À sombra da cana, amendoim desponta no interior paulista
De Jaboticabal e região parte o amendoim para os usos mais nobres da indústria alimentícia, não só nacional mas do exigente mercado europeu. Os salgadinhos estão no topo da pirâmide, por exigir grãos inteiros e claros. Torrones e chocolates sucedem os "snacks" na escala de qualidade do produto. Por fim, paçocas e doces diversos que só perdem em virtudes para o amendoim esmagado para produção de óleo de cozinha e ração.
Dessa região também vem o modelo "cana-amendoim", que está sendo replicado a outras regiões de São Paulo para onde os canaviais avançaram no lugar das pastagens - com as quais o amendoim já fazia parceria como cultura de rotação.
A produção nacional dessa oleaginosa está na casa das 300 mil toneladas - apesar da queda no ano passado, resultado da menor renovação dos canaviais. Desse total, cerca de 230 mil toneladas, ou 76%, são originadas em São Paulo - o restante se distribui no Paraná, Minas e Mato Grosso.
Jaboticabal é considerada o epicentro do amendoim, que também tem outro forte polo de produção nas tradicionais regiões paulistas de Marília e Tupã. Não só pela forte produção local e dos municípios vizinhos, mas por sediar a maior cooperativa brasileira de produtores de amendoim, a Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana), que neste ano iniciou investimentos de R$ 30 milhões para expandir em 20% a capacidade de recebimento e processamento do grão.
O projeto inclui a construção de uma nova fábrica, que vai permitir automatizar 100% dos processos da unidade, que tem capacidade para receber (pré-limpeza, secagem, limpeza, envase e armazenamento) e processar (descascar, tirar película e padronizar) 50 mil toneladas de amendoim em casca, que resulta em uma produção final de 36 mil toneladas do grão.
"Somos pequenos produtores de cana e grandes de amendoim", diz Roberto Cestari, vice-presidente da Coplana. Isso porque, em área própria, geralmente de menor dimensão, é que os produtores cooperados entram com cana. Para cultivar amendoim, arrendam áreas de grandes produtores de cana e de usinas. Walter Aparecido de Souza, o maior produtor de amendoim da cooperativa, planta 800 hectares da oleaginosa por ano, sendo que 80% em área arrendada. Como haverá maior área de renovação de canavial, este ano ele vai conseguir plantar 15% a mais.
Natural de Jaboticabal, Souza diz que a vantagem da roça de amendoim é que ela gera lucro mesmo em áreas muito pequenas, o que não ocorre com a soja. Ainda, demanda menos investimento em maquinário. "Você pode plantar amendoim em uma área de 50 hectares. Mas soja não é viável em menos de 250 hectares", diz Souza.
O que acontece com o amendoim, diz o produtor, é que ele demanda muito manejo. Somente de inseticida e fungicida são oito aplicações de cada um. De herbicida, mais uma dose. "Durante a safra, o manejo é muito intensivo e o produtor não sai do campo. Por isso, dizem, não costuma nascer filho de produtor nove meses depois da safra", brinca o produtor.
Os 160 produtores associados da Coplana - que tem como um dos fundadores Antonio Rodrigues Filho, pai do ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues - colheram na safra 2009/10 44 mil toneladas de amendoim em casca, 20% da produção nacional. São também os principais exportadores do país com 16 mil toneladas, das 42 mil toneladas que devem ser enviadas ao exterior neste ano.
O amendoim é uma oleaginosa de origem sul-americana e que, no Brasil, começou a ser cultivada na década de 40, também em São Paulo, para produção de óleo de cozinha e farelo. O país chegou a ser um dos principais produtores mundiais do grão e produzia o dobro dos volumes atuais, diz Renata Martins, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Até que problemas de sanidade - marcados pela elevada incidência do fungo aflatoxina - provocaram o declínio da cultura, intensificado com o fortalecimento da soja como fonte de óleo para alimentação, conta Renata. A partir do fim dos anos 90, iniciou-se movimento para recuperar a cultura.
O primeiro passo foi a substituição da variedade rasteira por uma mais verticalizada para permitir a mecanização da colheita. Essa variedade também traz grãos maiores e mais claros, muito demandados pelas empresas europeias.
Dos anos 2000 para cá, já com mais tecnologia, a produção expandiu 75%. O ganho de produtividade, devido ao uso de mais tecnologia, subiu 60%. "Em Jaboticabal, a produtividade dobrou para 180 sacas de 25 quilos nos últimos anos", orgulha-se Cestari.