A taxa de câmbio inverteu sua curva?

Publicado em 01/04/2016 18:58

Caros Amigos. A taxa de câmbio Ptax, que resulta da média das operações de dólar comercial registradas pelo Banco Central diariamente, atingiu na posição de compra R$ 3,5793 nesta sexta, dia 1º de abril. Essa é a menor taxa em praticamente sete meses. Mais precisamente a menor desde os R$ 3,5549 de 27 de agosto de 2015, registrada um pouco antes do mercado catapultar a taxa pela primeira vez acima dos R$ 4,00. E com esse recuo que vem acontecendo desde o início de março, vem a pergunta que não quer calar: a taxa de câmbio inverteu efetivamente a sua curva? E derivada dessa questão, podemos ainda perguntar: é possível que a taxa volte a circular acima dos R$ 4,00, como aconteceu em setembro de 2015 e janeiro e fevereiro de 2016?

Para tentar responder essa complicada e decisiva questão, teremos que dar uma passada nas principais variáveis que normalmente determinam o rumo da taxa de câmbio. Primeiro, no âmbito externo, temos a variação do dólar no mercado internacional em relação às principais moedas. Apesar de uma tendência para o ano ainda de firmeza, as últimas semanas foram de acomodação da taxa, refletindo as incertezas e a diminuição de ritmo da economia chinesa, e o fluxo de avanço conservador da economia dos EUA. Em função dessa combinação, novo aumento da taxa de juros nos EUA está momentaneamente descartado, deixando o dólar sem força para subir significativamente no curto prazo. Variável de pressão (para baixo) para a taxa de câmbio no Brasil.

No lado doméstico, temos que analisar o fluxo cambial, que depende do andamento da economia, e a questão especulativa, que depende das oscilações sobre a crise política. No primeiro ponto, basicamente não há alterações sobre os desastrosos números observados em 2015. Ao contrário, como nada, absolutamente nada foi feito no ano passado para conter a deterioração dos indicadores econômicos, entendemos que a economia segue piorando e a crise se intensificando, com o país se encaminhando para o abismo. Por esse aspecto, seguimos com tendência de intensificação do fluxo negativo de entrada de dólar no país, atuando de forma a jogar para cima a taxa de câmbio no país.

Mas é na questão política onde temos o maior grau de indefinição para a tendência do câmbio. No lado externo a tendência momentânea é para baixo. Internamente, no lado econômico, a tendência segue para cima. Mas o desempate permanece sendo dado pelas flutuações dos humores do mercado financeiro diante das especulações sobre o futuro do atual governo. O aumento substancial das chances de impeachment foi a principal razão para a mudança para baixo desse patamar do câmbio e é em cima desse tema que estarão centradas as flutuações nas próximas semanas. Não há mais governo! Apenas um grupo que destroçou a economia do país tentando se manter no poder. A queda da presidente é condição necessária para que algum tipo de arranjo político seja possível e possamos começar a pensar em tirar o país do buraco negro em que foi colocado.

Se você acredita que a saída da presidente vai efetivamente ocorrer pela decisão do Congresso, então pode afastar momentaneamente a possibilidade da taxa retornar para o patamar dos R$ 4,00. Mesmo assim, não dá para trabalhar com taxas muito inferiores a esse patamar de R$ 3,50, até que o ambiente político seja estabilizado e as reformas econômicas puderem ser implementadas. Mas se você acredita que o fisiologismo e a compra descarada de votos de parlamentares vão evitar o processo, então pode se preparar porque a taxa voltará a disparar. Pelo menos até que o processo de cassação seja julgado no TSE. Mas aí meu caro, até lá mais um ano estaria perdido. A princípio, a primeira hipótese é, neste momento, a mais provável. Mas em se tratando de Brasil, e da nossa classe política, não dá ainda para cravar com toda a certeza. Acho que o Brasil trabalhador e que paga as contas precisa sair às ruas mais uma vez.

Um “AgroAbraço” a todos!!!

Flávio Roberto de França Junior (Analista de Mercado, Consultor em Agribusiness e Diretor da França Junior Consultoria)

www.francajunior.com.br e junior@francajunior.com.br

 

Real teve a segunda maior valorização global no trimestre (NA VEJA.COM.BR)

Aposta no impeachment da presidente Dilma Rousseff foi o principal fator para a alta de 9,34% nos primeiros três meses do ano

Durante o primeiro trimestre de 2016, o real foi a segunda moeda que mais se valorizou no mundo em relação ao dólar. Em três meses, a moeda americana ficou quase 10% mais barata no Brasil. Parte do fortalecimento do real pode ser explicada pelo noticiário político, com maior possibilidade de impeachment da presidente Dilma Roussef. O sinal de que a política monetária seguirá relaxada por mais algum tempo nos Estados Unidos e a alta das commodities também ajudaram o real.

Nos primeiros três meses do ano, o preço do dólar em reais caiu 9,34%. Assim, a taxa de câmbio recuou de 3,96 reais no fim do ano passado para os 3,59 reais no fechamento de quinta-feira, 31 de março. Nesse cenário, o real brasileiro teve a segunda maior valorização entre as 47 divisas acompanhadas pelo serviço de cotações IDC no trimestre. Apenas o ringgit, da Malásia, valorizou-se mais no período (9,51%).

O pano de fundo local desse fortalecimento da moeda brasileira é a política. Com a chegada da operação Lava Jato ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o enfraquecimento do governo Dilma Rousseff, investidores avaliam que a chance de impeachment cresceu. Para o mercado, a saída de Dilma pode abrir caminho para um governo mais inclinado a aprovar medidas necessárias para arrumar a economia. Com a previsão desse cenário, muitos voltaram a comprar reais.

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O fortalecimento da moeda brasileira, porém, não pode ser considerado um fenômeno isolado. Os analistas do Morgan Stanley dizem que o grande fator que tem influenciado o mercado global de moedas é a política monetária dos Estados Unidos. Após o início do aperto monetário em dezembro de 2015 nos EUA, a economia mundial começou a falhar, as incertezas cresceram e o Federal Reserve deixou claro que o movimento de alta será mais lento e gradual.

"Isso enfraquece o dólar e manterá a pressão vendedora por algum tempo", dizem os analistas do Morgan Stanley. O enfraquecimento do dólar acontece porque o juro que o investidor consegue nos EUA será, pelo menos por enquanto, menor que o imaginado previamente.

(Com Estadão Conteúdo)

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Fonte: Flávio França + VEJA

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