Para alguns, a ficha ainda não caiu, por Eduardo Lima Porto

Publicado em 19/11/2018 08:19
Eduardo Lima Porto é diretor da LucrodoAgro

A ficha ainda não caiu para alguns segmentos do agronegócio que manifestaram apoio a Bolsonaro desde o início da sua corrida presidencial.

Não se deram conta do conteúdo das propostas apresentadas na campanha. Talvez o entendimento seja seletivo e tenham registrado apenas o que lhes interessava.

Paulo Guedes é o principal sustentáculo do novo Governo e parece não estar preocupado com a opinião que determinadas categorias possam ter a seu respeito. Está fortemente orientado a reconfigurar a Previdência e outras mazelas crônicas, já fez várias declarações didáticas que apontam de forma muito transparente os caminhos que serão percorridos na área macroeconômica, independentemente das “dores de barriga” que muitos sentirão.

A escolha de Joaquim Levy para a Presidencia do BNDES sinaliza pretensões de realizar modificações profundas na estrutura do banco de fomento, o que poderá tornar os processos  de aprovação de crédito bem mais técnicos e menos suscetíveis ao lobby.

A noticia de que vários cargos de confiança assentados no Banco do Brasil serão eliminados, já indica que a margem de manobra de muitos políticos vai minguar.

Resumidamente, esse é o cenário que se encontra em formação.

Nesse sentido, me parece óbvio que o perfil das negociações setoriais deva assumir uma agenda bem diferente da que se viu nos últimos anos.

Aqueles que eternamente reclamam pelo suporte integral do Estado terão o espaço cada vez mais reduzido.

No entanto, verifica-se que reivindicações setoriais mofadas pelo tempo permanecem vigentes.

As eleições foram vencidas com base numa nova plataforma, que do lado econômico, privilegiará a liberdade empreendedora, dará sustentação à segurança jurídica e ao direito de propriedade, mas, sobretudo, deverá buscar a redução do tamanho do Estado para que se tenha condições de implementar uma Reforma Tributária.

Literalmente, não existe qualquer possibilidade de que exigências típicas de regimes socialistas continuem na pauta do Agronegócio.

Algumas aberrações clássicas precisam ser abolidas de vez, como a “Garantia de Renda”, “Preços Mínimos”, “Subvenção Integral de Seguro-Renda”, “Tabelamento de Fretes”, “Controle de Custos de Produção” e, fundamentalmente, as “Repactuações de Dívidas” com os recursos do Tesouro Nacional, excetuando-se os casos de sinistros climáticos comprovados.

Quem clama por esse tipo de interferência está pavimentando o caminho para que se lhe questione até a legitimidade do título de propriedade. É justamente o que almejam os esquerdistas mais rançosos, ambientalistas e indigenistas de plantão.

Além do mais, quem quer subsídios não tem moral para ser contrário a criação de mais impostos.

O mesmo paternalismo estatal que patrocina e protege a determinados setores diante das adversidades, também possui a prerrogativa de escolher os seus preferidos ou “campeões nacionais”.

Os votos a Bolsonaro decretaram, em material econômica, o fim do compadrio.

O Agro competente não precisa de ajudas do Governo. É um setor extremamente dinâmico e que produziu excelentes resultados econômicos nos últimos anos.

Sou muito favorável, por exemplo, a repactuação das dívidas dos pequenos e médios Produtores Rurais que tenham sido afetados por secas ou inundações, inclusive proporcionando-lhes condições realmente diferenciadas. O senso de justiça ordena o acolhimento dos pedidos de apoio governamental nestas situações. Fora isto, fica muito difícil acatar a plausibilidade destes pleitos.

Há que se encarar os problemas setoriais apontando soluções concretas, inclusive as mais drásticas, quando for o caso.

Muitas pessoas resistem a se desfazer de patrimônio e isso é particularmente intenso na agricultura porque envolve sentimentos diversos. No entanto, o desinvestimento é uma das opções saneadoras para quem está asfixiado pelas dívidas. Em última instância, a decisão de abandonar o barco antes que afunde também precisa ser considerada, seja por incapacidade operacional e financeira, seja por não se contar com a escala minima necessária para cobrir os custos da atividade.

Trata-se de um assunto muito sensível e que mexe com as emoções. Alguém poderá dizer que não tenho empatia ou que não tenho pena dos endividados. Sempre que posso, procuro oferecer orientações para quem está em dificuldades e nunca peço qualquer retribuição financeira em troca.

O que me dá muita bronca é assistir a enganação dos oportunistas que se aproveitam da fragilidade de muitos Produtores Rurais, criando falsas expectativas para ganhar milhões em honorários e para obter votos.

Tomara que os novos tempos espanem o mofo das propostas ultrapassadas e as mentiras das promessas impossíveis. Que os novos ventos possam mandar para bem longe os picaretas atuantes no setor.

Que o País seja inundado pelo espírito da meritocracia e espante de vez os “tranca ruas” do desenvolvimento.

Rogo pela chegada do dia em que o Lucro honesto seja motivo de orgulho nacional e o Prejuízo das decisões individuais seja assumido de forma responsável.

Que os bons possam prosperar e que os incompetentes possam falir da maneira mais natural possível.

 

 

 

 

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Fonte: LucrodoAgro

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