Comercialização de soja se intensifica na Argentina com mudança do cenário político

Publicado em 10/02/2016 15:16

A dinâmica da comercialização de soja na Argentina começou a mudar nos últimos meses. Desde que Maurício Macri assumiu a presidência da república ele já adotou medidas de desvalorização do peso em favor da economia local e reduziu as chamadas "retenciones", que são as taxações sobre as exportações da oleaginosa, de 35% para 30%, estimulando as vendas. 

"Janeiro é, normalmente, um mês lento para as traders argentinas de grãos. Porém, no mês passado, a maioria dos escritórios de comerciantes de grãos esteve mais ocupada do que jamais esteve em qualquer mês de 2015", relatou o correspondente do site internacional Alastair Stewart, do portal internacional DTN The Progressive Farmer. 

Segundo explica o analista de mercado Patricio Lagger, da Bolsa de Cereais de Rosário, os produtores observam a proximidade da chegada da nova safra e buscam aproveitar, portanto, as boas oportunidades que a entressafra ainda traz. 

Nos últimos anos, em função da instabilidade política e da postura dos governantes diante do agronegócio argentino, os sojicultores vinham travando suas vendas, já que nem mesmo a relação cambial lhes era favorável e acumulando seus estoques como uma espécie de mecanismo de hedge, ou seja, uma proteção contra a extremamente volátil economia local. 

Em Novembro, o último levantamento mostrava que havia cerca de 15 milhões de toneladas ainda nas mãos dos produtores. E não foram só as exportações que aumentaram, mas também as vendas internas que, com a maior demanda doméstica, provocou também um aumento nos preços praticados no interior do país. Para a temporada 2015/16, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estima que os estoques finais de soja do país sejam de 29 milhões de toneladas. 

Além disso, essas mudanças propostas e efetivadas por Macri foram bem recebidas pelos profissionais do setor. "O novo governo conduziu a desvalorização do peso de forma realmente profissional e segura, a caminho da estabilidade. A transição tem sido excelente até agora", disse David Hughes, um produtor de Buenos Aires a Stewart. 

Esmagamento e produção de derivados 

Além disso, as indústrias processadoras da oleaginosa do país - que é o maior produtor e exportador mundial de farelo e óleo de soja - começaram a disputar matéria-prima para manter suas plantas em atividade, o que também puxou os valores internamente. Atualmente, a indústria atua com apenas 65% de sua capacidade instaladas. 

Assim, o preço à vista da soja subiu cerca de 53,18% desde o início de novembro, passando de 2200,00 pesos argentinos por tonelada para 3370,00 pesos. 

Um estudo da agência internacional Bloomberg mostra que o momento, portanto, potencializa a oportunidade da Argentina de ampliar sua capacidade industrial e expandir seu domínio nas exportações globais de derivados. A expectativa agora é de que o setor consiga recuperar investimentos dos últimos anos que chegaram a US$ 3 bilhões, mas que foram subutilizados depois que a ex-presidente Cristina Kirchner aumentou a tributação sobre as exportações e suspendeu as importações, forçando os produtores locais a vender, mesmo que em momentos inoportunos para sua comercialização. 

Gráfico da agência Bloomberg mostra a participação da Argentina no mercado mundial do óleo de soja

Em 2015, as exportações de grãos e oleaginosas da Argentina somaram US$ 17,6 bilhões, a menor receita desde 2009, segundo números do consórcio de exportadores argentinos de Buenos Aires da CIARA-CEC. Somente em janeiro de 2016, o valor alcançado com as exportações mais do que triplicou em relação ao mesmo mês do ano passado e chegou a US$ 2,7 bilhões. 

Assim, o cenário é mais do que favorável para um aumento do esmagamento de soja no país neste ano. No ano passado, o total processado foi de 38,6 milhões de toneladas e agora, com as atuais políticas governamentais em andamento, a expectativa é de que haja um incremento de 8% para 42 milhões de toneladas e, em 2017, suba mais 10%. 

Argentina x Cenário Mundial

Em seu reporte mensal de oferta e demanda de fevereiro divulgado nesta terça-feira (9),o USDA aumentou a produção mundial de farelo de soja de 216,92 milhões para 217,02 milhões de toneladas, enquanto reduziu os estoques finais de 11,48 milhões para 11,29 milhões. Do mesmo modo, o departamento revisou para cima a produção da Argentina - de 33,4 milhões para 33,68 milhões de toneladas. Os estoques locais passaram de 3,81 milhões para 3,61 milhões de toneladas. 

A demanda mundial por farelo de soja vem crescendo de forma bastante expressiva nos últimos anos, principalmente com um consumo maior no setor de carnes, e o que as processadoras argentinas buscam agora é ampliar seu papel neste cenário. 

Do ano comercial 2013/14 para o 2015/16, as importações globais do derivado subiram, de acordo com números do USDA, 10,29%, passando de 57,93 milhões para 63,89 milhões de toneladas. No mesmo período, as exportações argentinas cresceram 27,15% e devem totalizar, na atual temporada, 31,75 milhões de toneladas, contra 24,97 milhões do ano comercial 2013/14. 

Os números para o óleo de soja, que também registra um crescimento interessante da demanda, soam promissores como os do farelo. De 2013/14 a 2015/16, as importações mundiais cresceram 18,02%, passando de 9,27 milhões para 10,94 milhões de toneladas. Enquanto isso, a produção global do derivado, no mesmo período, aumentou 14,57%, de 45,02 milhões para 51,58 milhões de toneladas. Os dados partem do último reporte do USDA. 

Ainda neste intervalo, a Argentina também aumentou sua participação. A produção nacional foi de 6,79 milhões a 8,29 milhões de toneladas, um aumento de 26,51%, enquanto as exportações do país registraram um incremento de 40,83% ao subirem de 4,09 milhões a 5,76 milhões de toneladas. 

Com informações dos sites internacionais DTN The Progressive Farmer, Bloomberg e do USDA. 

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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