Impactos dos fenômenos climáticos nas safras de grãos sul-americanas

Publicado em 27/02/2025 10:16
Por Luiz Fernando Roque, Coordenador de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets*

Os fenômenos climáticos El Niño e La Niña exercem grande influência sobre a produção de milho e soja na América do Sul, trazendo desafios e oportunidades para os produtores. Nos últimos quatro anos, três safras ocorreram sob La Niña (2021/22, 2022/23 e 2024/25) e uma sob El Niño (2023/24), cada uma delas apresentando impactos distintos nas produções locais.

Impactos dos efeitos climáticos

O La Niña costuma reduzir a umidade na Argentina, Uruguai, Sul do Brasil (podendo pegar parte do Sudeste e/ou Centro-Oeste) e parte do Paraguai, enquanto favorece chuvas no Centro-Norte do Brasil. O El Niño, por outro lado, gera o efeito oposto, trazendo mais umidade para Argentina, Uruguai, Sul do Brasil e Paraguai, e menor pluviosidade para o Centro-Norte brasileiro. Esses padrões climáticos resultam em diferentes impactos produtivos ao longo das safras.

Por exemplo, em 2021/22, o La Niña causou perdas expressivas na soja brasileira, especialmente no Rio Grande do Sul e Paraná, regiões em que até 50% do potencial produtivo foi comprometido. No entanto, na safra seguinte (2022/23), mesmo com a permanência do fenômeno, o Brasil obteve uma safra recorde, enquanto a Argentina sofreu severas perdas. Já em 2023/24, o El Niño impactou negativamente o Centro-Norte do Brasil, impedindo um novo recorde produtivo.

O La Niña, em 2025, é de fraca intensidade, menos severo que em 2021/22 e 2022/23. Ainda assim, pode causar perdas na Argentina e no Sul do Brasil, embora menos significativas. A baixa umidade e altas temperaturas podem prejudicar as lavouras, enquanto chuvas excessivas, por ora, não são uma ameaça, mas podem impactar a logística na colheita.

Mercado climático sul-americano

Os efeitos dessas variações climáticas repercutem diretamente nos preços das commodities. O chamado "mercado climático sul-americano", que ocorre entre setembro e março, pode impulsionar os contratos futuros negociados em Chicago, especialmente em anos de perdas produtivas expressivas. Em 2021/22, por exemplo, as cotações da soja registraram valorizações significativas devido à quebra da safra na região.

Para a safra atual, espera-se uma produção sul-americana de soja superior à do ano anterior, com um novo recorde no Brasil compensando perdas na Argentina. Isso pode limitar os impactos no mercado internacional, embora oscilações especulativas ainda possam ocorrer durante o mercado climático, como o que ocorreu nas primeiras semanas de 2025.

No caso do milho, temos que esperar para ver como será a produção brasileira da “segunda safra”, que deve se desenvolver em sua maior parte entre o fim do La Niña e início de um padrão climático neutro. Caso perdas produtivas relevantes ocorram, é possível vermos movimentos especulativos em Chicago.

Gestão de risco: prevenção de perdas produtivas

Diante da imprevisibilidade climática, a gestão de risco torna-se essencial para os players do agronegócio. Estratégias de hedge permitem minimizar os impactos financeiros de perdas produtivas e volatilidade do mercado. Nos últimos anos, compradores buscaram mitigar riscos através de contratos a termo e operações em bolsa, enquanto produtores adotaram estratégias para proteger-se das oscilações de preço.

Fonte: Hedgepoint Global Markets

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