Brasil perde liderança no plantio de cana-de-açúcar
Embora sejam países com pequena produção comparada ao Brasil, o resultado reflete o momento mais delicado da indústria nacional de cana-de-açúcar. A escalada dos preços do
etanol levou o governo a anunciar na semana passada a redução da mistura do combustível na gasolina - uma forma de ampliar a oferta de álcool hidratado na bomba.
No açúcar, embora os preços estejam elevados no mercado internacional, não há grandes problemas. Mas o aumento do custo do Brasil, que responde por quase 50% do mercado mundial, têm reanimado até mesmo a indústria de açúcar de beterraba na Europa, afirma o presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-sul do Brasil (Orpla- na), Ismael Perina. “‘Há sete anos esse produto estava inviável. Agora voltou a ficar viável, o que é ruim para o país.”
Segundo dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), de 2005 para cá, os custos de produção cresceram cerca de 40% - de R$ 42 por tonelada de cana para R$ 60. Uma série de fatores explicam esse avanço. Alguns deles provocados pela extensa lista do chamado custo Brasil, como a valorização do real e a carga tributária elevada, que reduz a competitividade das empresas nacionais. Outros foram criados pela própria expansão do setor, como a falta da mão de obra.
O problema surgiu com o início da mecanizacção da colheita de cana, que deverá atingir 100% em 2014. Embora seja mais barato, o processo pegou o setor despreparado. Não havia frota suficiente para fazer a colheita e a mão de obra, antes acostumada a usar facões para cortar a cana, não sabia manusear tratores e colheitadeiras equipadas com alta tecnologia, levando ao aumento no preço das máquinas e dos salários. “Além disso, o canavial não estava preparado para a colheita mecanizada, que exige um espaçamento diferente no plantio. Isso reduziu de forma significativa a produtividade”, afirma o diretor técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues. Até hoje, não se encontrou uma solução econômica para a palha. “Se for junto com a cana para a usina, aumenta o custo de transporte. Se ficar no canavial, pode trazer pragas”.