Restrições na Argentina podem favorecer farelo de soja do Brasil, diz Caramuru

Publicado em 26/03/2020 16:34 e atualizado em 26/03/2020 21:18

Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) - As medidas de prevenção contra o coronavírus adotadas pela Argentina, que restringiram a logística, podem afetar o transporte de soja e seus subprodutos naquele país e, consequentemente, favorecer Brasil nas exportações de farelo de soja, estimou a Caramuru Alimentos.

"A Argentina está com restrições (de transporte) muito maiores do que as nossas, e isso pode nos beneficiar na exportação (de farelo de soja) porque somos concorrentes diretos e eles são os maiores exportadores do mundo nesse setor", afirmou à Reuters o diretor comercial da Caramuru, Fábio Vieira Júnior.

A companhia, que entre as empresas de capital brasileiro é a maior processadora de grãos, avalia os impactos da crise do coronavírus sobre a cadeia como um todo, mas em uma perspectiva preliminar acredita que o Brasil tende a ser beneficiado pelo cenário argentino, ressaltou Viera Júnior.

Nas próximas semanas, a Caramuru deve ficar atenta ao comportamento da demanda para verificar se esta tendência foi confirmada, acrescentou o diretor.

De acordo com a câmara de exportadores CIARA-CEC da Argentina, que representa companhias globais incluindo Bunge e Dreyfus, as entregas de grãos de soja por caminhões a plantas de processamento têm sofrido severa interrupção, pois mais de 70 municípios pelo país estão adotando medidas contra o coronavírus que envolvem o controle da movimentação da produção agrícola por suas jurisdições. [nL1N2BI0E2]

Paralelamente, uma organização de trabalhadores portuários da Argentina pediu nesta quinta-feira ao governo do país que suspenda por 15 dias as atividades portuárias na nação, principal exportadora global de farelo de soja, para evitar o avanço do coronavírus.[nL1N2BJ20J]

André Nassar, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), afirmou em nota que ainda é cedo para tratar sobre o tema, pois as condições de produção e exportação de derivados de soja dependem de diversos fatores.

"Não apenas do comportamento da Argentina como exportador, mas também da Europa como consumidor --e a crise do coronavírus está lá agora--, e de fatores domésticos como demanda por farelo no mercado de carnes, além de biodiesel no mercado de combustíveis".

CENÁRIO PROMISSOR

Apesar das incertezas econômicas presentes no mercado brasileiro, o vice-presidente da Caramuru, César Borges, afirmou à Reuters que a perspectiva para a companhia continua positiva.

A demanda interna por farelo, vinda da indústria de carnes, e por biodiesel devem se manter firmes e a valorização do dólar ante o real, aliada ao patamar de preços das commodities em Chicago, formam uma conjuntura ainda melhor que a de 2019 para a empresa, explicou Borges.

"No ano passado, crescemos de 3% a 5% em faturamento, para 4 bilhões de reais. Agora devemos encostar em 4,5 bilhões de reais."

"Somos muito dependentes dos preços em Chicago e do dólar, que vem batendo máximas históricas. Nosso negócio andou redondo (quanto à demanda interna e preços) e com margem muito boa."

A Caramuru processa derivados de soja, milho, girassol, canola; exporta grãos e derivados; produz biodiesel e opera terminais portuários em Santos (SP), Tubarão (SC), Itaituba (PA), Santana (AP), além de contar com uma rede de 67 armazéns.

A capacidade diária de processamento de soja é de 6.500 toneladas e a de milho, 1.600 toneladas.

Até o momento, a empresa mantém as operações em todas as unidades e não há previsão de suspensões no curto prazo.

Segundo o presidente, a entrega de matéria-prima ocorre normalmente e medidas de segurança contra o coronavírus estão sendo tomadas, como o trabalho em home office para os funcionários das áreas administrativas.

(Por Nayara Figueiredo)

Tags:

Fonte: Reuters

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Lavouras de Santo Ângelo/RS escaparam dos danos, mas logística e infraestrutura da região foram afetadas pela chuva
Soja: Mercado realiza lucros em Chicago nesta 3ª feira, após mais de 30 pts de alta na sessão anterior
Soja em Chicago sobe mais de 30 pontos motivada por fundamentos que vão desde chuvas no RS, alta do farelo e plantio lento nos EUA
Fim da colheita de soja no RS e em Santa Catarina deve ser impactada pelas chuvas previstas para os próximos dias
Soja volta a subir forte na Bolsa de Chicago nesta 2ª feira com reflexos ainda da cheias no RS