Calor elevado da La Niña pode afetar a safra de soja dos EUA

Publicado em 20/07/2010 08:20 e atualizado em 20/07/2010 11:36
Por Fernando Muraro Jr, engenheiro agrônomo e analista de mercado da AgRural Commodities Agrícolas.
Um tema aproxima a soja da Copa do Mundo neste ano: a língua espanhola. Os espanhóis, num jogo de eficiência e de poucos gols, levantaram a taça na África do Sul.

A La Niña ("a menina", na língua dos campeões mundiais), que chegou com a festa do futebol, agora ameaça roubar parte das sacas previstas para a safra 2010/11 dos Estados Unidos. O calor que faltou nos jogos e nas emoções da África do Sul sobra no Meio-Oeste norte-americano.

A primeira quinzena deste mês transformou o cinturão de produção dos EUA em um verdadeiro caldeirão. O resultado foi um rali de alta de US$ 1 por bushel na Bolsa de Chicago (cada bushel equivale a aproximadamente meia saca de 60 quilos) e os melhores preços do ano, em reais, nas principais praças brasileiras.

Em Paranaguá (PR), a saca passou de R$ 39,50 há duas semanas para R$ 43 na última sexta-feira. A especulação climática é sempre bem-vinda, ainda mais quando faz subir os preços por aqui.

Nos últimos dois anos, a safra norte-americana foi ciceroneada por um persistente clima chuvoso e frio. Em 2009, o atraso na instalação das lavouras de soja e de milho foi marcante. Tanto que o tema geadas e seus efeitos negativos sobre a produtividade rendeu especulações até o final de setembro.

Ainda assim, os Estados Unidos colheram o maior rendimento da história: média de 49,3 sacas por hectare. E olha que as chuvas continuaram até a colheita, reduzindo a qualidade do milho e provocando filas nas cooperativas e em cerealistas para secar os grãos. Cena rara em terras ianques.

Agora, em 2010, o clima foi perfeito para o plantio, com temperaturas amenas e chuvas escalonadas, do jeito que o produtor gosta.

Todavia, o mês de junho veio com chuvas acima do normal e temperaturas mais elevadas.

Em Iowa, maior Estado produtor de soja dos Estados Unidos, foi registrado o segundo junho mais chuvoso da história, com acúmulo de aproximadamente 250 mm.

O excesso de umidade no período de desenvolvimento vegetativo das plantas fez com que as raízes não se aprofundassem muito. Por isso, daqui para a frente o estrago será inevitável caso falte chuva.

O jogo, fácil no primeiro tempo para as lavouras, parece que vai ser bastante nervoso no segundo, devido à entrada em campo da La Niña, fenômeno que está associado a gols contra na produção dos Estados Unidos, por trazer temperaturas muito acima do normal, como as observadas na primeira quinzena deste mês.

Em resumo: a forte volatilidade e a imprevisibilidade sobre a maior safra do mundo devem fazer com que o mercado só sossegue, se a safra for boa, quando o verão acabar por lá.

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Fonte: Folha de São Paulo

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