Clima rigoroso reduz produção global de trigo e eleva preços
Por Naveen Thukral e Tom Polansek
CINGAPURA/CHICAGO (Reuters) - O clima rigoroso está reduzindo a produção de trigo nos principais exportadores globais, diminuindo os estoques que já estão previstos para atingir os níveis mais baixos em nove anos, ao mesmo tempo em que alimenta um aumento repentino nos preços.
A seca que aflige os fornecedores da Rússia, o maior exportador mundial de trigo, até a Argentina, está tornando a produção de alimentos vulnerável, já que os recentes ataques russos a navios de grãos no Mar Negro reacendem as preocupações sobre a guerra que limita os suprimentos.
Enquanto os principais exportadores do hemisfério sul, Argentina e Austrália, perderam vários milhões de toneladas de trigo devido a seca e geadas, a falta de umidade está afetando as plantações para 2025 na Rússia, Ucrânia e Estados Unidos.
"O mercado de trigo está ficando mais apertado e vai piorar", disse Ole Houe, chefe de serviços de consultoria da IKON Commodities em Sydney.
Os estoques mundiais de trigo caíram em relação aos recordes de cinco anos atrás, segundo dados dos EUA, já que o clima ruim prejudicou a produção e a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 elevou temporariamente os preços dos grãos.
Na semana passada, a Ucrânia disse que os ataques russos danificaram dois navios de grãos no país.
As colheitas russas sofreram com geadas tardias e depois com a seca desde abril, disse a ministra da Agricultura, Oksana Lut, nesta semana.
"Em algumas regiões, não chove desde abril", disse Lut em uma conferência. "Não sei se já houve anos como este antes, quando tudo o que poderia acontecer com o clima realmente aconteceu."
No mercado físico, o trigo do Mar Negro no Sudeste Asiático está cotado em torno de 280 dólares a tonelada, incluindo custo e frete, acima dos 265 dólares de cerca de um mês atrás.
Os futuros do trigo em Chicago saltaram na semana passada para o valor mais alto em quatro meses, já que o mercado se recuperou do ponto mais fraco desde 2020 em julho.
Alguns agricultores de países exportadores, como Austrália e Canadá, estão retendo as vendas na expectativa de que os preços subam ainda mais.
"É a tendência na maioria dos lugares de onde vem o trigo, os agricultores não estão vendendo e isso está se tornando um problema para os comerciantes que se comprometeram a vender para os moinhos", disse um comerciante de grãos de uma empresa internacional com sede em Cingapura.
O agricultor norte-americano Doug Keesling, 50 anos, disse que estava rezando para que chovesse em seus campos em Chase, Kansas, depois de plantar cerca de 486 hectares de trigo durante um terceiro ano de seca.
"Posso cavar de três a quatro polegadas e não há uma única gota de umidade neste solo", disse ele, referindo-se a uma profundidade equivalente a 8 cm a 10 cm.
"Se chover, ela vai subir. Se não chover, vai ser difícil até mesmo para seguir no próximo ano."
As perspectivas de produção na vizinha Oklahoma são menores para 2025 do que para 2024, depois que a seca desacelerou as plantações, disse Mike Schulte, diretor executivo da Comissão de Trigo de Oklahoma.
PREÇOS MAIS ALTOS
O Departamento de Agricultura dos EUA projeta os estoques finais mundiais de trigo em uma mínima de nove anos de 257,22 milhões de toneladas em 2024-25, mesmo com a perspectiva de que a produção global atinja recorde de 796,88 milhões.
Analistas consultados pela Reuters esperam que o órgão reduza sua previsão de estoques na sexta-feira para 256,14 milhões de toneladas.
"Há muito espaço para a alta (nos preços) se o USDA decidir cortar a produção global em 3,5 milhões a 4 milhões de toneladas", disse Terry Reilly, estrategista agrícola sênior da Marex.
A bolsa de grãos de Rosário reduziu sua estimativa de colheita de trigo para 19,5 milhões de toneladas, em comparação com a estimativa anterior de 20,5 milhões.
A Austrália deve ter produzido cerca de 32 milhões a 33 milhões de toneladas de trigo, acima do ano passado, mas abaixo das estimativas anteriores em cerca de 2 milhões a 3 milhões de toneladas, disseram os analistas.
"Está bastante seco e também houve danos causados pela geada", disse Dennis Voznesenski, analista do Commonwealth Bank, enquanto visitava fazendas de trigo no sul da Austrália nesta semana.
"As colheitas não estão parecendo boas."
(Reportagem de Naveen Thukral em Cingapura, Tom Polansek e Julie Ingwersen em Chicago, Gleb Byanski em Moscou, Gus Trompiz em Paris)
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