Incompetência do Ministério da Agricultura ou a máfia das sementes de milho? Por Valdir Fries

Publicado em 23/02/2017 14:17
Valdir Fries é produtor rural em Itambé/PR.

No ano de 2016 já relatei a respeito do padrão das sementes de milho que estão sendo colocadas no mercado e de certa forma cobrei a falta de fiscalização das sementes certificadas. Vejam aqui (https://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/artigos-principais/169142-estamos-plantando-sementes-de-milho-com-padrao-de-graos-de-pipoca-por-valdir-edemar-fries.html#.WK7MQzsrLIU). 

Pois bem, vamos aos fatos, até porque todo produtor rural brasileiro vem sofrendo consequências graves, somando prejuízos incalculáveis por FALTA DE FISCALIZAÇÃO ou simplesmente dada a INCOMPETÊNCIA por parte do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA. Se não isto, diríamos, ou digamos poder estar nos deparando com a “MÁFIA DAS SEMENTES DE MILHO”.

A lei 10.711, de 5 de agosto de 2003, dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e da outras providências. Nesta lei está estabelecido em seu artigo 5º e artigo 6º a quem compete a FISCALIZAÇÃO. Já os artigos 37º, 38º e 39º tratam da fiscalização propriamente dita. Porém, o que estamos recebendo todo ano são sementes fora de padrão, o que nos induz a acreditar na incompetência do sistema de fiscalização, ou a nos perguntar se não estamos mesmo diante de uma verdadeira “máfia”, assim dizendo.

Muito se fala em "plantabilidade"...Muito se recomenda e se orienta em relação a fazer uso de sementes fiscalizadas e certificadas, isto ao menos o MAPA tem feito e seguido a risca o que rege no artigo 36º da lei em questão, ou seja, fazer com que nós produtores adquiramos sementes “fiscalizadas, certificadas”. Mas que tipo, que padrão de sementes de milho estão chegando às propriedades rurais?

Existem sementes de todos os padrões, muitas embora sejam sementes de “ponteiro” de espigas, mas que ainda se tem uma certa classificação e padronização do tamanho das sementes - conforme imagens que seguem - o que nos proporciona um stand de plantas não esperado e recomendado tecnicamente, mas, ao menos em parte, na média geral da área e se consegue a tal “plantabilidade”. 

Se as imagens acima nos mostram sementes de segunda qualidade e de baixo padrão em termos de classificação, as imagens que seguem abaixo é retrato das sementes que também estão circulando hoje no comércio de todo o Brasil…Quem fiscaliza???

Sementes desta “qualidade” estão circulando no mercado, o que nos prova que NÃO está havendo a devida fiscalização. No caso das sementes destas imagens foram as sementes entregues em nossa propriedade. A primeira não me neguei a receber por que ainda, ao que se vê, tem um certo padrão de uniformidade no tamanho. Quanto às sementes da segunda imagem, inicialmente, me neguei a receber, porque era certo que NÃO teríamos um stand adequado de plantas, certo que era impossível de se conseguir a tal plantabilidade. 

De fato, no artigo 30º da Lei 10.711, em seu parágrafo único, rege que em casos emergências o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento pode liberar sementes de baixo padrão. Mas, questiono: Que dia foi publicado este decreto de emergência para se ter sementes abaixo do padrão sendo comercializadas para este plantio de 2017???

Na falta de outra, acabei por plantar as sementes fora de padrão, sem assinar qualquer recebimento do material, com a condição de que os técnicos representantes providenciassem os discos adequados, regulassem a máquina com stand de sementes de acordo com a recomendação do sementeiro, e acompanhassem o plantio para que NÃO viessem depois alegar desculpas de que o stand de plantas não uniforme seria devido à velocidade de plantio…NÃO DEU OUTRA!

Com sementes de BAIXO PADRÃO não se consegue uniformidade de plantas por metro linear, não se consegue a plantabilidade, e o resultado não poderia ser o que vimos nas imagens a seguir:

Hoje temos visto promoção de marketing feito por diversas empresas produtoras de sementes, divulgando suas tecnologias. São técnicos contratados pelas próprias empresas produtoras fazendo todo tipo de demonstração, porém, é na hora de entregar as sementes aos produtores rurais que observamos os técnicos e engenheiros agrônomos das empresas comerciais e cooperativas se desdobrarem a campo para que se consiga o mínimo de plantabilidade. Mas, infelizmente, esta prática está cada vez mais difícil de conseguir quando se tem circulando no mercado tanta semente que mais se parece com sementes pirateadas do que sementes fiscalizadas. 

(A negociação entre mim, particularmente, e a empresa que nos forneceu este tipo de sementes cabe a mim negociar e chegar a uma solução). 

Para finalizar,  repito mais uma vez o que está no artigo editado e publicado no ano anterior:

“Implantar uma lavoura com stand de plantas INADEQUADO, quem perde não é tão somente o produtor rural, quem perde é o município, quem perde é o estado, quem perde é o País…Tudo por falta de FISCALIZAÇÃO e na desculpa da “falta de sementes”, o produtor rural está plantando “sementes de milho” que mais parecem grãos de pipoca”.

Ou se resolve a questão fiscalização…Ou estaremos de fato enfrentando uma “máfia”???

De nada adianta pagarmos por uma tecnologia agregada nas sementes se não temos sementes de padrão uniforme para plantar.

>> Leia reportagem com José Américo Pierre Rodrigues, presidente da Abrasem, sobre o tema.

 

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Fonte: Valdir Edemar Fries

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