Soja: BR pode ter preços melhores no 2º semestre com disputa entre demandas externa e interna

Publicado em 02/04/2019 12:12

O Brasil continua batendo recordes em suas exportações de soja em 2019 e em março não foi diferente. Números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) mostram que, somente em março, o país exportou 8,955 milhõe de toneladas. A média diária do último mês foi de 471,3 mil toneladas contra 304,6 mil de fevereiro, que também teve recorde para o mês. Em março de 2018, esse número foi de 419,7 mil. 

Mantendo um ritmo acelerado de suas exportações e com esse volume, o total exportado pelo Brasil no primeiro trimestre do ano superou as 17,2 milhões de toneladas, também bem acima do mesmo período de 2018, quando o total ficou pouco acima dos 12,3 milhões de toneladas. 

A China segue como principal compradora da oleaginosa brasileira. A guerra comercial entre a nação asiática e os EUA continua e um acordo entre as duas maiores economias do mundo parece cada vez mais diluídos em rodadas de negociações, de conversas, em meio a tantas declarações que nunca se confirmam. 

E será esse ritmo das nossas vendas externas - em grande parte motivado pelo foco chinês ainda sobre o mercado brasileiro - que irá intensificar a disputa pela soja dos exportadores com a demanda interna. Assim como nas vendas externas, as indústrias nacionais seguem compradoras nestes momento e, em alguns casos, inclusive pagam melhor do que a exportação. 

"Se mantivermos esse ritmo que estamos vendo agora entre abril e agosto - que é parecido com o ano passado e até acima dele - vai ficar apertado. Com uma safra menor e sem estoques de passagem, vamos ter uma disputa entre exportador e esmagador nacional, e isso joga a favor do produtor", explica o diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo. 

O ano de 2019 é esperado também para ser um ano de recuperação do setor de proteínas animais, na ordem avicultura de corte, suinocultura, pecuária de corte de leite. A demanda por esses produtos se mostra aquecida - as exportações de carne de frango e suína têm mostrado bons números este ano - o que já resulta também em preços melhores. 

"Assim, temos uma recuperação de produção, o que quer dizer uma recuperação de demanda de farelo de soja e milho, ou seja, a indústria precisa de farelo", completa Cogo. 

Somente de carne suína, as exportações do Brasil aumentaram 20% no primeiro trimestre deste ano comparado ao mesmo período do ano passado. Desde o início da guerra comercial entre China e EUA, as vendas brasileiras deste produto para a China cresceram quase 200%. 

Leia mais:

>> China reduz importações da soja, mas compensa comprando mais carne suína

Para Cogo e também para o chefe da divisão de grãos da Datagro, Flávio França, esse cenário poderá trazer preços melhores para o produtor brasileiro mais a diante, principalmente no segundo semestre. E explica também que com uma safra menor neste ano, o Brasil possui um saldo exportável menor, o que também é combustível para essa disputa com os esmagadores. 

"A indústria precisa correr atrás para comprar essa soja e não deixar exportar, ou vai faltar soja literalmente. Hoje, nossa previsão de exportação (da Datagro) é de 68 milhões de toneladas de soja em grão, contra 84,5 milhões do ano passado. Mas, quem vai decidir esse volume é a indústria brasileira, se deixa sair ou não deixa sair", diz. 

O executivo explica ainda que os preços atuais pagos pela soja brasileira apresentam algum ágio em relação à paridade de exportação, em um período em que tradicionalmente há um deságio ou ficam em linha com a paridade. E isso, segundo ele, já são sinais dos esmagadores nacionais começando a fazer suas contas e pagando melhor para garantir esse produto. 

A análise de Frabça se completa com o representante da Datagro explicando que, mesmo com um acordo firmado entre China e Estados Unidos e uma demanda do país asiático sendo maior no mercado americano, ainda assim não sobra soja no Brasil e isso não seria um problema para o mercado nacional. 

"Nós não temos volume para atender uma demanda adicional da China. Não temos soja em abundância, estamos com falta de produto. Então, não vai sobrar soja no Brasil, posso afirmar isso", diz. 

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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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