Humor no STF: piada com recado sério, por Ronaldo Fernandes

Publicado em 11/09/2025 08:49 e atualizado em 11/09/2025 09:22

O clima no STF não foi leve por acaso. Em meio a um julgamento histórico, ministros soltaram piadinhas e riram entre si. Parece banal, mas não é: no Supremo até o riso tem função. Quem brinca é porque já sabe o placar. É quase um “tá tranquilo, já ganhamos”. Humor, nesse caso, vira símbolo de poder (mostra que a Corte não está acuada, que tem o processo na mão). O Supremo sabe usar símbolos: o voto é só a metade da mensagem, o resto está no tom, no gesto, até na gargalhada. E, goste-se ou não, nesse julgamento a piada pesou mais que o silêncio.

Do outro lado, Fux. O único a destoar, voto isolado, também se deixou levar em alguns momentos, fez brincadeiras aqui e ali (afinal, quando você está inserido num ambiente dominado pelo humor da maioria, acaba sendo contaminado). Mas, na maior parte do tempo, ele se manteve contido, sério, firme na linha divergente.

Esse voto, para a defesa, é ouro: será usado como argumento de que não houve crime e de que o STF sequer deveria julgar o caso. Já a esquerda lê diferente: diz que a divergência mostra que não há “ditadura da toga”, pois se houvesse, nenhum ministro teria liberdade para votar contra. Na verdade, o que o placar projeta é justamente o contrário: a ditadura está evidenciada na maioria esmagadora. Um provável 4×1 na 1ª Turma e, depois, um 8×3 no Plenário.

Alguns episódios reforçam essa postura descontraída da 1ª Turma e como ela acaba envolvendo até a defesa, que muitas vezes cai na armadilha sem perceber:

* O advogado de general Augusto Heleno reclamou que precisava jantar após nove horas de sessão.
* Outro advogado citou a sogra em sustentação oral, dizendo que “palavras são como punhal”, provocando risadas de Dino e Moraes (pra completar, o celular tocou e Dino disparou: “era sua sogra”).
* Houve ainda momentos em que defesas se perderam em tiradas de humor, tentando acompanhar o clima, mas o efeito foi inverso: em vez de reforçar seus argumentos, acabaram apenas reafirmando o domínio do STF sobre a cena.

👉 O que os símbolos representam:

* Humor da maioria: confiança, coleguismo, clima de grupo fechado. É um “somos todos nós contra um só”.
* Seriedade do divergente: isolamento, quase um “sou o único lúcido aqui dentro”. O contraste joga luz na derrota inevitável.

Para fora, esse teatro tem impacto: a opinião pública vê ministros rindo e entende que o tribunal está seguro. A defesa de Bolsonaro olha e lê provocação. E, para dentro do STF, é coesão pura (o riso une a maioria e isola o dissidente).

⚖️ O resultado simbólico é direto: quando a maioria brinca, *desarma a narrativa de perseguição*. O julgamento perde o peso dramático que a defesa gostaria de explorar. Piada, aqui, não é descuido (é recado).

E mesmo com Zanin na presidência da 1ª Turma, todo o protagonismo está em Alexandre de Moraes. Sim, ele é o relator, mas vai além disso: centraliza os debates, define os rumos e simbolicamente aparece como a figura de maior peso. A mensagem implícita é clara: no julgamento, o poder formal pode ser de um, mas o comando real está nas mãos de outro.

Fonte: Royal Rural

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