Produtor no BR se divide entre custo de carregar a soja e a nova safra se iniciando nos EUA

Publicado em 20/02/2024 10:15 e atualizado em 20/02/2024 11:45
Custo do carrego da soja está elevado, deixando as margens ainda mais apertadas. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, contas favorecem o aumento de área destinada à oleaginosa e é outro ponto de atenção sobre a formação dos preços.
Marcos Araújo

O produtor brasileiro, aos poucos, vai tendo de dividir sua atenções entre a conclusão da safra 2023/24 da América do Sul e os preparativos para o início da 2024/25 nos Estados Unidos. Há ainda muita soja a ser comercializada e um aumento de área previsto entre os americanos que pode se confirmar diante dos atuais preços e das margens que serão garantidas aos produtores por lá. O setor agora espera também pelo novo boletim de área que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz em março. 

"E isso nos preocupa, porque olhando as contas do retorno financeiro é mesmo mais vantajoso para ele (produtor americano) plantar mais soja do que milho e temos daí um potencial produtivo de uma safra de 123 milhões de toneladas, dando certa "segurança" sobre a oferta e colocando toda a responsabilidade de alta (dos preços) na demanda", explica o analista de mercado da Agrinvest Commodities, Marcos Araújo. "E temos visto a demanda agora, da China, curta". 

Considerando um estudo da Universidade de Illinois, para o produtor dos EUA que planta soja em sua própria área, o ponto de equilíbrio da soja está em US$ 7,26 por bushel, enquanto para aquele que precisa pagar pela terra, tem US$ 11,94. "No perfil médio do produtor americano, que planta 46% em terra própria e 54% em terra arrendada, fazendo uma média ponderada disso, o ponto de equilíbrio é de US$ 9,79 na fazenda, e temos o Chicago novembro a US$ 11,56". Para o milho, o ponto de equilíbrio para o dono da terra é de US$ 3,69 e para o arrendatário, de US$ 5,13, com uma média ponderada - entre dono da terra e quem paga pelo arrendamento - de US$ 4,47 por bushel. 

Comportamento das áreas de soja e milho nos EUA
Gráfico: Agrinvest Commodities

Agora, os produtores americanos acompanharão também a definição pela Agência Americana de Risco do preço de safra da soja e do milho, e para a oleaginosa, até a última sexta-feira, eram US$ 11,66 de média e US$ 4,70 para o milho. 

Além disso, a nova safra americana começa com o produtor americano também atrasado com - tal qual o produtor brasileiro - com sua comercialização e volumes grandes de grãos estocados, uma vez que não apostava em baixas tão agressivas dos preços. "Temos soja e milho americanos muito caros no mercado internacional, reflexo também da guerra na Ucrânia, que liquidou seus grãos e derrubou os preços do grãos e cereais em diversos países (...) e hoje estamos bem dependentes da demanda chinesa", afirma o analista. 

Comportamento das áreas de soja, milho e trigo nos EUA
Gráfico: Agrinvest Commodities

E para o entendimento do comportamento desta demanda é necessário compreender o atual momento, entre outros fatores, da suinocultura chinesa, onde a margem do suinocultor da nação asiática é de US$ 15,00 negativa por animal abatido, contra US$ 400,00 por animal positiva para 2020. 

QUANTO CUSTA SEGURAR A SOJA?

Enquanto estes cenários se definem, o produtor vai carregando sua soja e evitando novos negócios aqui no Brasil. Todavia, há um custo crescente deste carrego e este é mais um alerta de Marcos Araújo. 

"Hoje, uma soja de R$ 95,00 a saca, em um período de oito meses - de março a outubro -, para o produtor que optar por manter essa soja no armazém, pagando armazenagem e quebra téncica, deixando de ganhar os juros, é, praticamente, necessária uma alta de R$ 11,00 por saca para manter essa soja armazenada (e essa decisão ser compensada). Isso nos preocupa porque a curva de preços em Chicago é uma curva invertida, com maio a US$ 11,85 e novembro a US$ 11,60. O mercado futuro nos diz que não vale a pena segurar a soja para vender no segundo semestre, conforme as condições atuais do mercado", afirma  analista. 

Araújo lembra ainda que em 2022 e 2023, com curvas invertidas de preços em Chicago, a recomendação da Agrinvest foi pela operação caixa - vender a soja na safra, aplicar o dinheiro para economizar armazenagem e quebra técnica e comprar seguro de alta na Bolsa de Chicago - pelo produtor brasileiro. "Os produtores precisam focar na gestão de risco de preço". 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte: Notícias Agrícolas

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