Análise do WSJ: Mudança para pior nos mercados agora parece mais duradoura

Publicado em 26/09/2011 08:18
Países europeus, flertando com a recessão, não têm conseguido chegar a um acordo sobre como se desvencilhar de uma pilha de dívidas. Os Estados Unidos rumam para outra batalha orçamentária que ameaça paralisar o governo pela segunda vez em três meses. O gigante que é a economia chinesa começa a desacelerar.

E, nos mercados financeiros, uma mudança vasta está transformando o sentimento dos investidores. Eles estão abandonando o tradicional otimismo "nas bolsas para o longo prazo" que vinha predominando desde o fim dos anos 80. Em vez disso há uma crença cada vez maior de que a confusão criada pela bolha imobiliária nos EUA e pela crise financeira será um obstáculo que vai perdurar pelos próximos anos.

Num recuo histórico, investidores do mundo inteiro sacaram no trimestre encerrado em agosto cerca de US$ 92 bilhões de fundos de ações nos países ricos, segundo a EPFR Global — um êxodo que mais do que inverteu o total aplicado nesses fundos desde que as bolsas atingiram a menor cotação dos últimos anos, em 2009. Os saques foram maiores do que em qualquer trimestre desde o auge da crise financeira.

Esse recuo não deu sinais de trégua em setembro. A Média Industrial Dow Jones sofreu semana passada o pior declínio numa semana desde outubro de 2008. Ela está em queda de 16% em relação ao pico do fim de abril. Os investidores também estão exibindo menos otimismo em relação aos países emergentes.

Para Jason Trennert, fundador da firma de pesquisa econômica Strategas Research Partners, o momento de jogar a toalha chegou em 2 de agosto, diz ele. Enquanto continuava a batalha de meses sobre o teto de endividamento dos EUA, Trennert, de 43 anos, ficou convencido de que o processo para determinar a política orçamentária em Washington emperrara num momento crucial para a economia.

Naquela tarde, Trennert, cuja firma é uma das mais respeitadas de acordo com pesquisas de opinião com fundos mútuos e de hedge, disse aos clientes que ele ficara pessimista com as bolsas pela primeira vez em dois anos. A equipe de Trennert aumentou a probabilidade de uma recessão até 2013 para 60% e sugeriu aos investidores deveriam estar pensando em vender ações em vez de comprar.

É um novo cenário, em que o retorno das ações deve continuar abaixo da média de longo prazo de 9% e 10%, e os preços ficarão em valores abaixo da média. As estratégias conservadoras voltadas a receber dividendos, há décadas fora de moda, voltaram a ficar em voga.

Os juros devem continuar muito baixos por mais tempo que muitos consideravam possível há apenas alguns meses. No mercado de títulos de dívida, investidores estão emprestando para os EUA a juro abaixo de 2% para pagamento daqui a dez anos, o menor juro desde os anos 40. As expectativas de crescimento econômico fraco estão reduzindo a cotação dos papéis, o que sugere que a inflação ficará a um nível bem menor que a média de longo prazo até 2021.

Ao mesmo tempo, os mercados financeiros devem continuar propícios ao tipo de oscilação selvagem vista nas últimas seis semanas. A Média Industrial Dow Jones subiu ou desceu 1% em 24 dos últimos 38 pregões.

O cenário sombrio de crescimento anêmico espelha o descrito na literatura acadêmica nos últimos anos pelos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Há tempos que gerentes de fundo de hedge acreditam nessa previsão pessimista, mas a ideia de que a crise vai continuar repercutindo durante anos conquistou agora pequenos e grandes investidores.

Para as pessoas que contam com os investimentos para sustentá-las na aposentadoria, isso significa reduzir as expectativas. "Não vejo nada mudando nos próximos dois ou três anos", disse John Deal, um investidor de 50 anos em Walnut Creek, na Califórnia. Deal passou a cogitar investimentos em ações só em horizontes de tempo muito longos – 20 anos – e reduziu as previsões para esperar um retorno abaixo da média, de 8% por ano, durante esse período. Seu planejamento financeiro leva em conta um rendimento de apenas 3% com títulos de dívida.

Muitos investidores começaram o ano crentes de que a recuperação começava a ganhar força. A Média Industrial Dow Jones chegou a 12.810,53 pontos, 96% mais alta que a cotação de 9 de março de 2009, a menor em 12 anos. Como a Dow naquela época estava em alta de mais de 10% no ano apesar do terremoto devastador no Japão e da alta do petróleo, muito investidores consideraram isso um sinal de que a economia atingira a "velocidade de escape" do declínio causado pela crise financeira.

A maré começou a virar em maio com a desaceleração dos dados econômicos, especialmente industriais, no mundo inteiro. Os investidores também começaram a pensar no fim da segunda rodada de "afrouxamento quantitativo" do Federal Reserve, o banco central americano — uma política de comprar dívida do Tesouro americano, ou Treasurys, para baixar os juros. Essa política injetou US$ 600 bilhões nos mercados financeiros, mas deveria ser encerrada até o fim de junho.

Ainda assim, as expectativas de retomada no segundo semestre continuaram altas, mesmo sem a ajuda do Fed.

Para muitos investidores, o primeiro grande sinal de que as coisas não estavam voltando ao normal veio da Europa. O rendimento dos títulos de dívida italianos e espanhóis subiu fortemente no início de julho e aumentou os temores de um contágio que poderia ameaçar os bancos da Europa inteira.

Em Londres, James Bristow, co-gerente do fundo BlackRock International, de US$ 130 milhões, interpretou a alta do rendimento dos títulos como reflexo de uma resposta inadequada tanto do Banco Central Europeu quanto dos governos do continente. No fim de junho e de julho seu grupo liquidou algumas aplicações em ações de bancos europeus.

Mas não foi só a crise de dívida europeia que amedrontou Bristow. Ele ficou assustado com a velocidade em que economia mundial parecia estar decaindo. Ele disse no fim de agosto que espera agora "um ambiente de baixo crescimento mundial" durante vários anos, com "uma quantidade enorme de incerteza".

No fim do primeiro semestre, Charles Bean, presidente da firma de consultoria financeira Heritage Financial Services, também estava ficando cada vez mais preocupado com a Europa. E, mais perto de casa, ele também se preocupava com a tensão em Washington sobre o déficit do governo.

Quando Bean e o resto da comissão de investimentos da firma — que tem 17 funcionários e US$ 650 milhões em aplicações — se reuniram na terceira semana de julho, discutiram a possibilidade de a redução do déficit aumentar o risco de recessão.

A Heritage diminuiu suas expectativas de crescimento econômico e lucro corporativo para vários anos. A Heritage então enviou aos clientes em 21 de julho uma nota expressando as preocupações da firma, com um link para pesquisas de Reinhart e Rogoff sobre a possibilidade de moratória de governos num cenário pós-crise financeira.

Eles reduziram a aplicação em ações e compraram ouro para a maioria das carteiras dos clientes.

Em 29 de julho, uma sexta-feira, as coisas passaram de ruins para terríveis aos olhos de alguns investidores. O governo dos EUA divulgou naquele dia revisões para baixo de suas estimativas anteriores de crescimento econômico. Conclusão: a recessão foi mais profunda e a recuperação, mais fraca.

Ainda mais cedo este ano a economia já estava em "velocidade de perda", segundo o jargão econômico. Em outras palavras, num momento em que muitos achavam que a economia estava crescendo lentamente, na verdade ela estava vulnerável a um retorno à recessão.

Aí em 1o de agosto, um segunda-feira, o Instituto para Gestão da Oferta informou que seu índice de atividade industrial desmoronou para 50,9 em julho, indicando que a indústria quase não estava crescendo. (Qualquer número abaixo de 50 indica contração do setor industrial.) Isso representou um declínio dramático em relação a fevereiro, quando índice atingiu seu pico pós-crise de 61,4.

No dia seguinte a cáustica batalha política sobre o limite de endividamento já tinha sido resolvida; os EUA não iriam mais entrar em moratória de suas dívidas. Mas para James Swanson, diretor de investimento da MFS Investments e gerente do fundo Diversified Income da firma, de US$ 569 milhões, o leite já tinha sido derramado.

No fim de julho ele diminuiu a aplicação em ações pela primeira vez desde 2009. Ele ficou chocado com o jogo político arriscado de Washington, disputado até o limite, o que cimentou suas expectativas reduzidas para a economia.

Os estrategistas de macroeconomia e pesquisa de mercado mundial da Goldman Sachs Group Inc. já pesavam em maio se a economia dos EUA ficaria enfraquecida depois da crise financeira por um período ainda maior. Isso significaria que os ciclos de expansão e recessão seriam mais curtos que antes da crise e causariam mais volatilidade no mercado.

Como a economia está "num estado muito frágil, se você é atingido por um novo problema sua resistência a ele parece menor", disse Wilson. "E é esse o mundo em que estamos vivendo agora".

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Fonte:
The Wall Street Journal

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