Açúcar: Águas calmas são mais perigosas

Publicado em 05/09/2011 08:45
O mercado de açúcar em NY caiu em torno de 20 dólares por tonelada nos primeiros quatro vencimentos, encerrando a 29,18 centavos de dólar por libra-peso no outubro/2011. O enfraquecimento do real em relação ao dólar torna a queda menos substancial.

Os mercados estão tão acostumados com doses excessivas de adrenalina, que todo dia parece que precisamos ter notícias bombásticas para alimentar o apetite voraz dos viciados em catástrofes. Como disse um famoso corretor de mercado enquanto tomava sua limonada em NY, há poucas semanas atrás o mundo parecia ter acabado com a baixa na classificação de crédito soberano dos EUA, agora – assim como no Brasil – o mercado acionário está acima do nível que estava antes da queda de classificação. Ou seja, vá tentar entender a lógica do mercado.

No açúcar as coisas não são diferentes. No momento em que o físico é desanimador e os números baixos de safra de cana no Centro-Sul já foram devidamente absorvidos e não assustam mais, é hora dos baixistas aproveitarem a calmaria e soltarem suas más notícias no sistema. Teve de tudo e para todos os gostos. Super safra na Europa, na Índia, na Tailândia, na Rússia e em Marte. O mercado vai cair xis por cento, os preços vão desabar para 20 centavos de dólar por libra-peso entre outras previsões alarmantes.

Para os fundamentalistas é sempre mais difícil olhar o mercado pontualmente, no curto prazo. A análise mais criteriosa, olhando a perspectiva do setor para os próximos anos, da falta de investimento, da falta de transparência, da impossibilidade de o mercado crescer no mesmo ritmo do crescimento do potencial de consumo, desagua num quadro de oferta que não condiz em absoluto com preços mais baixos. Estes podem até ocorrer pontualmente, já que os mercados gostam de volatilidade e estressam o elástico até que se arrebente. Os preços exageram na alta e na baixa, tem sido assim em passado recente.

Se o custo de produção hoje gira em torno de 21 centavos de dólar por libra-peso, num quadro que não aponta solução de longo prazo para o descompasso que existe entre oferta e demanda potencial, fica difícil acreditar em mercado abaixo de 20 centavos de dólar por libra-peso.

Olhar para um horizonte de 10 anos, como comentou um leitor na semana passada, parece inatingível e de difícil tangibilidade num mundo em que as mudanças tecnológicas ocorrem de maneira brusca. Vamos nos ater então apenas aos próximos 3 anos, ou seja, tentar fazer uma análise da situação do setor até o final de 2014.

Assumindo que o crescimento de vendas de veículos leves no Brasil seja de apenas 4% ao ano (a média dos últimos 3 anos foi de robustos 12%), teríamos no final de 2014 uma frota de 37 milhões de unidades, das quais 59% são flex. Com esse cenário, o consumo estimado de combustíveis para 2014 seria de 60,4 bilhões de litros, dos quais 31,2 bilhões de etanol e 29,2 de gasolina A (sem mistura).

Vamos assumir também que o Brasil mantenha sua participação no mercado internacional de açúcar (sem crescimento na fatia de mercado) e que o consumo mundial cresça 1,2% ao ano. E no mercado interno, o consumo de açúcar cresça vegetativamente.

Somando esse potencial de consumo conservador para etanol e açúcar, o Brasil precisaria moer em 2014/2015, ou seja, daqui a três safras, 715 milhões de toneladas de cana, um crescimento médio anual de 8%, 150 milhões de toneladas de cana a mais (investimentos de US$ 24 bilhões). Muitos acham essa meta inexequível sob a política intervencionista do governo.

Vamos assumir então um crescimento médio de apenas 3%. Para que a oferta e demanda voltassem ao equilíbrio, o percentual de proprietários de carros flex que optassem por etanol teria que cair para apenas 25%. Com esse cenário, o consumo estimado de combustíveis para 2014 seria de 57,2 bilhões de litros, dos quais 23,6 de etanol (uma redução de 7,6 bilhões de litros) e 33,6 de gasolina A (um acréscimo de 4,4 bilhões de litros).

Como a gasolina que o governo teria que importar é mais cara que o etanol, ele teria que reduzir o imposto sobre a gasolina para viabilizar a operação. Ou seja, diminui-se a mistura, mas coloca-se no lugar um produto mais caro. Brilhante esses pensadores. O Brasil não tem política agrícola nem política energética, só tem político atrapalhado. Exemplo disso foi nesta semana, num site de notícias, vindo de uma dessas mentes privilegiadas que dirigem esse país foi a pérola que: “ao reduzirmos a mistura de anidro, a gasolina poderá ficar mais barata”. Prêmio de Nobel de Matemática. Ao reduzirmos numa mistura a proporção de um produto que custa menos, a nova mistura passa a ficar mais barata.

Na verdade, estamos pagando a fatura de ter uma economia que usa o preço do combustível como política fiscal, distorcendo a realidade do mercado de outro produto (etanol), cuja matéria prima (a cana) concorre entre o açúcar cujo preço é livre no mercado internacional e o etanol cujo preço limita-se à 70% da gasolina, que apesar de ter seu preço livre no mercado internacional, no Brasil tem o preço controlado pelo governo ao bel prazer.

Um trader brasileiro que trabalha na Europa escreve à coluna e sugere que o nome do novo órgão oficial brasileiro deveria ser IINAA (Instituto da Incompetência Nacional do Açúcar e do Álcool). Outro leitor, produtor de cana, que nos acompanha por meio de sites que reproduzem nosso comentário acredita que ”a época de ouro do etanol hidratado acabou, seremos produtores de açúcar e anidro. Continuaremos a contribuir com o meio ambiente, mas de forma menor. O lobby do pré-sal e dos interesses ligados ao petróleo é mais forte e mais organizado que o nosso pulverizado setor”.

É com grande satisfação que anunciamos a criação da Archer Global CCL, empresa coirmã da Archer Consulting, sediada em Miami, objetivando atender aos EUA e todo o mercado latino-americano. Visite o site www.archerglobalccl.com

Arnaldo Luiz Corrêa

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Fonte:
Archer Consulting

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