Chuvas e devaneios na madrugada, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 19/05/2014 09:49
Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.

Lá fora os trovões e raios anunciam uma forte chuva a caminho. Já são três da madrugada e o sono não vem. Viro-me na cama incessantemente. Quem de nós já não passou por esta situação?

Faço uma profunda reflexão sobre a vida, sobre a minha vida principalmente. Consigo lembrar-me do primeiro fato que marcou – me, fortemente, aos cinco anos de idade. Este por sinal, não muito agradável. Aprisionei um pobre pássaro numa gaiolinha e não tive competência para mantê-lo vivo e alegre por muito tempo. Chorei sua morte e aprendi a lição.

A chuva cai torrencialmente neste instante. Vem brindada por rajadas de vento forte. Minha janela assovia irritantemente. Na cadência da chuva vejo quanto somos frágeis, pois as chuvas fortes me causam desconforto, assim como o vendaval e o fogo descontrolado. 

Lembro-me mais uma vez de nossa casa na roça sem fôrro. Quando chovia grosso, minha mãe precisava recuar os móveis e camas, devido às goteiras que adentravam pelos vãos das grandes telhas romanas, desalinhadas pelo tempo.

Só embaixo da coberta, de meus pais, me sentia forte e protegido. Como diz o ditado: “chuva é igual discutir com mulher, quando você acha que acabou, vem outra pancada”.

Na infância, a tranquilidade de meu pai passava - me segurança. Ensinava - me que a chuva caía do céu a mando de Deus, para molhar nossas plantações e colhermos farta safra. Ensinava-me para não maldizê-la, senão nos deixaria na mão e demorava a cair novamente ou quem sabe cairia em outro lugar, onde era bem vinda.

As intempéries da vida, também são passageiras assim como as chuvas de grossos calibres. Ambas passam, mas nos deixam marcas e ensinamentos.

O que chamamos de problemas são apenas lições. A vida nos ensina a viver e também a morrer. Só mais perto do fim nos damos conta disso -, dizia meu avô. Ainda bem! “A morte nos dá a verdadeira dimensão de que viver vale a pena”.

Vêm - me à lembrança as pessoas a quem devo gratidão em minha vida... E foram tantas que não consigo me lembrar de todas! Procuro esquecer- me das injustiças que fui vítima, e perdoar todos aqueles que as praticaram. Isso faz bem para alma e para a saúde.

“O primeiro a pedir desculpas é o mais corajoso, o primeiro a perdoar é o mais forte, o primeiro a esquecer é o mais feliz”.

Desconheço o autor, mas gosto muito da frase que diz: “contra a injustiça só existem três coisas a fazer: o silêncio, a paciência e o tempo”. Mas voltando ao tema chuva, me delicio com as chuvas mansas e criadeiras. Elas mudam meu humor e me enchem de esperança por dias melhores... É a vida que segue!

Refleti em tantas coisas, pois a noite durou uma eternidade. Inclusive no comportamento de uma jovem família presente no restaurante onde me encontrava para o jantar. Pai e mãe, e dois filhinhos de aproximadamente cinco e sete anos.     Explico: Após escolherem os pratos, mergulharam em seus smartphones e não mais conversaram entre si. Esquisito né? Aí chego à conclusão, que a tecnologia está nos aproximando de quem está longe e nos afastando de quem está perto.

Einstein disse: “tenho medo do dia que a tecnologia sobreporá à interação humana. O mundo terá uma geração de idiotas”. Será que este dia chegou

Onde vamos parar com tudo isso? Será que envelheci? Só espero nunca parar de sonhar, e sentir o cheiro de terra molhada da chuva mansa das madrugadas, afinal “os sonhos são como os Deuses, se você não acreditar, simplesmente deixam de existir”.

E VIVA A CHUVA E OS DEVANEIOS DA MADRUGADA!

    osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br

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Fonte: Osvaldo Piccinin

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