Com excedente, EUA exportam etanol

Publicado em 16/09/2010 08:28
Com excedentes em seu mercado interno, os Estados Unidos já exportaram neste ano, apenas entre janeiro e abril, mais de 450 milhões de litros de etanol feito de milho, segundo a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) daquele país - e uma pequena parte desses embarques, surpreendentemente, veio para o Brasil, conforme traders da área.

Há cerca de um mês, o litro do galão (3,78 litros) oscilava entre US$ 1,60 e US$ 1,80 no mercado americano, ante os atuais patamares de US$ 2,20 a US$ 2,30. Isso tornou o etanol de milho americano até mais competitivo do que o etanol de cana do Brasil na maior parte do primeiro semestre.

O resultado é que os Estados Unidos voltaram a exportar volumes mais expressivos de etanol, como em 2007 e 2008. Em 2008, quando as exportações americanas alcançaram seu recorde, foram embarcados mais de 600 milhões de litros. Pouquíssimo se comparado ao volume brasileiro, mas ainda assim suficiente para seduzir alguns clientes até então cativos.

"Os americanos encontraram o caminho para exportar", afirma Eduardo Correa, diretor da área de Etanol e Energia da trading sueca Kolmar, que atua também nos mercados de química, petroquímica e petróleo. A estimativa é de que em torno de 50 milhões de litros vieram para o Brasil.

Correa esclarece que, neste momento, as margens para exportação a partir dos EUA já não estão mais atrativas, pois nas últimas cinco semanas a disparada do milho puxou também as cotações do biocombustível. "No entanto, se os preços lá baixarem e os daqui continuarem firmes, outros mercados, como o europeu e o asiático, podem repetir o feito e preferir importar dos Estados Unidos do que do Brasil", diz

No ano passado, segundo ele, o etanol brasileiro foi responsável por 80% do que a União Europeia importou do produto. Neste ano, esse percentual recuou para 50%.

Neste ano-safra, o 2010/11, o Brasil deve embarcar 1,7 bilhão de litros de etanol, 2 bilhões de litros a menos do que na temporada anterior. Da diferença, 1,2 bilhão se referem a volumes que foram em 2009 para os Estados Unidos, mercado que neste ano se fechou. Os outros 800 milhões eram destinados a outros mercados e que foram abocanhados por "novos" ofertantes, sendo que os Estados Unidos ficaram com cerca de 500 milhões desse volume, segundo Tarcilo Rodrigues, da Bioagência. A fatia restante ficou dividida com outros pequenos produtores de etanol, como México, Paquistão e até Argentina, afirma Rodrigues.

No Brasil, a estimativa é que desde o fim de dezembro do ano passado em torno de sete navios tenham atracado com etanol americano, com um total de 50 milhões de litros, diz Renato Leite Bastos, diretor de exportação e logística da SCA, maior empresa de comercialização de etanol do Brasil.

O volume é, obviamente, irrisório se considerar que a produção somente do Centro-Sul será superior a 26 bilhões de litros. "As importações não ocorreram por problemas de abastecimento. Mas porque havia oportunidade econômica", diz Correa.

Apesar das especificações técnicas do etanol brasileiro serem diferentes das do produto americano, as cargas que chegaram foram produzidas sob medida dentro das normas brasileiras. "Temos notícias de apenas um navio que não descarregou porque as especificações estavam diferentes", diz Correa.

As compras foram feitas, segundo especialistas do setor, por distribuidoras e também por grandes usinas que viram oportunidades de negócios no baixo preço do etanol americano. E de fato havia, conta Correa. Isso por uma conjunção de fatores, a começar pelo câmbio no Brasil que torna o produto importado mais barato. Ainda, porque os preços domésticos do biocombustível estão mais estáveis e, pelo menos, 20% mais altos do que em 2009.

Corrêa explica que mesmo quando o galão do etanol (anidro) bateu US$ 2 nos Estados Unidos - na maior parte deste ano esse valor ficou entre US$ 1,60 e US$ 1,80 - ainda compensava importar para o Brasil, mesmo com frete e outras despesas portuárias. Isso porque o produto chegava aqui a R$ 1,05 mil o metro cúbico (1.000 litros), enquanto que, naquele momento, o anidro brasileiro estava na casa dos R$ 1,1 mil o metro cúbico, detalha Correa.

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Fonte:
Valor Econômico

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