Dependência de cana própria agrava dívida da Sta. Terezinha e deixa bancos expostos com créditos acima de R$ 450 mi

Publicado em 25/03/2019 15:53
Usina de grupo paranaense pediu recuperação judicial na sexta (22)

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O pedido de recuperação judicial da Usina Santa Terezinha pegou de surpresa os principais credores do grupo paranaense Usaçúcar, com exposições preocupantes da dívida, e reacende o alerta sobre a capacidade operacional de empresas com 100% de cana própria e em regiões sem fornecedores.

São R$ 4,6 bilhões em dívida - não informadas oficialmente na nota divulgada, mas avaliadas pelo mercado - que vinham sendo negociadas com 18 bancos, quando a empresa de Maringá descobriu que o Banco Votorantin entrara com pedido de execução de sua parte, avaliada em R$ 150 milhões. "O grupo teve que se defender pedindo a recuperação judicial", avalia um consultor familiarizado com toda a situação.

Segundo ele, desde sexta-feira, quando o Usaçúcar protolocou o pedido, o Rabobank, Bradesco, Itaú e Santander estão "nervosos" tentando entender a motivação do Votorantin, já que em 2016 já havia sido feita uma renegociação positiva. Estas instituições estariam entre as mais expostas, algumas com créditos a receber acima de R$ 450 milhões, ainda de acordo com interlocutor do Notícias Agrícolas, executivo de uma grande consultoria e auditoria.

Sem fornecedores

"Além da queda do açúcar no mercado internacional, mais o carrego da situação gerada pelo engessamento do preço da gasolina no governo Dilma, a empresa há anos vem passando por problemas de matéria-prima, agravado em 2018 com a quebra acentuada pela seca prolongada", avalia.

Mesmo isso sendo visto como um gargalo adicional à recuperação da Santa Terezinha, uma das 12 unidades do grupo no Paraná, o consultor via nos maiores credores muita disposição em solucionar a renegociação. O Usaçúcar é considerado um grupo sério, com boa governança.

Porém, escorregou há alguns anos não renovando em boas taxas os canaviais, o que teria sido um fator mitigador dessa situação conjuntural própria da sucroenergia paranaense. O estado praticamente não conta com fornecedores independentes para complementar com a cana própria por contrato ou mesmo para o um socorro no mercado spot.

Um importante agente do setor no Paraná, também sob anonimato, classifica o perfil paranaense produtivo, sem a ausência de produtores independentes, como perigoso, o que exige das usinas uma controle absoluto das operações campo-indústria.

"Muita capacidade ociosa gera perda de eficiência e sem geração de caixa para amortizar a dívida as coisas vão se complicando em períodos como os atuais, com as torneiras para tomada de recursos novos fechadas para a maioria das empresas do setor", complementa o consultor.

Bancos

O jogo agora, com a recuperação judicial, está zerado e a empresa vai ter que fazer propostas que podem não agradar mais os credores, com a mediação do Judiciário, e as negociações podem se arrastar por muito tempo. Lembrando ainda da situação de credores que estão em primeiro da fila do recebimento, entre os quais os funcionários.

Nenhuma das empresas envolvidas comentam a situação da Usina Santa Terezinha, mas o estado de ânimo das instituições financeiras ficam mais azedados com a maioria dos grupos de sucroenergia. A lista de recuperação judicial, já com mais de 70 CNPJs, já cresceu este ano com a Usina Carolo, além de duas ou três de 2018, fora as falências dos últimos anos.

Há também situações que se agravam, deixando os bancos mais distantes de recuperarem parte dos recursos emprestados, como o do grupo indiano Renuka cujo leilão da unidade Revati foi fracassado e nova assembleia foi remarcada para decidir o andamento. Cogita-se, entre os fornecedores de cana, até o pedido de falência.

Para além do efeito sistêmico, vale lembrar que instituições como o Rabobank vão ter que provisionar dívidas contraídas e não pagas por outras empresas do agronegócio. Também como se comenta no mercado, a instituição holandesa, uma das principais financiadoras do agronegócio brasileira, está exposta em R$ 46 milhões junto ao grupo Itaquerê, do Mato Grosso, que ingressou com pedido de recuperação judicial com dívida de quase R$ 400 milhões.

No caso da Santa Terezinha mais especificamente, o que chama atenção do consultor que traçou o quadro acima para o Notícias Agrícolas, é que se cogitava no mercado a intenção do Banco Votorantin em fazer um IPO (sigla em inglês para Oferta Pública de Ações).

Agora, o valor da dívida vai ter que ser provisionado e vai impactar o balanço.

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Por:
Giovanni Lorenzon
Fonte:
Notícias Agrícolas

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