Questionamentos da UE sobre carne brasileira exige mudança de postura na comunicação e alterações estruturais no MAPA

Publicado em 14/06/2017 12:36
Consultor alerta que principal mudança deve acontecer com autonomia do SIF para agilizar processos e dar maior transparência às ações

As informações de que a União Européia (UE) ameaça suspender as importações de carnes brasileiras, após auditória realizada em maio que apontou falhas no sistema de sanidade, tem preocupado o setor.

Até aqui, as exportações tem sido fundamentais no escoamento da produção brasileira, que enfrenta dificuldade nas vendas de carnes no mercado interno. Mas, os problemas apontados pelo bloco podem "causar um efeito dominó na relação de confiança entre os países", explica o consultor da Agrosolutions e ex-Secretário de Defesa Agropecuária, Enio Marques.

Para ele, o Brasil adota estratégia equivocada limitando as explicações. Embora não acredite "que haja uma suspensão imediata, pela falta de outros fornecedores que atendam a demanda", ressalta que os riscos existem, por isso, a necessidade de dispor de soluções ágeis.

Em carta enviada ao ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e assinada pelo de Saúde e Segurança Alimentar da UE, Vytenis Andriukaitis, afirma que o bloco "duvida da credibilidade dos sistemas de controle [sanitário]" e, que o Brasil não tem feito nada para solucionar os problemas apresentados na Carne Fraca.

“Os países se relacionam pelas autoridades sanitárias, não cabe ao Ministro - que não tem conhecimento técnico - responder. Isso demonstra que a situação é muito mais grave do que parece", acrescenta.

Para o ex-secretário, "a primeira coisa a se fazer é usar os controles do sistema de garantia de qualidade, para demonstrar que não existem problemas que ocasionem risco sistêmico".

Posteriormente, seria preciso rever algumas estruturas do atual sistema, dentre elas o grande número de intermediários entre o órgão central - MAPA - e efetivamente os escritórios do SIF (Serviço de Inspeção Federal) que fazem o controle nas fábricas. "Precisamos dar autonomia ao SIF, as ordem de comando passam por muitas pessoas, algumas delas até sem conhecimento técnico,", diz Marques.

Além de assegurar autonomia ao SIF, o ex-secretário, sugere a necessidade de criar um complance e enforcement, rigoroso entre as empresas exportadoras, auditorado por terceiros. E também nomear a figura de um responsável de cada empresa nas relações com o governo federal.

Na visão de Marques, um agravamento dessa situação poderia ter impacto maior na avicultura, já que o Brasil é o maior exportador de carne de frango e o segundo maior produtor - perdendo apenas para os Estados Unidos.

"O Brasil tem uma inserção mundial, ocupando mercados com qualidade superior. Por ter um sistema baseada na integração, isso significaria desativação de granjas e fortes impactos nas cidades do sul", pondera Marques.

Esse cenário é semelhante para a suinocultura, embora o Brasil ainda ocupe uma parcela menor no mercado interno. Segundo o ex-secretário a situação é menos grave para a cadeia bovina "que consegue se ajustar com mais facilidade às condições de mercado", analisa.

Por: Aleksander Horta e Larissa Albuquerque
Fonte: Notícias Agrícolas

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