Aperto econômico pressiona safra de verão

Publicado em 04/08/2015 07:42

O momento de fragilidade da economia brasileira está influenciando os preparativos para a próxima safra de verão. O quadro de desvalorização do real e a pressão inflacionária refletem em previsões que indicam alta de até 20% nos custos de produção de grãos como a soja. Como agravante, o acesso ao financiamento com juros subsidiados dentro do Plano Agrícola e Pecuário (PAP 2015/16) ainda não engrenou. Com mais gastos e dificuldade em tomar crédito, cresce a incerteza quanto à disponibilidade de insumos para o plantio, colocando à prova os planos de expansão da área plantada.

Praticamente todos os itens da equação de custos para a produção de grãos estão mais caros do que em 2014/15. Estimativa do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) indica que o desembolso para a produção de soja transgênica no estado será 18,7% maior no próximo verão, chegando a R$ 2,8 mil por hectare. No Paraná, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) aponta aumento de 11,3%, para R$ 2,6 mil/ha. “Esse custo pode subir mais, pois, além dos insumos estarem mais caros, pode haver necessidade de aplicação extra de produtos como inseticidas e herbicidas”, detalha o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Paraná (Aprosoja PR), José Sismeiro.

Além da conta estar mais cara, o setor demonstra preocupação quanto à dificuldade em garantir o custeio da produção utilizando as linhas de crédito do Plano Safra. “O governo até liberou os recursos, mas há muita morosidade para conseguir a liberação dos financiamentos nos bancos”, aponta o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Carlos Ottoni Prado. Ele avalia que a instabilidade econômica deixou as entidades mais cautelosas para fazer a liberação de crédito.

Produtores têm relatado dificuldade de acessar não apenas o crédito oficial, com juros controlados, mas também os recursos privados em função do agravamento da crise econômica e da alta nas taxas de juros, conta o analista Flávio França Junior. “Isso deve ter efeito limitante sobre a expansão de área e retrair o uso de tecnologia, principalmente de Mato Grosso para cima”, avalia.

O problema tem sido mais preocupante em estados em que a demanda por crédito individual é maior, reforça Tânia Moreira, economista do Departamento Técnico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Ainda assim, produtores paranaenses não escapam das dificuldades. “O cadastro dos produtores [nos bancos] está bem mais criterioso e alguns financiamentos estão sendo liberados a conta-gotas”, reclama Rudolf Petter, que produz grãos, junto com a família, em 3 mil hectares espalhados em cinco propriedades dos Campos Gerais.

Efeito dominó

Como neste ano não houve a liberação do crédito de pré-custeio, que permite a antecipação das aquisições de insumos, Prado teme que haja uma correria na boca da safra. “As compras estão atrasadas. Existe o risco de o produtor ter o dinheiro e não haver disponibilidade de insumos”, alerta.

Para Sismeiro, da Aprosoja Paraná, há dificuldade em obter fontes alternativas de recursos para contornar o problema. “O produtor não tem outra opção além do financiamento, exceto aqueles que estão um pouco mais capitalizados. Se ele não conseguir todo o recurso que precisa no banco, terá que recorrer a cooperativas, revendas ou tradings”, avalia.

Leia a notícia na íntegra no site Gazeta do Povo.

Tags:

Fonte: Gazeta do Povo

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Preços da soja voltam a subir em Chicago nesta 4ª feira, acompanhando retomada do óleo
Soja: Preços têm leves baixas em Chicago nesta 4ª, dando sequência às perdas da sessão anterior
Em Chicago, óleo despenca mais de 3% e pressiona ainda mais preços da soja nesta 3ª feira
Anec faz leve ajuste na exportação de soja do país em abril, que deve cair ante 2023
Apesar de altas no farelo e baixas intensas no óleo, soja trabalha com estabilidade em Chicago nesta 3ª