Demanda menor não deve fazer petróleo cair

Publicado em 14/09/2011 07:55
A Agência Internacional de Energia cortou ontem a sua previsão para o consumo de petróleo no mundo em 2011 e 2012 devido à desaceleração da economia global. No entanto, analistas acreditam que não deve haver queda significativa do preço da commodity no ano que vem.

"A demanda global por petróleo continua a se expandir em ritmo tépido. Certamente há uma crescente preocupação quanto à saúde da economia mundial", afirma em sua análise mensal o instituto sediado em Paris que presta assessoria à OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). A agência rebaixou a estimativa da demanda diária em 200 mil barris por dia, para 89,3 milhões. De acordo com os seus cálculos, em 2012 a demanda atingirá 90,7 milhões barris/dia (400 mil a menos do que previa há um mês).

Para Walter de Vitto, analista da Tendências Consultoria Integrada, o petróleo tem caído, mas são quedas pequenas. Ele calcula que a cotação do barril deverá permanecer acima dos US$ 100. Assim como Vitto, também Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adam Sieminski, do Deutsche Bank, e Robert Falkner, da London School of Economics (LSE) apontam como motivo para impedir uma queda maior do petróleo a demanda dos países emergentes. "No longo prazo, a maior parte do crescimento na demanda virá de países como China e Índia, de forma que o desempenho econômico deles será crucial para os preços", afirma Falkner, professor de economia política internacional da LSE.

Outro motivo apontado por Vitto para a manutenção dos níveis de preço é a oferta atualmente bastante restrita. "Hoje a indústria trabalha com uma capacidade ociosa muito pequena e qualquer espirro, ou ainda um evento como a guerra na Líbia, gera um estresse enorme", diz.

Para Pires, a atual instabilidade dos preços torna o petróleo um elemento pouco confiável para contribuir para a recuperação da produção industrial. "Qualquer pequeno evento provoca uma alta no preço. [O preço do barril] Não é um instrumento com o qual os elaboradores de políticas possam contar, dada a volatilidade, para a contenção da inflação."

Uma forte oscilação nos preços em 2012 só é vislumbrada no caso de um sério agravamento da economia global. "É preciso saber se essa crise virá com uma grande violência e, se vier, qual será o respingo nos emergentes. A de 2008 os afetou muito pouco. Se a crise for pior em intensidade e durabilidade, há uma tendência de redução no preço do barril, não para o nível de US$ 40, como em 2008, mas para US$ 70, US$ 80", afirma Pires.

Para Vitto, um cenário de recessão não é provável. "Estamos trabalhando com uma previsão de crescimento global para o ano que vem de 4%." Adam Sieminski, economista-chefe para energia do Deutsche Bank em Washington, concorda: "Não enxergamos uma recessão global, e sim uma desaceleração moderada".

A AIE avalia que a retomada da produção na Líbia será "longa e difícil", mas espera que ela se acelere nos próximos meses, atingindo até 400 mil barris/dia até dezembro e 1,1 milhão até o fim de 2012 - antes da guerra civil que causou a queda do regime de Muamar Gadafi, o país produzia 1,6 milhão de barris/dia. "Danos às instalações de produção, oleodutos, refinarias, apesar das expectativas de serem relativamente leves, precisarão de uma completa avaliação, bem como será necessário assegurar a segurança no terreno, antes de ser possível esperar grandes aumentos na produção", afirma o relatório.

Ontem, em Londres, a cotação do barril tipo brent para outubro caiu 62 centavos, ficando em US$ 111,63.

Fonte: Valor Econômico

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