Mercado de acucar: ALGUMA COISA FORA DO LUGAR

Publicado em 15/12/2013 12:09
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting

NY experimentou mais uma semana de preços baixos. Desde o fatídico incêndio em 18 de outubro, quando o mercado pela primeira vez em 11 meses via 20 centavos sendo negociado na tela de NY, o açúcar derreteu 300 pontos. A sexta-feira encerrou com o vencimento março/2014 negociando a 16,29 centavos de dólar por libra-peso, uma baixa de 30 pontos na semana (6,60 dólares por tonelada) acompanhada quase que paralelamente pelos demais vencimentos ao longo da curva de preços. 

Anidro e hidratado liquidam melhor para as usinas hoje do que o açúcar de exportação. Embora o custo de produção apurado pelo modelo da Archer Consulting indica que ele está hoje equivalente a 15,38 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos sem custo financeiro (com ele, na média, iríamos para 17,22 centavos de dólar por libra-peso), o açúcar para exportação é negociado a desconto contra a tela de março/2014, enquanto anidro e hidratado, pelos valores informados pela ESALQ, liquidam para a usina o equivalente em açúcar, robustos 18,80 centavos de dólar por libra-peso para o anidro e 17,90 centavos de dólar por libra-peso para o hidratado. Muito bom.

Embora a demanda de açúcar no mercado internacional seja absolutamente desanimadora a ponto de os compradores lá fora darem a impressão de que já saíram todos em férias coletivas, houve um excesso de correção (para baixo) nos preços em reais por tonelada. Combinando o fechamento de NY com o do dólar, chegamos próximos a R$ 850 por tonelada na semana que passou, abaixo da média anual de R$ 863. Tem alguma coisa fora de lugar. Quem já fixou preços para o começo da safra que vem, não parece que está com pressa de fixar mais nos atuais níveis.

Ou NY caiu mais do que deveria ou o dólar se valorizou frente ao real menos do que podia. Os fundos liquidam a posição comprada lambendo as feridas (tiveram prejuízo) enquanto alguns produtores recompram parcialmente seus hedges de venda acompanhados das tradings. Em resumo, embora haja desânimo na área comercial poucos acreditam que o mercado em centavos de dólar por libra-peso possa negociar na mínima recente de 15,93 ocorrida em 16 de julho passado.

Já que é difícil estimar nesse momento qual será a safra de cana para o próximo ano safra, vamos tentar fazer a conta inversa. Vamos estimar a demanda de maneira bastante razoável e tentar ver, a partir daí, a necessidade de cana.

Primeiramente, a exportação. O acumulado nos últimos doze meses atinge 27,264 milhões de toneladas de açúcar, um volume que é 14,9% acima de igual período do na anterior. Vamos assumir que para o próximo ano, o Brasil exporte 25 milhões de toneladas. Vamos somar a esse volume mais 12 milhões de toneladas consumidas no mercado interno. 

Com o etanol, vamos assumir conservadoramente que a frota o ano que vem cresça apenas 3% e que o percentual de proprietários de veículos flex que usam etanol não sofra nenhum acréscimo no próximo ano. Ou seja, em torno de 25-30%. A mistura de anidro na gasolina não sofrerá tampouco nenhuma alteração. A exportação de etanol no acumulado os últimos doze meses está em 3,2 bilhões de litros. Vamos reduzi-la pela metade, para efeito do que queremos demonstrar. 

Somemos a essa demanda, os álcoois finos e de outros fins, grosso modo 1,5 bilhões de litros e – claro – a demanda interna que vamos estimar em 22 bilhões de litros de anidro e hidratado (no período abril de 2014 até março de 2015).

Fazendo a conversão de cada produto para ATR, a demanda estimada pelo modelo da Archer Consulting aponta para uma necessidade de 85,2 milhões de ATRs. Se tomarmos como média 133 ATRs por tonelada de cana, veremos que para atender a demanda conservadora acima demonstrada, vamos precisar moer em 2014/2015 alguma coisa ao redor de 618 milhões de toneladas de cana. 

Maior produção de açúcar no México e na Tailândia, apenas para citar dois, fundos liquidando e nuvens pesadas sobre o real podem pressionar NY. No entanto, dólar mais forte enfia o bisturi no fígado do governo para um reajuste de preços da gasolina. Não podemos esquecer que o custo de produção dos outros países que competem com o Brasil é mais alto que o nosso. Prepare sua disposição para 2014. Vamos ter um ano, ao que tudo indica, de maior volatilidade de preços. Os traders de açúcar que conheço estão ficando com a pele acinzentada devido a carência de adrenalina no sistema nervoso.

Este é o último comentário do ano. É hora de recarregar as baterias e o momento de agradecer a todos os clientes, amigos, parceiros, colaboradores e leitores que prestigiaram a Archer este ano. Além das quase 3.900 pessoas que recebem o comentário semanal diretamente nos seus e-mails, mais 400 pessoas o recebem traduzidos para o inglês e outros os leem em diversos sites e agências que os reproduzem para seus clientes. Há também aqueles leitores que preferem acessar diretamente o site da Archer quebrando recordes todo mês. O comentário semanal intitulado “Respirando sem a Ajuda de Aparelhos”, por exemplo, publicado em 9 de agosto teve 1.765 acessos no site. Este ano nosso site recebeu mais de 25.000 visitas de internautas, um acréscimo de quase 5% em relação ao ano passado, acessos de 78 países e 903 cidades, como Zhukovsky, Cali ou Santa Maria da Jetiba. 

A todos aqueles que durante este ano nos ajudaram a consolidar o nome da Archer, nosso muito obrigado e os votos de Boas Festas e Feliz 2014.

Voltaremos como nossos comentários no final de semana de 18 de janeiro de 2014. Até lá.

Arnaldo Luiz Corrêa

Fonte: Archer Consulting

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