Acirramento da disputa China x EUA compromete ainda mais retomada da economia global pós pandemia

Publicado em 01/06/2020 14:09 e atualizado em 02/06/2020 12:16
Roberto Dumas Damas - Economista e Professor do Insper
Crescimento das economias em 2021 também está ameaçado, incluindo a do Brasil. Retomada será muito mais custosa para o mundo e movimento brasileiro depende, no cenário interno, da aprovação de uma série de reformas, como a tributária

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Entrevista com Roberto Dumas Damas - Economista e Professor do Insper sobre a Retomada da Economia pós pandemia

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A já fragilizada economia mundial pode enfrentar obstáculos ainda maiores para se recuperar com o acirramento das tensões entre China e Estados Unidos. Na última sexta-feira (29), o presidente americano Donald Trump fez um pronunciamento com acusações bastante graves contra a China, que retaliou os americanos com suspensão de compras por estatais de soja e carne suína, trazendo ainda mais incerteza ao mercado. 

Como explica o economista e professor do Insper, Roberto Dumas Damas, Trump traz para o centro do conflito a nova pandemia do coronavírus e a autonomia de Hong de forma impensada e equivocada e pode acabar tendo efeitos contrários do inicialmente imaginados. 

A reação dos mercados, porém, se mostra limitada, ao menos por agora, com os investidores esperando pelo que vem pela frente para então se reposicionar. "O mercado parece já não mais se importar com as crises que vão pipocando e espera as cenas dos próximos capítulos", explica Damas. 

O economista explica ainda que para o agronegócio brasileiro - entre outros setores - volta a se beneficiar com a disputa entre as duas maiores economias do mundo, se consolidando ainda mais como um dos principais fornecedores da nação asiática. 

Mais do que isso, diz ainda que Trump não reconhecer mais a autonomia de Hong Kong causa impacto limitado ao mercado financeiro mundial, ao andamento do comércio global. Mais importante do que isso, traz luz às discussões sobre a independência e autonomia não só de Hong Kong, mas de outras regiões importantes como Taiwan e o Tibet. "Ao se abrir para um, se abre flanco para todos. Vamos entender a China, sua províncias, o que são essas regiões autônomas", explica.

Todo este cenário amplia ainda mais as ameaças à fase um do acordo comercial entre China e Estados Unidos. "Em 2017, a China comprou US$ 130 bilhões dos EUA em importações, e na fase um se compromete a comprar adicionais US$ 200 bilhões em 2020 e 2021, mas é óbvio que não se consegue dobrar as importações neste período. Não tem fase um, o buraco é muito mais embaixo", lembra Damas. 

Segundo o economista, a disputa tem muito espaço para continuar, mesmo no pós governo Trump. "A China não quer destruir os EUA, mas quer sim retirá-lo completamente da Ásia. Há um interesse muito maior geopolítico". 

Diante de todo este cenário, a retomada econômica mundial será muito mais demorada e custosa do que o projetado até agora, principalmente em economias mais frágeis, como a do Brasil. Assim, o movimento brasileiro depende, no cenário interno, da aprovação de uma série de reformas, como a tributária e administrativa, por exemplo, além das PECs do pacto federativo e dos fundos públicos. 

"A economia brasileira sofre de três crises, sendo uma da saúde, uma crise econômica - provavelmente o PIB vai cair uns 7,5%, e uma crise política (...) Assim, o mínimo de reforma precisa ser aprovado", explica Damas, para que os investidores comecem a voltar a olhar para o Brasil. Mas ainda assim, não acredita em um crescimento forte e rápida do Brasil. "Acredito muito mais que possamos crescer em N do que em V", diz. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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