Clima seco pode prejudicar a safra de cana na maior parte da região Centro-Oeste

Publicado em 02/08/2010 16:40
Fenômeno deverá reduzir a produtividade da cana ainda a ser colhida e antecipar o final da safra na maior parte das regiões produtoras do Centro-Sul

A moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul do Brasil atingiu 39,67 milhões de toneladas na primeira quinzena de julho, queda de 4,95% comparado com a quinzena anterior. Esse recuo se deve à ocorrência de chuvas durante a quinzena, ainda que em baixa intensidade, em algumas regiões produtoras. No acumulado desde o início da safra até 15 de julho, a moagem totalizou 255,19 milhões de toneladas, crescimento de 20,26% em comparação com o mesmo período da safra 2009/2010.

 

Segundo o Diretor Técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Antonio de Padua Rodrigues, “esse avanço na moagem deve ser avaliado com muita cautela e qualquer extrapolação para as demais quinzenas do que ocorreu desde o início desta safra pode levar a um resultado equivocado”. Segundo o executivo, pode-se afirmar que mais de 50% do incremento da moagem observado até o momento deve-se à antecipação do início da safra.

 

O clima mais seco ao longo da atual safra, com chuvas abaixo da média histórica, permitiu um sensível avanço na colheita. Porém, o mesmo fenômeno também deverá reduzir a produtividade agrícola da cana ainda a ser colhida e antecipar o final da safra na maior parte das regiões produtoras do Centro-Sul. Isso deve levar a uma entressafra mais longa, voltando ao padrão histórico, que foi alterado nas duas últimas safras com inícios antecipados e encerramentos que foram além do período habitual. Mais importante, existe a possibilidade de colheita em áreas em que a cana não completou totalmente o seu ciclo de desenvolvimento, ou seja, a cana de final de safra poderá ser colhida com menos de 12 meses.
 

De acordo com Rodrigues, “ao contrário do que imaginam alguns analistas, a grande dúvida em relação ao tamanho da atual safra não está na quebra de produtividade agrícola que estamos observando, mas sim na decisão de realizar, nas semanas finais da safra, a colheita precoce da cana colhida no final de 2009 e início de 2010.” Durante esses meses, que tipicamente seriam de entressafra, foram colhidas cerca de 27 milhões de toneladas de cana.

 

Com a perspectiva de antecipação do término da safra, os produtores terão essencialmente duas alternativas: colher esses 27 milhões de toneladas de cana mais cedo com significativa perda de biomassa, ou postergar a colheita dessa área para o início da safra 2011/2012. Essa opção é que definirá a quantidade final de cana a ser moída no Centro-Sul, concluiu o executivo da UNICA.

 


Qualidade da matéria-prima - Na primeira quinzena de julho, a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de cana-de-açúcar ficou em 146,50 kg, ante 135,60 kg obtidos na mesma quinzena da safra 2009/2010. No acumulado desde o início da safra, a concentração de ATR aumentou em 3,80% em relação ao mesmo período de 2009, totalizando 130,80 kg de ATR por tonelada de cana.

 

Da quantidade total de cana processada na primeira quinzena de julho, 45,17% destinou-se à produção de açúcar e 54,83% ao etanol. A proporção da cana direcionada à produção de açúcar alcançou 44,03% no acumulado desde o início da safra, mantendo o mix ligeiramente mais açucareiro em relação à safra anterior.

 

Com esse resultado, a produção de açúcar totalizou 2,50 milhões de toneladas na primeira quinzena de julho, um crescimento de 25,75% em relação a 2009. A produção de etanol também aumentou 25,28% nesse mesmo período, alcançando 1,86 bilhão de litros. Do início da safra até 15 de julho, a produção de açúcar totalizou 14,00 milhões de toneladas, enquanto a produção acumulada de etanol somou 10,92 bilhões de litros, dos quais 8,18 milhões de etanol hidratado e 2,74 milhões de anidro.

 


Vendas de etanol - As vendas de etanol pelas unidades produtoras da região Centro-Sul somaram 1,15 bilhões de litros nos primeiros 15 dias de julho, alta de 4,45% comparado com a quinzena passada. Desse total, foram vendidos 331,73 milhões de litros de etanol anidro e 817,43 milhões de litros de hidratado.

 

O volume destinado ao mercado externo na atual safra permanece aquém dos níveis observados em safras anteriores. Entre abril e a primeira quinzena de julho, as exportações somaram 668,22 milhões de litros, contra 1,21 bilhão registrados em igual período de 2009. No sentido contrário, as vendas para o mercado doméstico continuam aquecidas e devem superar o volume comercializado na safra passada.

 

Na primeira quinzena de julho, as vendas internas de etanol hidratado alcançaram 740,24 milhões de litros, alta de 3,03% em relação aos últimos 15 dias de junho. No mesmo período, o volume de etanol anidro destinado ao mercado doméstico aumentou em 15,64%. No acumulado de abril até a primeira quinzena de julho, este crescimento foi de 1,03% comparativamente a 2009: 1,80 bilhão de litros, contra 1,78 bilhão no último ano.

 

Para Antonio de Padua Rodrigues, "o consumo de etanol no mercado interno deverá ser superior ao valor observado na última safra. A demanda por etanol combustível é crescente, devido ao volume de veículos flex comercializados, que permanece elevado. Além disso, o consumo do etanol para outros fins destinado ao mercado doméstico deverá bater recorde nessa safra devido, principalmente, ao incremento de demanda pela indústria alcoolquímica”. O uso de etanol para esse setor é um novo driver de demanda no mercado interno que merece atenção, acrescentou o executivo.
 


Até 15 de julho, a produção e a comercialização de etanol ocorreram dentro do cenário previsto no início da safra: o volume disponível para consumo é maior do que aquele observado no mesmo período do ano anterior, em função do aumento da produção e da redução das exportações. Portanto, eventuais dificuldades de abastecimento, pontuais e localizadas, não tem qualquer relação com a disponibilidade de etanol nas unidades produtoras. “Estamos em plena safra e o comprador pode encontrar etanol para a venda em praticamente todas as unidades produtoras do Centro-Sul”, acrescenta Rodrigues.

 

No que se refere aos preços do etanol, cabe destacar que os mesmos são determinados pelas leis de oferta e demanda. Além disso, qualquer comparação com o último ano deve ser tomada com cautela, já que 2009 foi um ano extremamente atípico: as empresas foram impactadas pela crise financeira mundial em um momento em que estavam altamente alavancadas, devido aos investimentos realizados para a expansão da capacidade produtiva. Isto resultou em preços extremamente deprimidos no período de safra, com valores que sequer cobriam os custos operacionais de produção, seguidos de preços elevados durante a entressafra em função das chuvas que dificultaram a colheita na segunda metade da safra.

 

Para este ano, espera-se um cenário menos volátil do que o observado no ano passado, quando a elevada sazonalidade de preços gerou uma diferença que chegou a 113% entre o menor e o maior preço pago na usina pelo etanol. Entre os ingredientes que podem trazer mais estabilidade está a linha de crédito lançada recentemente para financiamento de estoques – a chamada warrantagem, desenvolvida para equilibrar a oferta entre os períodos de safra e entressafra.

 

Por fim, é importante frisar que o movimento de preços nas usinas não é necessariamente o mesmo verificado nos postos de combustível. O preço pago ao produtor representa apenas uma parcela na composição final do preço do etanol para o consumidor. O preço na bomba é definido por diversos fatores, que incluem os custos de transporte, as diferentes alíquotas de ICMS adotadas em cada estado e as margens praticadas na distribuição e na revenda do produto. Dessa forma, qualquer análise, seja ela regional ou temporal, sobre o preço de bomba do etanol deve ser realizada de forma sistêmica, avaliando os impactos causados por cada um dos elos da cadeia.

Fonte: Ascom Unica

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