Soja: Exausto da especulação, mercado em Chicago não reage à nova compra da China nos EUA

Publicado em 23/06/2020 12:30 e atualizado em 23/06/2020 13:55

O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de soja para a China nesta terça-feira (23) de 132 mil toneladas. O volume é todo da safra 2020/21. As vendas feitas no mesmo dia, para o mesmo destino e com volume igual ou superior a 100 mil toneladas devem sempre ser informadas ao departamento. 

O mercado da soja na Bolsa de Chicago parece se questionar como trabalhar com notícias como esta diante de uma exaustão especulativa que alcançou diante de tantos rumores desde que foi anunciada a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, em março de 2018. Nos últimos dois meses, os traders já viram todos os tipos de notícias e a maioria delas logo perdia a validade e o mercado voltava a se adequar ao seu "novo normal". 

Não é a primeira vez que o reporte de uma nova venda de produto americano para os chineses causa efeito limitado sobre as cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago. Nesta terça, os futuros da commodity que caminhavam de lado, testando leves perdas, apenas passaram ao campo positivo, ainda mantendo suas variações bastante tímidas. 

Perto de 11h50 (horário de Brasília), o mercado tinha uma alta de apenas 1,25 ponto no julho - cotado a US$ 8,77 - estável o agosto, sem variação, valendo US$ 8,75, enquanto o setembro e o novembro perdiam, respectivamente, 1,50 e 2,50 pontos, para valerem US$ 8,72 e US$ 8,76 por bushel. 

"O mercado já não olha mais para isso. Há os fatores fundamentais e os eventuais. Os eventuais têm sua duração, seu tempo de vida e morrem. E o mercado quer ressucitar esse fator China, mas acabou, já foi", explica o diretor do SIMConsult, Liones Severo. 

Embora os volumes de compras da China nos EUA já comecem a se aproximar dos níveis pré-disputa, a pauta já parece ter caído em descrédito. Somente nesta semana, o assessor da Casa Branca Peter Navarro afirmou que o acordo com a China estava desfeito, voltou atrás em sua declaração, complementado por Donald Trump que foi ao Twitter nesta segunda-feira (22) para afirmar que "o acordo com a China está intacto". 

"A inteligência do mercado é sustentada por fatores fundamentais e eventuais. Os fatores fundamentais são como dogmas e base de sustentação das relações das medidas nobres da natureza do produto, enquanto que os fatores eventuais são efêmeros e com prazo de validade no tempo, sendo que na maioria da vezes tem morte súbita. O fator China x EUA foi vencido pelo tempo ou caducou, e já não causa nenhum impacto nos preços da Bolsa de Chicago" completa Severo.

As declarações acabam por ter apenas efeitos pontuais e rasos sobre o andamento dos mercados - sejam de soja ou não - e logo os negócios voltam aos eixos. E enquanto tudo isso vinha sendo monitorado, o Brasil embarcou quase 60 milhões de toneladas de soja - principal destino sendo a China - no acumulado deste ano. 

E com a chegada dos navios brasileiros aos portos chineses, desde o meio de junho a nação asiática já dobrou o volume dos estoques de soja nos terminais, os quais alcançaram 6,5 milhões de toneladas, como reportou a especialista internacional Karen Braun. "Isso é 22% a mais do que no mesmo período do ano passado e 17% maior do que a máxima de 2018", diz. 

Mais do que isso, com as compras chinesas ainda acontecendo a conta-gotas no mercado norte-americano, os especialistas continuam se questionando a conclusão da fase um do acordo comercial entre os dois países. E as metas ainda são bastante elevadas. O monitoramento se dá agora sobre como a China irá escalonar suas compras nos próximos meses diante do atual momento de suas relações com os EUA e do volume já extremamente escasso de soja no Brasil. 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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