Autônomos dizem que sem tabela de frete, greve será retomada

Publicado em 08/06/2018 16:35
Representante da categoria acusa transportadoras de ficarem com a maior parte dos fretes e que tabela vai impedir que isso aconteça
Wanderlei Dedéco - Representante dos Caminhoneiros Autônomos

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Entrevista com Wanderlei Dedéco - Representante dos Caminhoneiros Autônomos sobre o Tabelamento dos Fretes

 

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Wanderlei Dedéco, representante dos Caminhoneiros Autônomos do Paraná, conversou com o Notícias Agrícolas nesta sexta-feira (08) sobre a visão do setor a respeito do tabelamento dos fretes anunciado pelo Governo Federal.

Para ele, o tabelamento atende às medidas colocadas durante os protestos realizados pelos caminhoneiros, que agora brigam para que a tabela não seja impedida de entrar em vigência. "Se o Governo voltar atrás no acordo, o Brasil inteiro estará parado novamente em 48 horas", destacou.

Do outro lado, o agronegócio e a federação das indústrias defendem o livre mercado na negociação dos fretes, situação que está gerando um impasse entre os setores. Contudo, Dedéco avalia que a gestão do Governo está colocando caminhoneiros e o setor agrícola em conflito.

Para o representante, o livre mercado traz uma oscilação que não é benéfica para o transporte rodoviário. Ele também salienta a exploração por parte dos grandes empresários sobre os caminhoneiros autônomos nesse processo.

Ele também acredita que, em alguns casos, os preços propostos pelo tabelamento está 50% menores do que anteriormente.

Dedéco ainda respondeu a perguntas enviadas pelos internautas.

CNI vai recorrer ao STF com ADIN contra tabelamento de frete rodoviário

SÃO PAULO (Reuters) - A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou nesta sexta-feira que vai ingressar nos próximos dias com uma ação direta de inconstitucionalidade contra o estabelecimento de preços mínimos de frete para transporte rodoviário de carga.

A ação da CNI, em fase final de elaboração, questionará a Medida Provisória 832, que estabeleceu preços mínimos obrigatórios para os fretes praticados no país.

Na véspera, o ministro dos Transportes, Valter Casimiro, anunciou que o governo decidiu suspender a nova tabela de frete do transporte rodoviário e que vai rediscutir os valores, horas depois do governo chegar a publicar uma lista com valores reduzidos. A revogação da tabela ocorreu após pressão de associações de caminhoneiros que se manifestaram contra os valores determinados.

Na quinta-feira, duas empresas do Rio Grande do Norte conseguiram na Justiça liminares para suspender os efeitos do tabelamento, em uma decisão em que o juiz federal Orlando Rocha classificou de "evidente intervenção" do governo federal na economia, ao impor regulamentação ao setor de transporte rodoviário de cargas, em ofensa à Constituição.

Segundo a CNI, a MP que fixa preço mínimo para os fretes é inconstitucional porque "por desrespeita a livre iniciativa, a concorrência e os contratos firmados, caracterizando intervenção indevida do Estado na economia".

"Os consumidores sentirão no bolso os efeitos da medida, pois ela inevitavelmente levará ao aumento geral de preços, em função da alta dependência rodoviária do país", afirmou a CNI.

Caminhoneiros discutem timing de nova paralisação (ESTADÃO)

Os grupos de caminhoneiros no WhatsApp, que organizaram, alimentaram e mantiveram a greve que paralisou o País no fim de maio, já discutem a oportunidade e o momento de fazer novo protesto, em razão das dificuldades de implementação do acordo que selaram com o governo. 

Nos grupos, há quem defenda uma nova greve já, mas a maioria dos líderes fala em parar mais para a frente, tanto para que haja tempo de tentar implementar as concessões obtidas quanto para evitar que novos transtornos levem a população, que inicialmente ficou a favor do movimento, a rejeitá-lo. / V.M.

Virou comédia o tabelamento do frete

Virou comédia a novela do tabelamento do frete rodoviário. Depois de fechar um acordo baseado numa tabela apresentada pela ANTT que tornava inviável os custos aos produtores, o governo editou uma nova e, menos de 24 horas depois, teve de revogá-la por descontentar os caminhoneiros. 

O ministro dos Transportes, Valter Casemiro, marcou nova reunião para esta sexta-feira para anunciar a nova tabela. O problema é um só: é impossível ao governo fixar uma tabela para algo sujeito a tantas variáveis quanto o frete (distância, eixos do caminhão, condições climáticas, produto transportado). A única maneira é deixar o mercado se autorregular, e a agência atuar para conter abusos, como é seu papel. / V.M. 

Os ruralistas estão bravos

O deputado federal Valdir Colatto (MDB-SC) está no seu sétimo mandato parlamentar no Congresso. Pertence ao partido do presidente Michel Temer e é um dos principais representantes da bancada ruralista. Sua reação sobre a bateção de cabeça dentro do governo sobre a questão da tabela de fretes, que opõe caminhoneiros e produtores, é sintomática do humor dos representantes do agronegócio. 

“Incompetência técnica da ANTT, do Ministério dos Transportes e a insegurança do governo desestruturam o transporte de cargas no País. Mais uma tragédia anunciada”, diz. /M.M.

Soluções para o transporte de cargas no Brasil, POR Marcos Sawaya Jank (*) e  José Vicente Caixeta Filho (**) (na FOLHA)

Publicado no Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno Mercado, 09/06/2018

Controles artificiais do preço do diesel e tabelamentos de fretes não são solução. Temos de nos comprometer com uma agenda de Estado para a logística.

A crise que estamos vivemos depois da greve dos caminhoneiros pode ser resumida pelo famoso ditado: “Quando a farinha é pouca, meu pirão primeiro”

Em vez de cortar na própria carne, o governo corta a carne de outros setores para manter a arrecadação. E, ao tabelar o frete, eleva brutalmente o preço da farinha para centenas de cadeias produtivas, gerando aumento generalizado de preços.

Ocorre que, com o aumento do desemprego no país, muitas pessoas acabaram levantando o FGTS para comprar um caminhão e “puxar frete”. Com isso, houve grande aumento na oferta de transporte rodoviário, principalmente a partir de um número expressivo de transportadores autônomos, que acabam se sujeitando a preços aviltantes de fretes que remuneram unicamente seus custos diretos (combustíveis, por exemplo). O que fazer, então?

Primeiro, controlar artificialmente o preço do diesel e da gasolina, como ocorreu entre 2006 e 2014, definitivamente não é solução. Precisamos, sim, de uma política transparente de formação de preço de combustíveis que mantenha a correlação com o mercado mundial, mas evite variações extremas.

Tributos sobre combustíveis —como a Cide ou o PIS-Cofins— poderiam exercer esse papel, desonerando quando o petróleo sobe demais e onerando quando ele cai. Isso atenuaria variações abruptas como estamos vendo hoje. Ademais esses mesmos impostos deveriam tratar diferencialmente combustíveis fósseis e renováveis, em favor destes, beneficiando a redução de emissões e a qualidade do ar nas grandes cidades.

Segundo, tabelar o preço dos fretes não é solução para alavancar os transportadores, pois piora a situação do resto da economia, e a renda deles por tabela, destruindo o pouco de pirão que ainda resta.

O frete é o preço cobrado para a movimentação de um determinado bem, mas ele envolve diversas variáveis. É fato que temos o costume de estimar o valor de frete de acordo com a distância percorrida.

Entretanto, há muitos outros fatores que também impactam o valor, como o tipo e a quantidade de carga transportada, a sazonalidade da demanda por transporte, as peculiaridades regionais (na origem e/ou destino do frete), a possibilidade de carga de retorno, os custos operacionais (de acordo com o tipo de veículo utilizado), a concorrência ou complementaridade com outras modalidades de transporte, o estado de conservação das vias, a existência de pedágios e balanças, o prazo de entrega, a forma de contratação. É muito difícil, se não impossível, cruzar todas essas variáveis numa tabela de valor mínimo de fretes.

Terceiro, nos últimos 50 anos não tivemos uma agenda de Estado para infraestrutura de transportes e logística. O Brasil depende demais do transporte rodoviário, movido por combustível fóssil. O nível de investimento governamental tem sido sempre maior em rodovias, que a princípio trazem mais votos para o poder executivo em qualquer nível: municipal, estadual ou federal. Não temos um “Plano B”, ou seja, não temos alternativas abrangentes disponíveis para um país continental (ferrovias, hidrovias, dutovias) que possam complementar ou substituir a estrutura rodoviária.

No curto prazo, a única solução possível —que envolve esforços simultâneos dos setores público e privado— é a criação de novos postos de trabalho, diminuindo a oferta ociosa de transporte rodoviário dos autônomos, que têm se sujeitado a baixos valores de frete.

No longo prazo, temos de nos comprometer com uma agenda de Estado para a logística, estabelecendo metas espaciais e temporais factíveis para a construção de ferrovias e dutovias, viabilizando o transporte fluvial e por cabotagem, além de privilegiar a melhoria da qualidade das estradas.

Não existe milagre. São essas as únicas soluções possíveis para não faltar pirão.(por (*) Marcos Sawaya Jank é engenheiro-agrônomo e especialista em questões globais do agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas.-- (**) José Vicente Caixeta Filho é ex-diretor e professor titular de logística agroindustrial da ESALQ-USP. Email: jose.caixeta@usp.br

 

 

Por: Aleksander Horta e Izadora Pimenta
Fonte: Notícias Agrícolas/Reuters

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