O que acontece com a China? Por Flávio França Jr.

Publicado em 31/08/2015 07:27 e atualizado em 31/08/2015 08:11
Flávio Roberto de França Junior é analista de mercado, consultor em agribusiness e diretor da França Junior Consultoria

Caros amigos. As duas últimas semanas foram marcadas por sentimento de pânico quase generalizado no mercado financeiro em função de notícias mais pessimistas vindas da China. Com muita turbulência na cotação do dólar, que em épocas de crise se torna a opção preferida dos investidores, passando pelo recuo generalizado no mercado de ações mundial (o índice Dow Jones nesse período mais recente chegou a acumular perda de 14%), e pelo derretimento nos preços do petróleo (o WTI em Nova York já caiu nessas últimas semanas 22%, com o valor recuando abaixo dos US$ 40.00/barril). No setor de commodities agrícolas o impacto veio também com pesadas quedas nos preços, por conta do receio de que o principal importador mundial reduza bruscamente as suas compras.

Mas o que está gerando todo esse sentimento pessimista no mercado financeiro? Tudo está relacionado com o receio global de que a China passe a crescer menos que o projetado inicialmente pelo governo, ou até que possa entrar em processo recessivo. Quando o problema está limitado à Chipre ou à Grécia, a preocupação é uma. Quando falamos em problemas na segunda maior economia do planeta, e maior comprador mundial de matérias-primas, a conversa é diferente. No início do movimento tivemos o estouro da bolha no mercado de ações. Depois de ter crescido impressionantes 150% em dólares desde agosto do ano passado até junho, a Bolsa de Xangai, tem queda acumulada recente próxima a 40%. Em outras palavras, está caindo e se ajustando para uma posição mais real, porque simplesmente havia subido demais. 

Com a queda nas bolsas chinesas o receio passou a ser de possível contágio sobre a economia real. Para conter o sentimento pessimista, na sequência tivemos a adoção de medidas pelo governo chinês para estimular a economia, incluindo pesada desvalorização do Yuan, redução na taxa de juros e diminuição nas taxas de depósito compulsório aplicada junto aos bancos do país. Como as informações vindas da China são sempre cercadas de dúvidas quanto à transparência e fidelidade aos fatos reais, cria-se um ambiente propício para toda a essa onda especulativa. Lembrando que na China, cerca de 80% dos investidores são cidadãos comuns, que não tem experiência nesse tipo de movimento mais brusco e tendem a se desesperar e se mover como rebanho, conhecido como “efeito manada”.

Mas aparentemente o pânico está sendo exagerado, até porque o mercado de ações na China representa apenas cerca de 5% dos investimentos das famílias chinesas. E um ajustamento nos valores das ações no mercado chinês é até positivo para o reequilíbrio da economia real. O que é preciso levar em conta é que o padrão de crescimento da China efetivamente mudou, daquelas taxas superiores a 10% ao ano, devendo buscar taxas mais próximas dos 5%. Ou seja, depois de um ciclo de crescimento fortíssimo, ancorado nos investimentos por parte do governo no setor da construção civil, a economia chinesa está se desacelerando. Sendo que o foco do crescimento agora deve passar pelo aumento da renda e do consumo pela população. Ou seja, menos foco na exportação, e mais foco no mercado doméstico.

Nesse sentido, toda essa modificação no modelo de crescimento econômico na China pode até ser benéfica para o Brasil, e especificamente para o setor de grãos, pois temos uma clara tendência de aumento de consumo pela população em geral. Tanto isso tende a ser verdade, que nos últimos meses os chineses até intensificaram suas compras de soja no mercado internacional, notadamente para produto sul-americano, com recordes mensais consecutivos de internalizações. E mesmo nesta semana foram novamente os principais compradores de soja dos EUA. O detalhe é que na sequência, caso esse aumento da renda se consolide no longo prazo, o que deve acontecer é a mudança no padrão de consumo pelos chineses para produtos com maior valor agregado. Trazendo novos desafios (e oportunidades) para países como o Brasil, que é em essência um grande exportador de matérias-primas (soja, milho, minério de ferro, etc...).

A questão então daqui para frente, quando primeiramente passar o pânico do mercado financeiro, é de que como se dará a mudança no padrão de crescimento da China, e se a meta de “pouso suave” da economia será alcançada de forma satisfatória. Entendo que eles têm instrumentos, recursos e determinação para conseguir. Mas falar em China é sempre algo delicado e polêmico, pois seu modelo econômico é um monstrengo que não se parece com nada já criado e testado em toda a história da humanidade. Portanto, façam suas apostas!

Um “AgroAbraço” a todos!!!

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Fonte: França Junior Consultoria

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