Mercado de açúcar - JÁ VAI TARDE
O mercado de açúcar em NY fechou a semana com queda média de 13 dólares por tonelada para os vencimentos que cobrem a safra 2010/2011, 6 dólares para os vencimentos da 2011/2012 e 6 dólares de ganho médio para a 2012/2013. Continua a não haver pressa para fixar as próximas duas safras.
O contrato futuro com vencimento para maio expirou na sexta-feira com a entrega física de aproximadamente 280.000 toneladas. A trading baseada em Genebra foi a única recebedora (que surpresa!!) enquanto 3 tradings praticamente se dividiram na entrega. Nada de novo. Maio expira sem deixar saudades. Um gostinho de já vai tarde na boca.
A notícia boa para os altistas é que parece que encontramos um nível de preço que começa a atrair lentamente interesse no mercado físico. Os preços devem voltar a patamares mais palatáveis (leia-se, pagando os custos de produção mais custos financeiros, pelo menos). De qualquer forma, para os consumidores industriais, os níveis atuais representam excelente oportunidade para travar custo da matéria prima. A menos que exista alguém que acredite em preços em queda livre.
A previsão de safra da Archer Consulting para o Centro Sul em 2010/2011, obtida por modelo matemático, que leva em consideração mais de 10 parâmetros, é de 588,05 milhões de toneladas de cana, divididas entre 33,016 milhões de toneladas de açúcar e 27,003 bilhões de litros de etanol. A produção total de cana no Brasil para esta safra não será suficiente para o quadro de demanda que se avizinha principalmente se levarmos em consideração a previsão de crescimento da venda de veículos leves de até 7,6%, segundo a MB Associados. Teremos muito provavelmente um quadro de oferta bem sensível no final do ano.
Gostaria de repetir aqui, o que dissemos no comentário semanal de 15 de fevereiro de 2010: A alta do mercado foi dia 1º de fevereiro quando o açúcar bateu 30,40 centavos de dólar por libra-peso. A última vez que o mercado negociou nesse nível foi em 15 de janeiro de 1981 quando o bateu 30,65. Agora a curiosidade: duas semanas após esse evento o mercado desabou 500 pontos e em maio daquele mesmo ano estava negociando 15 centavos de dólar por libra-peso! Pense nisso se estiver sentado em cima de vendas não fixadas. Ô boca.
A falta de açúcar de qualidade no mercado interno é responsável pela manutenção da enorme diferença entre o preço da ESALQ e as cotações de NY. As duas estavam andando muito próximas até meados de março, considerando os últimos 250 dias (um ano) ou mesmo 500 (dois anos), com correlação acima de 85%. Apenas recentemente é que a coisa degringolou. Nossa previsão é que ESALQ deva começar a refletir NY com maior proximidade no máximo em 2-3 meses. Enquanto isso, quem precisa de açúcar no mercado interno e não fez seguro de preços, dançou.
Agora sabe-se que um fundo de NY, capitaneado por um manjado operador de commodities, ganhou US$ 46 milhões com a queda do açúcar. A posição do fundo era de aposta que os preços iriam cair quando o mercado ainda estava em 20-22 centavos de dólar por libra-peso em outubro passado. Quando os preços chegaram a 30,40 centavos de dólar por libra-peso o operador, que amargava um enorme prejuízo nas suas posições futuras vendidas, começou a comprar puts (opções de venda) baratas fora do dinheiro chegando a 30.000 lotes. Os operadores de pregão pensavam tratar-se de algum grande investidor que comprava essas opções como hedge de suas posições (compradas) no futuro. Alguns acham que essa operação foi a de maior lucro no mercado de açúcar na história recente, proveniente de uma única operação. Quem estaria do outro lado? Bem, pode ter sido um daqueles lunáticos que disseram (veja nosso relatório de 28 de setembro do ano passado) que o açúcar chegaria a 66 centavos de dólar por libra-pe so em junho de 2010. Ainda tem tempo.
Os fundos de índice (um tipo de fundo mútuo com um portfólio construído para combinar ou rastrear os componentes de um índice do mercado, como um CRB, por exemplo) continuam comprados 172.000 lotes (8,7 milhões de toneladas). Pense no que pode acontecer ao mercado se o controle que o Obama pretende ter sobre ele se efetivar e obrigar aos fundos limitarem ou reduzirem suas atividades especulativas. Pense novamente.
Para os corajosos: o straddle, put (opção de venda) e call (opção de compra) com o mesmo preço de exercício e vencimento, de 15,50 centavos de dólar por libra-peso para vencimento outubro negocia a 300 pontos. Ou seja, você pode ficar vendido no vencimento a 18,50 ou comprado a 12,50. A volatilidade está em 39% faltando 140 dias até o vencimento. Precisaria chegar a 65% faltando 50 dias para você passar algum suor.
No Fundo Fictício da Archer Consulting, estamos comprados em 1.375 lotes equivalentes no delta, no julho/2010. Vamos rolar as 1.636 calls (opções de compra) de preço de exercício de 20 centavos de dólar por libra-peso para baixo, diminuindo a posição. Vamos fazer isso na segunda-feira, usando o preço de exercício de 17 centavos de dólar por libra-peso, num volume que diminua a exposição para 1.000 lotes comprados. Na semana, o lucro acumulado caiu para US$ 3.350.954,26 (retorno anualizado de 203,32%). Perdemos mais de US$ 500.000,00 na semana em função da queda do mercado.
Uma excelente semana para todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
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