salvo em cenário de ruptura, o IPCA deve continuar acima da meta de 4,5% no horizonte relevante."

O economista-chefe do Itaú Unibanco alerta, porém, que se o cenário adverso desenhado no comunicado do Copom não se concretizar ou a política fiscal for mais expansionista do que o antecipado, "evidentemente haverá risco para a inflação. Entre eles, o de consolidarem-se as expectativas em nível acima do centro da meta", afirma Goldfajn que admite a possibilidade dos votos contrários ao corte da Selic terem se baseado nesse risco. O Itaú Unibanco trabalha com mais dois cortes de 0,50 ponto na Selic este ano e não descarta a chance de o juro cair a 10% em dezembro de 2012.

Vladimir Caramaschi, economista-chefe do Crédit Agricole Brasil, vê mais dois cortes de Selic neste ano e taxa de 11% mantida por um "longo período". Ele avalia que agora ficou "bem difícil ter convicção de qualquer coisa sobre a condução da política monetária. Acredito ser extremamente difícil justificar o corte dentro do regime de metas para inflação. Para mim, eles abandonaram o regime de metas. E, uma vez que se perdeu essa âncora dada pelo regime ou que pelo menos ficou muito mais duvidoso esse compromisso, [a política monetária] virou uma coisa quase subjetiva", avalia o economista que "a decisão precipitada do BC vai acabar cobrando seu preço e exigir a retomada do aperto monetário no final de 2012".

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que esperava corte da Selic apenas em 2012, passou a contemplar taxa de um dígito para dezembro do ano. E entende que o Copom foi revelador. "O BC da gestão Tombini tem um alinhamento maior à política econômica do governo Dilma que está pautado no crescimento e geração de emprego e renda. A gestão anterior do BC se pautava primordialmente pela estabilidade monetária, condizente com um regime de metas para a inflação", comenta.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Valor Econômico

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário