Cana ficará mais cara para usinas de SP

Publicado em 05/05/2011 07:43
As usinas de São Paulo, o maior Estado sucroalcooleiro do país, devem juntas elevar em mais de R$ 320 milhões os gastos com aquisição de cana-de-açúcar nesta safra 2011/12. Sete anos após a última revisão, usinas e plantadores de cana concluíram um novo ajuste do sistema de pagamento pela matéria-prima do Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool de São Paulo). Na prática, a revisão significa que as usinas pagarão aos fornecedores um valor 1,58% maior pela matéria-prima.

Apesar do relativo consenso, no fundo, o percentual não agradou aos plantadores de cana do Estado, que esperavam que esse ajuste ficasse entre 3,5% e 4%, segundo apurou o Valor.

Claramente decepcionado com o desfecho das negociações, o presidente da Organização dos Plantadores de Cana do Centro-Sul (Orplana), Ismael Perina, apenas confirmou o percentual de aumento e afirmou que a entidade vai contratar novos estudos, de uma consultoria independente, para tentar aprofundar a discussão.

A revisão, no entanto, já vale para esta safra que está em curso. Basicamente, foram duas alterações. A primeira foi a redução das perdas do processo nas usinas que no sistema anterior era de 9,5% e agora foi redimensionada para 8,5%, explica Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). "Com isso, em toda a cana analisada será computado 1,1% mais de Açúcar Total Recuperável (ATR)", diz Rodrigues.

O segundo ponto foi a melhoria da fermentação, que saiu de 88% para 88,8%. A partir dessa atualização, uma usina mais açucareira pagaria 1,1% mais pela cana e uma só de etanol, 1,9% mais. "Na média, considerando uma usina com mix de 50% para cada produto, o valor pago pela cana fica 1,58% maior", afirma.

Considerando as mesmas condições da safra 2010/11, cujo preço da cana fechou em R$ 57 por tonelada, o ajuste elevaria esse valor em mais R$ 0,90 por tonelada, ou seja, a R$ 57,90.

Essa foi a segunda revisão da metodologia desde que o Consecana foi criado, em 1999. A última foi feita há sete anos. De lá pra cá, a composição de custos de produção mudou, o sistema industrial se aperfeiçoou, mas nada disso estava contemplado nos cálculos de preços pagos pela cana. A matéria-prima é o principal componente do custo da usina. Segundo cálculos da Unica, a cana responde por 59,5% do custo de fabricação do açúcar e 62,1% do custo do etanol.

Produtores de cana ouvidos pela reportagem e que preferiram não se identificar, avaliam que os fornecedores ficaram sem muita força para negociar, diante da concentração de usinas, que entraram nas discussões mais fortalecidas.

Durante as rodadas de negociações, chegou-se a revisões que significavam até 2% de aumento. Mas a pressão das usinas, segundo esses fornecedores, foi intensa e o percentual recuou para 1,7%, até fechar a 1,58%.

Os mesmos fornecedores admitem, no entanto, que a concentração e a entrada de grandes grupos capitalizados trouxeram também efeitos positivos. Entre eles, a redução dos índices de atraso e inadimplência no pagamento pela cana a níveis mínimos - os atrasos eram comuns no período que antecedeu a entrada de multinacionais e grandes empresas no setor. "Além disso, elas são mais capitalizadas e conseguem administrar estoques e evitar preços muito baixos", disse um dos produtores de cana.

Mas, acrescentam eles, ainda há questões que precisam ser mais bem avaliadas, sobretudo as relativas aos volumes de comercialização de açúcar no mercado - interno e externo.

Pádua, da Unica, afirma que as negociações duraram dois anos e que a decisão foi consensual entre produtores e usinas. "Tratou-se de uma transferência da eficiência da usina para o fornecedor", diz o executivo da Unica.

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Fonte:
Valor Econômico

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Sr. João Batista, as noticias são veiculadas com um viés “positivo” aos polos dominantes. No artigo, comentou-se do “repasse”, obtidos na eficiência dos processos industriais, para o produtor da matéria prima mas, NÃO foi sequer citado, o uso do bagaço da cana-de-acúcar na cogeração de energia elétrica, que é vendida . ISTO NÃO É EFICIÊNCIA DE PROCESSO ? ....” E VAMOS EM FRENTE ! ! ! “....

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