Soja do Mato Grosso tem parcela de baixa qualidade industrial

Publicado em 16/03/2011 10:02

Mato Grosso, maior Estado produtor de soja do Brasil, está colhendo a safra 2010/11 da oleaginosa em meio a um clima mais chuvoso que o normal para esta época do ano, o que leva à perda de qualidade e de preço para o produto, indicam avaliações técnicas.

Cerca de 30 inspeções em lavouras de diferentes propriedades na região de Primavera do Leste, na parte centro-sul do Estado, uma das principais áreas de cultivo no Mato Grosso, indicaram elevados índices de umidade na soja que está sendo colhida e presença, ainda que menos frequente, de grãos sem qualidade para o processamento e mesmo grãos brotando no pé.

Ainda que os produtores estejam conseguindo obter uma produtividade considerada quase normal para a região, em torno de 55 sacas por hectare, estão ocorrendo grandes descontos por parte das tradings na entrega das cargas, já que uma parte considerável da soja possui umidade bastante acima do padrão.

Técnicos integrantes da expedição Rally da Safra, organizado pela empresa de análise agrícola Agroconsult, passaram por vários municípios no centro-sul do Mato Grosso na segunda-feira e registraram praticamente o mesmo panorama: produtores apressados em retirar a soja dos campos, mesmo com altos índices de umidade, temendo que possam perder mais se arriscarem esperar por uma eventual secagem das plantas.

Na Fazenda Buriti, do grupo Bom Futuro, um dos maiores plantadores de soja no país, com aproximadamente 250 mil hectares cultivados, máquinas e caminhões estão estacionados há dez dias, período no qual conseguiram pouco progresso.

"Quando seca um pouco tentamos entrar com as máquinas, mas avançamos pouco. Acho que colhemos só uns 20 hectares nesses 10 dias", diz o gerente Márcio Viais, pouco antes de fazer novamente um teste de colheita com uma máquina para verificar a viabilidade de seguir com o trabalho.

Ele observa se os grãos de soja estão se desprendendo das vagens, o que permitiria seguir com a atividade. Em situação de elevada umidade, as vagens não debulham e acabam emperrando as colhedeiras.

Os técnicos do Rally da Safra fizeram um teste instantâneo para avaliar a umidade e registraram índice de 22,8 por cento na soja. O ideal para comercialização é de 13 por cento.

Na última carreta entregue pela fazenda no entreposto da Cargill, perto dali, uma carga de 54 toneladas recebeu um desconto de 17 toneladas, devido ao grande conteúdo de água nos grãos.

Produtores no Centro-Oeste brasileiro, uma região caracterizada por um padrão climático em geral estável, estão às voltas com problemas nesta safra.

Inicialmente, houve atraso no plantio devido à demora nas chuvas, um sinal do fenômeno La Niña. Mas depois, quando o normal para esse evento climático seria um período mais seco, as chuvas tem ocorrido com boa frequência, atrapalhando a maturação e a colheita.

No Mato Grosso do Sul, quinto maior produtor brasileiro de soja, estima-se que agricultores já tenham perdido 1 milhão de toneladas devido à impossibilidade de colher.

SEM ALMOÇO

No Mato Grosso pelo menos os agricultores estão conseguindo retirar a soja dos campos, ainda que longe das condições que gostariam.

Um pouco mais ao sul de Primavera do Leste, no município de Campo Verde, Marco Antônio Bertão, proprietário da Fazenda Boa Vista, de 1.080 hectares, também se apressa.

Ele desce rápido da colheitadeira para atender a reportagem por alguns minutos, mas logo se desculpa e retorna ao comando do equipamento.

"Minha mulher preparou o almoço, mas vou pular e seguir colhendo direto. Olha o céu como é que tá", afirma, olhando para nuvens escuras que rondam a propriedade.

A medição dos técnicos da umidade na soja já colhida mostrou 23 por cento, 10 pontos percentuais acima do exigido, situação que resultará em desconto certo na entrega do produto.

A situação é frustrante dado o bom desenvolvimento das lavouras de soja até o momento de colheita nesse ano e os ótimos preços internacionais do produto.

Franciano Santana, gerente de produção de grãos do grupo Bom Futuro, do empresário Eraí Maggi (www.bomfuturo.com.br/), resume o sentimento dos agricultores na região no momento da colheita:

"Poderia ter sido melhor, pelo ótimo estado das lavouras até agora. Não foi ótimo, mas foi satisfatório", diz Santana, enquanto acompanha 25 colheitadeiras operarem na área da Fazenda Fartura, onde foram cultivados 7.500 hectares com soja.

Santana diz que a média final de produtividade deverá ficar perto de 58 sacas por hectare, um bom patamar, apesar dos problemas de qualidade.

Com o bom nível internacional de preços, os agricultores no Mato Grosso ainda vão registrar lucros, mas menores do que esperavam.

A expedição técnica da Agroconsult vai vistoriar em seguida a região de Rondonópolis, outro importante pólo de produção de soja no Mato Grosso, e na quarta-feira segue para o Mato Grosso do Sul para verificar a extensão dos danos provocados pelas chuvas no Estado.

 

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Tags:
Fonte:
Reuters

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