Produtor gaúcho enfrentou clima, crédito e renda para se manter na atividade em 2025

Publicado em 30/12/2025 08:32
Medidas de securitização trouxeram alívio, mas ainda não foram suficientes
Luciano Schwerz - Presidente da Emater/RS

A agricultura do Rio Grande do Sul encerra 2025 como mais um ano de grandes desafios para os produtores rurais, acumulando impactos climáticos, dificuldades financeiras e margens negativas em diversas cadeias produtivas. O balanço foi apresentado por Luciano Schwerz, presidente da Emater/RS, em entrevista ao Notícias Agrícolas, ao avaliar o desempenho do setor e traçar as primeiras perspectivas para 2026.

Segundo Schwerz, a safra 2024/25 foi marcada por um cenário extremamente adverso. Além da necessidade de recuperação das áreas atingidas pelas enchentes de 2024, com perdas de solo, erosão e assoreamento, o estado voltou a enfrentar uma estiagem severa em 2025, que comprometeu significativamente a produtividade das lavouras. A soma desses fatores resultou em uma quebra expressiva na produção de grãos, especialmente soja, milho, arroz e trigo, agravada por preços baixos que não permitiram margem de lucro ao produtor.

O presidente da Emater/RS destacou que a dificuldade financeira vem se acumulando ano após ano, limitando o acesso ao crédito e reduzindo o nível de investimento no campo. A safra de inverno de 2025 registrou uma das menores áreas financiadas da história, reflexo da restrição ao crédito, dificuldades com programas de seguro e da necessidade de os produtores reduzirem custos para se manterem na atividade. Esse movimento impacta não apenas o setor agropecuário, mas também o comércio e a economia das pequenas cidades gaúchas.

Apesar do cenário negativo, Schwerz ressaltou que a diversificação da renda tem sido um caminho importante para parte dos produtores. Segmentos como fruticultura, pecuária de corte e agroindústrias familiares têm apresentado melhor desempenho, ajudando a amenizar as perdas em outras atividades. Ele também reforçou a importância do manejo adequado do solo e da água para aumentar a resiliência das lavouras frente aos eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes no estado.

Outro ponto sensível abordado foi o impacto humano da crise no campo. Schwerz destacou o aumento da vulnerabilidade emocional dos produtores e o trabalho da Emater/RS no apoio às famílias rurais, com ações voltadas à saúde mental, especialmente por meio de iniciativas como o programa Elas no Rural. Segundo ele, a extensão rural tem papel fundamental não apenas técnico, mas também social, oferecendo orientação, escuta e apoio direto às famílias em momentos de maior dificuldade.

O presidente da Emater/RS também comentou as discussões sobre securitização e prorrogação de dívidas ao longo de 2025. Embora algumas medidas tenham trazido alívio pontual, Schwerz afirmou que elas ainda foram insuficientes diante do tamanho do endividamento acumulado. O produtor, segundo ele, busca apenas condições para pagar suas contas, produzir e se manter na atividade, sem necessidade de anistias.

Para 2026, a expectativa é mais positiva. As condições climáticas recentes têm favorecido o estabelecimento da safra de verão, e a perspectiva é de um ciclo mais próximo da normalidade produtiva. Schwerz ressaltou que o próximo ano precisará ser marcado por uma gestão ainda mais eficiente das propriedades, com foco no controle de custos e na melhoria da rentabilidade.

Ele destacou ainda programas públicos que devem ganhar força em 2026, como o Irriga Mais, o Operação Terra Forte, o Bônus Mais Leite e o Milho 100%, que buscam fortalecer a resiliência climática, recuperar solos e dar suporte direto aos produtores. A avaliação é de que, com uma boa safra e a continuidade dessas políticas, o setor agropecuário gaúcho pode iniciar um processo de recuperação após vários anos consecutivos de dificuldades.

Por: Guilherme Dorigatti
Fonte: Notícias Agrícolas

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