Soja: Usda ignora problemas nas lavouras
O produtor Dick Blomgren, de Boone, em Iowa, foi o descobridor dos nematóides na região e agora se depara com outro problema: a morte súbita, que mata a planta e derruba, assim, a produtividade. A poucos dias do início da colheita, ele teme perdas, que em algumas regiões podem chegar a 50%. A doença não consta dos números do relatório de setembro do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) divulgado na última sexta-feira, que, contrariando a expectativa do mercado, ao invés de reduzir a produtividade em função dos problemas já relatados, ampliou o volume da nova temporada.
Ele conta que entre a primeira semana de junho até 15 de julho, teve cerca de 13 acres (pouco mais de 5 hectares) submersos em função da intensidade das chuvas. A Síndrome surgiu no começo de julho e segundo ele nunca havia aparecido tão cedo. O registro da doença, que surgiu em 1978, se deu em outros ciclos entre final de julho e começo de agosto.
“Este é o pior ano dos últimos 40”, afirma. Iowa, assim como Mato Grosso, é o principal estado produtor de soja e na safra passada atingiu a cobertura de 3,88 milhões de hectares. Blomgren cultiva nesta safra pouco mais de 1,2 mil hectares de soja e milho.
Constatando a presença da doença no sul e centro-sul de Iowa, ele aposta em uma perda global não inferior a 10%. Ele e os pesquisadores da Universidade local acreditam que a maior incidência da morte súbita pode estar em áreas com forte presença de nematóides. “Hoje a nossa maior preocupação é desvendar a morte súbita”, frisa. No ano passado, as lavouras, além dos ‘tradicionais’ nematóides – considerados terrores da produção norte-americana – sofreram a incidência dos pulgões-da-soja (Aphis glycines), que assim como outras pragas e doenças reduz o potencial produtivo, influenciando diretamente no rendimento por hectare, sem falar na necessidade da intensificação de inseticidas, o que onera o custo de produção.
Jim Legvold, produtor em Vincent, também em Iowa, planta volume menor em relação ao colega, cerca de 500 hectares, e frisa que a morte das plantas será decisiva para redução da produtividade. “A quebra é fato”. Em função dos problemas observados nas últimas safras e em função de fatores mercadológicos, ambos pensam em ampliar a área de milho em detrimento da soja, mudança que vem sendo registrada ano a ano nos Estados Unidos. “Milho não tem nematóides como na soja, não tem morte súbita e tem mercado”.
2011 – Diante da constatação de que este é o pior ano nas últimas quatro décadas, os produtores foram questionados sobre o momento de decisão sobre o planejamento da nova safra. Os norte-americanos mal concluíram o plantio e já se veem às voltas de uma escolha entre o milho e a soja. Jim Legvold explica que o rally de preços para 2011 é quem decreta a inclinação das lavouras a um ou outro grão, mas pretende manter algo em torno de 50% para cada. Já Dick acredita que com o bushell a US$ 10, vai vender a cada alta de 0,25 e isso será determinante para ele.
USDA – O relatório da última sexta-feira afirma que a produção de soja nos Estados Unidos, na safra 10/11, deve ser maior que o estimado no mês anterior, contrariando as expectativas do mercado, que previa redução. Segundo o órgão, os 93,4 milhões de toneladas estimados em agosto deram lugar para um número mais robusto, de 94,8 milhões de toneladas. O incremento se sustenta na elevação da produtividade que passou de 49,3 sacas/hectare para 50,1.
Em relação ao milho o efeito foi contrário, o mercado esperava mais, como aponta a AgRural. O Usda calculou a área de em 35,57 milhões de hectares, com produção de 334,28 milhões de toneladas e produtividade de 169,98 sacas por hectare. O mercado esperava média de 335,26 milhões de toneladas e rendimento de 170,60 sacas por hectare.