A primeira vez na praia, por Osvaldo Piccinin

Publicado em 08/07/2014 09:42
Osvaldo Piccinin, engenheiro agrônomo, formado pela USP-Esalq, em 1973. Natural de Ibaté, é empresário e agricultor e mora em Campo Grande/MS.

Imagine um capiau recém- saído da roça, tomando aulas de civilização, e, de rebarba, conhecendo pela primeira vez – o mar. Pois este foi um fato verídico. Quando me deparei com aquela imensidão de água e aquele mundaréu de areia, agradeci a Deus por este privilégio.

A preparação da viagem foi longa. Tive que economizar cada centavo para não passar vergonha com o grupo do qual fazia parte. Afinal tudo era rachadinho, até os centavos. Eram tempos difíceis, tive que carpir muitos quintais de amigos ricos, para juntar uns trocados. 

Nosso grupo de viagem somava dez pessoas, todos acomodados numa Kombi. Apertados como sardinhas em lata, mas felizes da vida, afinal oportunidade igual a esta, era coisa rara. Partimos rumo a Santos. 

Não posso negar minha emoção quando botei o pé na areia fina pela primeira vez. E nem esconder a ralada no nariz no primeiro mergulho no raso do mar. 

Como não experimentar se a água era salgada mesmo, sem dar na cara dos colegas? Depois do primeiro mergulho, aquela passadinha da língua nos lábios, para ter certeza, foi inevitável. Para ser mais sincero, logo em seguida, eu tomei uns goles da salmoura. Para ser mais sincero ainda, até hoje eu tomo. Creio que fui um bovino na outra encarnação.  

Em minha pobre mochila, não podia deixar de constar uma sunga, mais conhecido por short de banho, um tubo de pasta, um sabonete, duas cuecas, três camisetas, um par de chinelos, duas bermudas e um pijaminha surrado. 

O meu short da cor - pretinho básico -, ostentava uma âncora dourada do lado esquerdo. Um pouco frouxo, daqueles que se mostra a bunda quando se pega um jacaré mais forte, ou um caixote - cambalhota. E isto também aconteceu comigo. 

Como eu só havia levado um único exemplar, foi com ele que me esbaldei durante uma semana. Para que estivesse em condições de uso, a traseira da geladeira, do minúsculo apartamento, era nossa serventia para a secagem, não só do short, como também das cuecas e meias.

Levávamos para a praia tudo que tínhamos direito, lanches, frango assado, caipirinhas e outras coisinhas mais. Espero não ter sido nós, os precursores da moda conhecida como “farofeiros”. No apartamento, o prato principal era macarronada acompanhada de sardinha em lata. Até hoje me enojo só de lembrar! 

Divertíamos-nos jogando bola na praia e cobrindo o corpo com areia, com apenas a cabeça de fora. Não existiam os biquínis ousados como temos hoje. Fio dental? Nem em sonho. Mas as moçoilas que desfilavam no alcance de nossos olhos eram contempladas sem discrição, afinal com dezesseis anos os hormônios estão saindo pelos ouvidos.

A faxina do apartamento era revezada entre todos do grupo. Isso nos ensinou ser mais humildes e nos despertar o espírito de equipe e união, além de reforçar nossos laços de amizade. 

Um por todos e todos por um, repetia o líder. Também nos dizia para ficarmos sempre juntos, porque cateto apartado do bando pode virar comida de onça!

É gozado como a gente vai mudando os valores pela vida afora. Hoje não tenho mais vontade de tomar banho de mar. Não gosto de água fria, muito menos de tomar sol em demasia. 

Na verdade, só entro no mar para fazer um caprichado e disfarçado xixi, depois das geladas que tomo embaixo do guarda- sol, de onde continúo admirando os minúsculos biquínis da moda, por sinal, muito mais interessantes!

E VIVA A PRAIA DA MINHA INFÂNCIA!

osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br

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Fonte: Osvaldo Piccinin

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