Fim do regime de cotas de açúcar na UE pode levar bloco a produzir maior volume desde a safra 2005/06

Publicado em 21/03/2017 15:13
Com o fim de mudanças regulatórias que travam o mercado de açúcar, União Europeia incrementará produção, diminuindo a dependência da importação do adoçante

O mercado de açúcar se prepara para uma das principais mudanças regulatórias da década em outubro de 2017. A partir deste mês as usinas da União Europeia – cuja produção hoje é limitada por rígido sistema de cotas – poderão produzir quanto quiserem e destinar este produto tanto no mercado doméstico quanto externo.

Com essas medidas, e supondo um cenário climático normal, a INTL FCStone estima que o bloco poderá produzir 18,24 milhões de toneladas de açúcar na safra 2017/18, o que representa um aumento de 16,6% em relação à estimativa da consultoria para a safra atual. Esta seria a maior produção no bloco desde 2005/06, quando a mesma registrou 19,3 milhões de toneladas. “A produção ficaria em torno de 400 mil toneladas abaixo de nossa estimativa para a demanda doméstica do bloco, reduzindo drasticamente a necessidade de importações do continente”, lembra o analista de mercado da INTL FCStone, João Paulo Botelho.

Em relatório, a consultoria explica que a produção de açúcar tende a se elevar conforme os produtores mais eficientes buscam aumentar sua participação no mercado, reduzindo as importações. No médio prazo, o bloco pode se tornar exportador líquido de açúcar. Por outro lado, o consumo pode diminuir devido à eliminação das cotas de produção do xarope de glicose, que deve competir diretamente com o açúcar.

Há de se atentar, também, para o fato de que o fim das cotas de produção e do preço mínimo sobre o açúcar e a beterraba tornará mais complexo o processo de decisão das empresas açucareiras europeias. Primeiro, as usinas devem decidir quanto do adoçante pretendem produzir, considerando o nível de preços esperado, além da estratégia comercial e de risco que será adotada. Em segundo lugar, precisam negociar com seus fornecedores de beterraba qual será o preço/sistema de remuneração que será adotado, procurando garantir que os incentivos sejam suficientes para que os agricultores plantem a área necessária e façam os investimentos essenciais para que a produção final de beterraba possa alcançar o volume esperado pela usina.

Para a safra 2017/18 a maioria destas decisões já foi tomada. Com os preços internacionais em patamar relativamente elevado, a maioria das grandes produtoras de França, Alemanha, Reino Unido e Holanda incentivaram seus fornecedores a aumentar em até 30% a área plantada, com o objetivo de aumentar o share no mercado europeu e, possivelmente, até exportar o produto. A negociação com os agricultores, entretanto, foi muito diferente entre as empresas.

“Pelas informações que circularam no mercado podemos aferir que a maior parte das empresas ofereceu preço da beterraba inferior à safra passada, devido principalmente à perspectiva de que o preço do açúcar na UE convirja para a cotação internacional”, explica o analista Botelho. Mesmo considerando os preços mais baixos, a maioria dos agricultores deve aumentar a área plantada devido à maior remuneração oferecida pela beterraba em relação às culturas concorrentes.

Algumas empresas também ofereceram prêmio para os produtores que alcançarem meta de aumento na área plantada ou para o produto entregue tardiamente (a partir de janeiro), possibilitando assim o alongamento da safra. Na maioria dos casos, as usinas ofereceram possibilidade de que os fornecedores participem da alta no preço do açúcar caso o mesmo ultrapasse determinado nível (em geral ao redor de €450/t).

Nos países menos eficientes do bloco, como Espanha, Itália, Grécia e Romênia, mesmo com os subsídios oferecidos pelos respectivos governos, é esperado que a produção de açúcar perca força. Com preços menores no continente, é improvável que as empresas destes países consigam competir com o produto dos vizinhos mais competitivos, levando à perda de participação no mercado.

Destaca-se, ainda, que as exportações brasileiras de açúcar devem ser impactadas negativamente, apesar de a participação do continente já ser muito baixa. Ao longo dos últimos três anos o bloco respondeu por pouco mais de 2% das vendas externas do país, com compras entre 400 e 800 mil toneladas do produto por ano. As usinas do Nordeste, que possuem cotas com tarifas preferenciais, devem ser mais impactadas.

Principais mudanças

• Cotas de produção serão eliminadas. Todas as usinas poderão produzir quanto açúcar quiserem, podendo vender o produto em todo o bloco e exportar.

• O limite de exportação de 1,374 milhões de toneladas será abolido.

• Os preços mínimos para a beterraba e para o açúcar serão eliminados. Desta forma, os preços da matéria-prima e do produto final serão definidos exclusivamente pelo mercado.

Sistema de cotas

O regime de cotas em seu formato atual foi instituído em 2005 como resposta à contestação de modelo anterior de apoio ao setor na Organização Mundial do Comércio (OMC). A principal mudança implementada em 2005 e que ainda está em vigor é um limite de 1,374 milhões de toneladas para as exportações de açúcar do bloco. Com este limite, a UE reduziu substancialmente sua participação no mercado internacional do adoçante e, com isso, impediu que as proteções em vigor para os produtores tivessem impacto deflacionário sobre os preços globais.

Em conjunto com emaranhado de regulações e preços mínimos, o sistema atual tem como principais objetivos proteger a indústria europeia da competição externa, garantir o suprimento para os consumidores domésticos e a importação de produto de antigas colônias, tudo isso sem impacto excessivo sobre o mercado internacional.

O bloco europeu é responsável, hoje, por aproximadamente 11% da oferta global de açúcar, sendo o terceiro maior produtor e o segundo maior consumidor da commodity. Desta forma, a mudança regulatória radical pela qual o setor açucareiro europeu passará deve reverberar por todo o mundo.

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Fonte:
INTL FCStone

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