Soja: Mercado tem bom momento para vendas da safra nova no Brasil, dizem especialistas

Publicado em 18/10/2019 15:49

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As vendas de soja da nova safra do Brasil caminham bem neste momento. O dólar alto frente ao real tem sido um dos principais combustíveis para a formação dos preços da nova temporada, já que a moeda americana volta a atuar acima dos R$ 4,00 e cria um ambiente bastante favorável para as referências diante de melhores preços que são observados também na Bolsa de Chicago. 

No acumulado do ano, até esta quinta-feira (17), o dólar comercial acumula uma alta de 9,97%, saltando de R$ 3,79 para R$ 4,17. Nos últimos 30 dias, o ganho é de 2,32%. E apesar da queda de mais de 1% nesta sexta-feira (18), a divisa se mantém acima dos R$ 4,10. 

Gráfico dólar

Ao se observar a movimentação dos futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago, nos últimos 30 dias a evolução também foi considerável e ajudou a motivar os negócios. O contrato março/20, de 17 de setembro a 17 de outubro subiu 4,13% passando de US$ 9,19 para US$ 9,57. O maio/20 foi de US$ 9,30 para US$ 9,65, com ganho de 3,76%. 

O caminhar do dólar e dos futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago, no entanto, está ao lado de outros fatores importantes que têm motivado a comercialização pelos sojicultores brasileiros e que, segundo algumas estimativas, já chega a 30% da safra 2019/20. 

A demanda ainda intensa, inclusive internamente, também é outro fator de estímulo às cotações. A China tem se mostrado um pouco mais presente nos EUA neste momento, porém, sem um acordo efetivo entre os dois países, a maior concentração das compras da nação asiática continua no mercado brasileiro. 

No entanto, os prêmios para a safra nova, embora equilibrado com os americanos, ainda estão baixos e acabam por limitar preços ainda melhores. O que, para alguns analistas e consultores, acaba sendo também um alerta para os produtores que estão optando por fechar novas vendas neste momento. 

Segundo o gestor da área de grãos da Sementes Roos, Olmar Lanius, o mercado está se 'oportunizando' para os produtores e eles estão aprovitando, de fato, estes bons momentos. 

"Os preços estão bem melhores do que os observados no primeiro semestre do ano. Quem conseguiu segurar suas vendas para o segundo semestre está garantindo valores melhores, já que tanto para o produto disponível, quanto para o da safra nova já mostra uma diferença para cima de R$ 7,00 a R$ 8,00 por saca", explica Lanius. 

O executivo diz ainda que 2020 também pode reservar oportunidades interessantes. "E isso pode ser visto no milho também. Acredito que estamos em um momento bem promissor", diz. 

Produtores das mais diversas regiões do país vem relatando ao Notícias Agrícolas que, de fato, as vendas antecipadas nesta safra têm caminhado em um ritmo um pouco mais acelerado do que no anterior. Segundo eles, estão aproveitando este bom momento para travar parte dos seus custos, garantindo boas margens e se protegendo de incertezas que rondam o início de 2020. 

Há sojicultores falando em 70% de sua nova temporada já comercializada. No entanto, alguns ainda observam as condições climáticas de suas regiões para começar a tomar decisões e definir suas estratégias. Números atualizados nesta sexta-feira pela ARC Mercosul mostram que o plantio da soja 2019/20 no Brasil chegou a 23% e o ritmo superou a média dos últimos cinco anos, apesar de todas as adversidades de clima. O gráfico abaixo mostra as comparações. 

Gráfico plantio da soja ARC

Segundo a consultoria, como tradicionalmente acontece, os trabalhos de campo são puxados pelo Mato Grosso. Problemas são, apesar de pontuais, graves em partes do Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Previsões mostram novo padrão de tempo seco, com chuvas mal distribuídas nos primeiros 10 dias de novembro, principalmente em GO, MG, SP e Matopiba.

Entenda mais:

>> Plantio da soja chega a 23% da área no Brasil e ritmo supera média dos últimos 5 anos apesar das adversidades climáticas

O Notícias Agrícolas ouviu alguns analistas para entender qual é o momento do mercado para estes produtores e quais as expectativas daqui para frente. A perspectiva, afinal, é de que o Brasil colha sua maior safra de soja da história, porém, já passa por alguns problemas de clima e indefinições sobre a demanda diante das relações entre China e Estados Unidos. 

Ênio Fernandes, Terra Agronegócios

Para Ênio Fernandes, consultor em agronegócio da Terra Agronegócios, o produtor brasileiro está cada vez mais profissional na comercialização e aproveitando os atuais momentos para travar seus custos e garantir sua margem. "Para quem já vendeu cerca de 50% de sua safra, ou mais, digo que é momento de calma. Para quem ainda não vendeu nada sugiro que faça suas contas e observe esse momento que é um momento de preços que trazem margens, remuneradores", diz. "A demanda é forte, inclusive internamente, com o B11 e a possibilidade do B15, e a América do Sul ainda está com seu plantio recente", completa. 

Segundo Fernandes, essa média dos 30% da safra vendida no Brasil é bom, e mostra essa profissionalização do sojicultor. "E há estados que já travaram algo entre 50%, 60% da sua safra, como Mato Grosso e Goiás", diz. Ainda assim, salienta também que há estados onde os problemas - que são bem pontuais - com o plantio da nova safra deixam os negócios ligeiramente mais retraídos.  

Steve Cachia, Cerealpar e AgroCulte

Na ótica de Steve Cachia, consultor da AgroCulte e da Cerealpar, as vendas da nova safra caminham em um ritmo normal, salvo por uma acelerada observada nas últimas semanas em função das altas em Chicago e do dólar. O que talvez tenha segurado um pouco os negócios nos últimos dias tenha sido o acordo parcial entre China e Estados Unidos. 

"Sobre clima, a comercialização não está tão avançada ao ponto de produtor ficar com medo ou de preço subir em função disso ou eles nao conseguirem honrar compromissos no caso de quebra", diz. "Afinal, em relação à média o plantio nem está tão atrasado. Em relação ao ano passado sim, 2018 foi atipicamente mais rápido". 

Ainda assim, o analista volta a dizer que as indicações em reais são favoráveis na safra nova.
"Recentemente, Chicago e dólar subiram, deram condição boa para os produtores diante da conjuntura e cenário esperado meses atrás. Agora pode até ficar um pouco lento. Os prêmios cederam, Chicago parou de subir e a demanda pode se deslocar para os EUA devido ao acordo parcial EUA/China", conclui. 

Matheus Pereira, ARC Mercosul

Na análise de Matheus Pereira, diretor da ARC Mercosul, a demanda é um dos focos. "A demanda total da China continua fraca, porém concentrada no Brasil. Sem nenhuma 'reconciliação concreta' entre EUA e China, os asiáticos continuam comprando soja brasileira", diz. No entanto, lembra que a China deverá terminar o ano comercial com importações de 80 a 83 milhões de toneladas, volume menor se comparado a anos anteriores. "Porém, a maior parte dessa demanda tem sido preenchida pelas ofertas brasileiras", completa.

Dessa forma, Pereira afirma ainda que a manutenção da guerra comercial ajuda na manutenção também dos preços. "Não impulsiona, porém, também não pesa. O que ajuda nos bons preços é o câmbio", diz. "No mercado futuro do dólar também temos patamares extremamente interessantes e se colocar na ponta do lápis com toda certeza mostraremos que o risco é muito baixo nesse momento", completa o analista, reforçando que as estratégias de comercialização devem respeitar as particularidades de cada região e mais ainda, de cada produtor. 

Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting

Segundo Vlamir Brandalizze, consultor da Brandalizze Consulting, as referências para a safra nova, em meses mais a frente, como junho e julho de 2020, já marcam preços entre R$ 90,00 e R$ 90,50 por saca nos portos do país, atraindo os vendedores. E com isso, bons negócios têm sido efetivados.  

Ainda de acordo com o analista, o caminhar do dólar deve ser outro fator de atenção para o produtor brasileiro. "O dólar pode vir a apresentar mais pressão positiva, já que o governo está sofrendo pressão do partido de Bolsonaro que está em crise. E assim, o mercado financeiro vai operando nervoso. Além disso, há ainda a programação para que o Senado vote, na próxima semana, a reforma da Previdência", diz. 

Ginaldo Sousa, Grupo Labhoro

As referências de preços da safra nova testando preços na casa de R$ 87,00 a R$ 88,00 tem promovido um bom momento para os negócios no Brasil, como explicou o diretor do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. E afirma que o papel do dólar tem tido papel determinante para estes indicativos melhores agora. 

"O dólar tem ajudado muito na composição dos preços da soja" diz. No entanto, Sousa acredita que os negócios ainda acontecem de forma um tanto lenta e que os produtores deveriam estar participando mais. "Ele deve participar mais, mesmo porque sabemos que se chuvas voltarem, embora os preços não tenham subido pela falta delas, os preços começam a ceder e, principalmente, se nos EUA não acontecerem novas compras por parte da China", complementa. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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