Agricultores e leitores do NA debatem sobre manejo florestal de Araucárias

Publicado em 11/09/2019 14:09

Agricultores e leitores do Notícias Agrícolas usaram o espaço "Fala Produtor", disponível em nosso site, para debater sobre Agricultura Sintropica e legislação ambiental do estado do Paraná. Confira na íntegra: 

Por Vinicius Caetano Martin: 

Tem um texto Abaixo que eu gostaria que todos lessem para ver a incoerência da legislação ambiental / manejo florestal no Paraná

(Inicialmente um artigo do engenheiro florestal Luciano Pizzatto, Premio Nacional de Ecologia:

"As florestas de araucárias, o Pinheiro do Paraná, uma das duas únicas espécies de coníferas nativas do nosso país, estão novamente na berlinda, com a justa preocupação pela sua drástica redução da cobertura original, que se estendia do Rio Grande do Sul até a transição de Minas Gerais.

Sua desconsideração como espécie relevante e ecossistema único chegou ao ponto até mesmo de ser extinto desta categoria, e chamado genericamente de Mata Atlântica, contrariando a maioria dos pesquisadores e a história natural do país, e atendendo a militância e outros interesses.

Para alguns, sou suspeito para falar do tema, já que sou madeireiro de quarta geração, ou até mesmo um tipo de ecologista de motoserra, como li a algum tempo. Para outros, e para mim particularmente, sei que minha família, e mais 500 famílias de funcionários, vivemos há 85 anos, em uma mesma empresa, manejando as mesmas propriedades, com 60% de cobertura florestal de Araucárias, áreas certificadas pelo FSC, Planos de Manejo com relatórios de auditoria externa independente há vários anos, detentor de várias premiações incluindo o Primeiro Prêmio Nacional de Ecologia/86, 5 teses de doutorado avaliando o manejo executado, e alguns outros detalhes compensadores.

Mesmo assim, esta Empresa e áreas florestais – como algo em funcionamento – jamais tiveram a honra de serem visitadas formalmente por técnicos do MMA ou IBAMA, para especificamente verificarem o que de bom ou de ruim já foi feito. Não para multar ou fiscalizar, só tentar aprender – mas esta é outra história.

A verdade, é que com a experiência e o resultado conseguido até hoje, não tenho dúvidas de que a situação da Araucária como espécie econômica é muito ruim, e que sua sustentabilidade vem diminuindo a cada ano.

Lendo uma palestra do meu bisavô, no primeiro Congresso Florestal Brasileiro, em Curitiba (PR), lá pelos idos de 1952, sinto como se estivesse lendo um relatório recém-publicado. O tema é recorrente:  falta de política florestal, descaso público, avanço da fronteira agrícola, necessidade de plantar e estímulo aos que conservam as florestas de Araucária.

Fui diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA em 88/89, e o mesmo tema era discutido, com a agravante que desde o Instituto Nacional do Pinho, que antecedeu o IBDF, o setor produtivo já pagava taxas ao Governo com a finalidade de que fossem plantadas Araucárias, e hoje, em Pleno 2004, as mesmas taxas, chamadas de reposição florestal ou outros adjetivos, se perdem na burocracia, custeio, e o reflorestamento continua um detalhe esquecido.

Nas mesmas memórias, encontrei um mapa de 1948, onde no Estado do Paraná estava demarcada toda a região centro-sul como já explorada pela Indústria Madeireira, e o restante do Paraná como florestas de Araucárias inexploradas. Hoje, o lugar que restam florestas remanescentes de Araucária é exatamente onde se indicava sua já exploração em 48, e o restante onde estavam intocadas é hoje o grande e necessário pólo agropecuário do Estado.

Além da experiência como empresário e engenheiro florestal, fiz várias campanhas no início da vida pública, onde distribuí em algumas cidades, incluindo Curitiba, algumas mudinhas de Araucária, algo como 1 milhão de árvores em cinco campanhas. Uma delas foi plantada pelo meu sogro em seu jardim, e há alguns anos, quando ela completava a jovem idade de 17/18 anos ele me serviu Pinhões (sementes da Araucária) colhidos desta árvore, ou seja, a vida se renovava, com os filhos da árvore plantada, em menos de vinte anos.

Uma breve observação: não estou nem defendendo nem acusando ninguém, apenas registrando alguns fatos…Quando o sucesso do Manejo Ambiental desenvolvido na década de 70/80 foi reconhecido com várias premiações e divulgação, conceitos como o da interação flora/fauna, de corredores de biodiversidade, da quebra da homogeneidade dos reflorestamentos com exóticas através da manutenção de nativas em baixo grau em seu interior, e outras atividades hoje usuais, começaram a se expandir em todo país e em especial no nosso município de Gal. Carneiro – PR, e a maioria das propriedades passaram a manter Araucárias, com a certeza de ser uma boa atitude e um bom negócio.

Mas a diminuição dos remanescentes produtivos continuou, e por diversos motivos, a tese do imobilismo venceu, quando a mais de dois anos foi suspenso o corte desta espécie, para que as autoridades definissem uma política de seu uso racional (prazo de 1 ano não cumprido) e a fiscalização e ações duras foram implementadas contra os "criminosos" que cortam uma espécie em extinção.

Qual extinção? Como espécie, não creio e nem os geneticistas que consultei. Como espécie econômica relevante. Talvez sim, por sua substituição em 95% do mercado com o Pinus spp.

E a decisão. Melhorou a grave situação da espécie. Não! A mais singela avaliação demonstra que destruímos o conceito de sustentabilidade, dando proteção integral e ênfase à função ecológica, e tentando suspender, mesmo que momentaneamente, as funções econômicas e sociais.

As áreas do nosso exemplo do Município de General Carneiro, passaram a ser citadas como um dos municípios de maior desmatamento nos últimos 2 anos, se contrapondo a relativa conservação dos últimos 20 anos. Em qualquer município da região centro-sul do Paraná e norte de Santa Catarina, a Araucária é sinônimo de "arvore maldita" (que injustiça!). Se algumas árvores adultas são mantidas sob a força do Estado, do Ministério Público, de ONGs e alguns entusiastas, qualquer mudinha que se regenerar rapidamente está sendo arrancada. O argumento: como posso deixar nascer um problema na minha vida.

Um argumento revoltante para alguns, mas lógico e natural para aquele que pensa ou foi induzido a pensar que se aquela mudinha de Araucária crescer ele não poderá mais cortar nem usar seu pedaço de terra a boa atitude virou um mau negócio. Nem sabe que alguém apenas suspendeu o manejo da espécie para procurar ou pensar em uma solução, pois o que é divulgado é que está tudo proibido, fim da espécie, mega-operações com força policial, e outras manchetes.

É isto que gera a intocabilidade. Um modelo não sustentável. História já vivida por Estados como o Rio Grande do Sul que por lei estadual proibiu o corte de árvores na década de oitenta, e conseguiu desestabilizar todo o sistema, até ter que revogar uma lei idealista, mas inaplicável.

Interessante é que com o dinheiro que foi gasto na última operação de fiscalização conjunta da Araucária de Santa Catarina e Paraná, daria para produzir e fomentar o plantio de mais milhões de árvores. Dezenas de vezes mais do que o necessário para garantir a espécie. Poderiam até ser plantadas em campanhas nos milhares de quilômetros de margens das rodovias dos Estados de sua distribuição natural, formando um imenso tecido de distribuição de suas sementes, em pouco tempo.

Mas não. Deixamos de fazer o óbvio. Valorizar uma espécie, estimular seu fácil plantio, criar unidades de conservação representativas, manter um banco de germoplasma em várias localidades, para simplesmente dizer: parem tudo por uns anos enquanto pensamos, sem lembrar que a vida não pára.

Espero poder continuar a manejar esta espécie. Cortar bem menos que o incremento natural da floresta e com este recurso cuidar e proteger os remanescentes, gerar empregos, manter a fauna e flora acompanhante, permitir que mais 4 ou 40 gerações da minha família e das 500 famílias que trabalham na nossa indústria florestal também vivam.

E se o exemplo que já funciona não serve, então digam o que fazer, menos dizer: pare tudo e não viva enquanto não sabemos (e não aceitamos ver o que você já fez).

Mesmo assim, plante árvores. Plante florestas produtivas intercaladas com reservas de nativas e áreas de preservação. Plante Araucárias. A razão demora mas vence".

Luciano Pizzatto, Eng. Florestal, Empresário do setor, Diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, Deputado de 1989/2003, detentor do Prêmio Nacional de Ecologia.

Coemntários de Vinicius Caetano Martin: 

As florestas tem que ser mantidas... Tem que ser manejadas e fazer parte da produtividade, a Agricultura Sintropica é um bom caminho a seguir.

Com manejo... As florestas podem ser incorporadas ao setor produtivo... Tecnologias já existem para isso... mesmo em larga escala...fazendeiros já estão investindo em diminuir as áreas de monoculturas extensivas e incorporando meios de produção agroflorestal que é mais sustentável. Veja agricultura sintropica. 
 

Posso dar um bom exemplo de que o que estou falando tem fundamento. Durante muitos anos acompanhei o uso do pó de rocha, pó de pedra... Utilizado pelos agricultores ditos alternativos e atrasados,  hoje reconhecidos pelo MAPA  com a alcunha de "remineralizador de solo". Eu sempre soube que funcionava... Garantindo a nutrição das plantas como um adubo de liberação lenta e custando a minha época R$ 20,00 reais a tonelada. Hoje grandes  produtores de Goiás como o Rogério Vian da Aprosoja -GO são fãs de carteirinha do pó de rocha. Nas palavras dele "O produtor Rogério Vian, que é diretor da Aprosoja-GO, já utiliza há mais de cinco anos em sua propriedade em Mineiros (GO) o pó de rocha para substituir a adubação química. Com esta medida, as consequências vêm em forma de uma recuperação do solo e uma redução de custo na conta final.

De acordo com o produtor, o pó de rocha serve como um condicionado de solo para que os fungos e as bactérias sejam os responsáveis pelo tratamento das plantas. É um processo fisiológico que envolve mais de 68 minerais, sendo o silício um deles. Com isso, a planta vai se abastecendo de acordo com a sua necessidade do próprio solo.

Com isso, é possível ter uma redução de custo de até 20%, pois a duração da utilização dos minerais é maior do que a fornecida pela aplicação de químicos."

Eu hoje trabalho como funcionário público burocrata e sou responsável pela emissão dos certificados de comerciantes de fertilizantes de 399 municípios Paranaenses e o termo remineralizador de solo já esta nos certificados de empresas que viram o filão de mercado que é este negocio. Dos R$ 20,00 reais a tonelada o preço chegou a R$ 200,00 e as pedreiras já estão disponibilizando este material para os agricultores. Apostar na trofobiose... Diminuir os custos e a dependência de insumos externos e ainda preservar a natureza e ganhar dinheiro deve ser  a obsessão de todo agricultor. Se as pessoas que compram os alimentos que eu produzo são carnívoros, onívoros ou veganos... Eu como produtor vou atender a demanda não é mesmo???Abraços

Réplica de Rafael Antonio Tauffer  - Pelo seu comentário você nunca fez abertura de área nova. No bioma Amazônico você tem que deixar 80% de reserva, como que o agricultor ainda vai deixar linha de árvores? Quanto a soja ou o milho vai produzir a menos entorno dessas árvores?

Comentário de  Carlo Meloni - Eu  li  vários comentários  sobre esse  projeto  de  lei  que  trata  de  licenciamento,  mas  fiquei  com  a  impressão   que   a  grande  maioria  não  sabe  bem dos  detalhes----Esse  assunto  teve  inicio  na  gestão  do  Sarney  Filho-----O  Kataguiri  esta'  lutando  para  que  a  agropecuária  seja  considerada  atividade  de  baixo  impacto  ficando  livre  de  requerer  um  licenciamento  para  cada  cultura----Do  outro  lado  o  Tatto  sugere  que  na concessão  do  licenciamento  os  índios  e  os  kilombolas  sejam  consultados.

Resposta de Vinicius Caetano Martin: O uso de pó de rocha pelo que eu sei, é uma pratica que surgiu na Alemanha no século passado, muitos agricultores europeus continuaram usando, mas como você disse o rápido resultado alcançado pelos adubos químicos, associado ao interesse comercial e a grande quantidade de matéria orgânica pra ser queimada pelo nitrogênio, liberando nutrientes, remanescente de uma agricultura pouco exploratória fez com que ele tivesse seu uso adiado. Com o exaurimento dos solos e a abertura de novas fronteiras agrícolas em áreas onde a matéria orgânica sofre decomposição mais rápida e os solos são naturalmente mais lixiviados o pó de rocha surge como um "concentrado", fazendo uma analogia à ração de gado, que disponibiliza nutrientes que já foram lavados ou sequer existiram. Não é de fato algo que surgiu com a sintropia, e sim é utilizado por ela nos estágios iniciais de regeneração das áreas em substituição ao adubo químico. O adubo químico pode ser utilizado no inicio deste processo sintropico para ajudar a estabelecer as plantas pioneiras. Depois normalmente o sistema se estabiliza e o agricultor faz pequenas intervenções e vai levando gastando muito pouco. Eu gosto destas intervenções construtivas, assim a gente vai tirando as duvidas e construindo conhecimento. O fosfato natural de Araxá é um pó de rocha, mas não devemos nos ater somente aos pós de rocha como Gafsa e Araxá. A ideia que está por trás dos pós de rocha é que são um "concentrado" de nutrientes de liberação lenta e estão presentes em todas as rochas. Rochas que formaram os solos de terra roxa estruturada do norte do Paraná são riquíssimos em nutrientes e já vem inclusive corrigidas no ph e o diabasio que é a rocha formadora destes solos é uma das fontes mais eficientes de nutrientes. Qualquer pedreira local onde se consiga fazer o pó em granulação igual a do calcário tipo filler pode fornecer este tipo de adubo. As variações de nutrientes são em função da origem destas rochas.

NotMas atenção... Importante... Na natureza este processo de liberação de nutrientes  se chama intemperização que pode ser química, física ou biológica . A química ocorre com a água da chuva como solvente e as raízes das plantas que "defecam" exudados que "derretem as rochas" sendo que os primeiros organismos que fazem isso são os líquens (quem nunca observou uma rocha nua antiga coberta de liquens...ou os telhados de telhas de barro...etc, depois vão se instalando outras plantas e assim vai, o intemperismo físico é a diferença de temperatura, chuva fria em cima de pedra quente, os movimentos tectônicos, os implementos agrícolas , os animais etc e o mais importante é o biológico, este que faz a química fina do solo. por isso é importante ao adicionar po de rocha ter muita matéria orgânica e diminuir os herbicidas, inseticidas e fungicidas (que venham os drones) .


Carlo concordo que fazer uma "salada" pode dar dor de cabeça...mas aprendi na permacultura uma frase que me orienta: " Se você estiver trabalhando demais, é por que você não pensou o suficiente" então o mesmo espaço e o mesmo equipamento utilizado em um mesmo tempo deve sempre procurar executar mais de uma tarefa. Realmente não tem fórmula mágica como nos pacotões das empresas das áreas de insumos, porque cada ambiente é diferente. Este conhecimento de como fazer é uma coisa  que se constrói  com conversas como esta. A gente vai aplicando estas ideias em uma área piloto que eu chamo de zona 1 e vai observando os resultados e as interações que dão menos trabalho e aproveitam o tempo e os recursos  dispendidos.

Bom, eu falei linhas de florestas, como corredores de biodiversidade...Se estas linhas acompanharem  o sentido leste-oeste na região equatorial a insolação é uniforme, estas áreas neste novo conceito que proponho são áreas de manejo, garantem a posse da terra sem corte raso, tem o apoio da sociedade brasileira e mundial e mantem o sistema sem as oscilações de clima que acometem outras regiões. Não se trata de virarmos ecochatos e veganos... Se trata de ocupar de maneira mais inteligente estes espaços, com diplomacia... Se pelo menos tivermos esta intenção de fazer uma ocupação mais racional o ambiente ganha os agricultores e pecuaristas ganham. É isso que quero dizer. Neste caso que vejo como seria realmente ter um governo que lançasse estes desafios as pessoas, inclusive sendo temas para se estudar nas escolas de cada local...não somos uma ostra para viver fechados em nossos casulos ideológicos... Você parou para pensar que este milho, esta soja produzido com estas condições não é um milho e uma soja como outra qualquer... Ela tem para vender também esta informação...a de que se esta preservando...produzindo soja verde em plena Amazônia.

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Fonte: Notícias Agrícolas

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