Incertezas regulatórias restringem crescimento dos mercados de etanol

Publicado em 23/11/2012 07:16
Enquanto o setor sucroenergético brasileiro aguarda a implementação de políticas públicas que restabeleçam a competitividade do etanol em todo o País, a indústria de biocombustíveis nos Estados Unidos e na União Europeia sofre com a falta de definições a respeito de algumas regras que orientam a produção e a utilização do produto. A atual situação de incertezas existente nos três principais mercados de combustíveis renováveis do mundo foi um dos destaques da 15ª Conferência World Ethanol and Biofuels 2012, organizada pela consultoria F.O. Licht´s de 05 a 08 de novembro em Munique, na Alemanha, e que reuniu diversos especialistas na questão, entre eles a assessora sênior da presidência da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) para Assuntos Internacionais, Géraldine Kutas.

“Este cenário gera insegurança entre investidores e prejudica o surgimento de projetos para o futuro, algo absolutamente necessário para a expansão do setor, principalmente se considerarmos a demanda potencial por etanol nestes países,” explicou Kutas. Durante sua participação no painel “Market dynamics and patterns of global biofuels production” (Dinâmicas de mercado e padrões globais de produção de biocombustíveis), ela resumiu uma série de indefinições que afligem os mercados americano, europeu e brasileiro.

Segundo Kutas, os EUA, donos da maior indústria de biocombustíveis do planeta, enfrentam um ambiente conturbado em relação ao mandato de produção e utilização do produto feito a partir do milho. Existe uma pressão recorrente para se acabar com o Padrão para Combustíveis Renováveis (RFS2, em inglês), regulamentação que determina que se atinja a utilização de 136 bilhões de litros de combustíveis limpos por ano naquele país até 2022. A justificativa é que o uso massivo do milho na fabricação do etanol estaria encarecendo os preços da matéria-prima usada por outros setores, como o de alimentação animal.

“Sempre houve e sempre haverá ataques ao padrão de combustível renovável em função das grandes quantidades de milho absorvidas pela produção de etanol naquele pais, que chega aos 40% da produção de milho, e do papel preponderante dos EUA no comercio mundial dessa commodity,” ressaltou Kutas. Entre outros desafios que o país enfrenta para que o uso do etanol cresça, ela citou a baixa oferta do combustível E15 (gasolina com mistura de 15% de etanol) no mercado doméstico americano. 

O processo de adoção do E15 nos EUA vem gerando polêmica desde 2009. “Por desconhecimento técnico, argumentos contrários à medida sugeriram que os motores dos veículos não teriam um bom desempenho com o produto, o que os estudos da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, em inglês) já desmentiram. No final, todo este processo acabou prejudicando a comercialização do E15,” observou. 

Europa

Do outro lado do Atlântico, na Europa, a situação também é preocupante para futuros planos da indústria de etanol. Em outubro deste ano, a Comissão Europeia apresentou propostas de emendas feitas às Diretivas Europeias para Promoção de Energias Renováveis (RED, em inglês) e à Qualidade dos Combustíveis (FQD, em inglês), legislações que orientam o uso de fontes alternativas ao petróleo na União Européia. As recomendações propõem a aplicação de medidas que limitam os efeitos das chamadas mudanças indiretas do uso da terra (ILUC, em inglês) atribuídos aos biocombustíveis.

“A futura demanda por etanol na UE, inicialmente projetada para atingir cerca de 14 bilhões de litros anuais até 2020, agora está difícil de estimar por conta deste processo, que deverá transcorrer no parlamento até o segundo semestre de 2013,” analisou Kutas durante o evento em Munique. Programas que prevêem a mistura de 10% de etanol à gasolina (E10) em diversos países europeus vêm enfrentando dificuldades para avançar, exceção feita à Alemanha, França e Finlândia. Na Suécia, onde circula a maior frota de ônibus do mundo movida a etanol, o E10 dever ser adotado em 2014.

Brasil

Já no Brasil, o setor tenta recuperar a competitividade do etanol hidratado (abastecido direto da bomba) frente à gasolina, que nos últimos anos teve seu preço mantido artificialmente baixo, sem seguir as cotações internacionais do petróleo. Segundo cálculos da UNICA, a produção brasileira de cana necessita dobrar até 2020, chegando a algo próximo de 1,2 bilhão de toneladas por ano. Só assim será possível manter uma participação de 50% do mercado mundial de açúcar, abastecer metade da frota doméstica de carros flex e exportar etanol para os principais mercados estrangeiros.

“Podemos atingir esta meta, desde que haja políticas públicas que reconheçam o potencial de um segmento responsável por gerar oito vezes mais emprego do que o petróleo no Brasil,” finalizou Kutas no painel moderado pelo diretor da F.O. Licht´s, Cristoph Berg, e que também teve as presenças do diretor de Negócios e Estratégias para o Açúcar e Etanol da Bunge, Simon Mitchell, do diretor da empresa Greenergy, responsável por 25% dos combustíveis distribuídos no Reino Unido, David Rees, e do presidente da Katzen Internacional, Phil Madson.

Presente no evento de Munique graças à parceria da UNICA com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Kutas teve a oportunidade de debater o atual cenário da produção mundial de combustíveis renováveis em mais três painéis durante a conferência, presidindo, ela própria, duas dessas sessões. Uma dessas sessões examinou o potencial do etanol de cana na Argentina, Paquistão, Quênia e Serra Leoa, e outra abordou o desenvolvimento de políticas públicas para consolidação da indústria de biocombustíveis.
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Fonte:
Unica

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