Pesquisador do Instituto Biológico participa da descoberta de novo gênero de nematoide no Brasil

Publicado em 12/12/2025 17:58
Encontrado em folhas de corda-de-viola, Monteironema caresi presta tributo a mestres da nematologia brasileira

Uma equipe de nematologistas brasileiros que inclui o pesquisador Cláudio Marcelo Gonçalves Oliveira, do Instituto Biológico (IB-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP, descreveu um novo gênero e espécie de nematoide foliar, o Monteironema caresi, que parasita plantas do gênero Ipomoea, popularmente conhecidas como corda-de-viola. Ao nomear a nova espécie, os pesquisadores reconheceram a trajetória de duas grandes personalidades da Nematologia brasileira, os professores Ailton Rocha Monteiro e Juvenil Cares.

Uma descoberta nas folhas da corda-de-viola

A descoberta teve início quando o professor Robert Weingart Barreto encontrou no campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, plantas de corda-de-viola infectadas por um nematoide desconhecido. A espécie foi encontrada em folhas de Ipomoea cairica e I. syringifolia que apresentavam sintomas indicativos da presença de nematoides foliares.

O material foi encaminhado ao laboratório de nematologia da UFV, onde se deu início à investigação taxonômica. Uma equipe de pesquisadores liderada pela professora Dalila Sêni Buonicontro, da UFV, em colaboração com Oliveira e que contou com a participação de cientistas de instituições nacionais e internacionais realizou uma caracterização detalhada do organismo por meio de análises morfológicas e moleculares. Os resultados mostraram que o nematoide não se enquadrava em nenhum dos gêneros conhecidos da família Anguinidae, grupo que inclui espécies parasitas de folhas, caules, sementes e flores. As análises moleculares confirmaram que se tratava de uma linhagem independente, justificando a criação de um novo gênero e uma nova espécie: a Monteironema caresi.

Importância científica e ecológica

De acordo com o pesquisador do IB, o achado, publicado recentemente no Russian Journal of Nematology, amplia o conhecimento sobre a biodiversidade de nematoides associados às plantas. “A descoberta ressalta o valor da taxonomia integrativa, que combina análises morfológicas e genéticas para delimitar espécies com maior precisão. Ela também demonstra como a rica biodiversidade brasileira ainda guarda formas de vida desconhecidas, inclusive em áreas amplamente estudadas, como Viçosa/MG”, diz Oliveira.

De acordo com o especialista, além do avanço taxonômico, o estudo contribui para o entendimento das relações entre nematoides e plantas hospedeiras, podendo inclusive apoiar estratégias de manejo de espécies invasoras como a própria corda-de-viola, que competem com culturas agrícolas em várias regiões tropicais. “Os próximos passos envolvem a condução de estudos em casa de vegetação para verificar se a nova espécie também parasita outras plantas e se o nematoide ocorre em outras áreas, além de Viçosa”, complementa o pesquisador do IB.

Homenagem a mestres da nematologia: um legado de ciência e formação

O nome Monteironema caresi é uma homenagem a dois professores, taxonomistas de nematoides, cuja trajetória marcou a história da Nematologia no Brasil: Ailton Rocha Monteiro, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) e Juvenil Enrique Cares, da Universidade de Brasília (UnB). A fusão dos nomes ‘Monteiro’ e ‘Cares’ deu origem ao epíteto, simbolizando o legado e a continuidade da pesquisa nematológica brasileira.

Mais do que uma nova espécie, o M. caresi representa, portanto, o elo entre gerações de pesquisadores brasileiros dedicados ao estudo dos nematoides. Para Oliveria, a homenagem aos mestres Monteiro e Cares celebra não apenas suas carreiras científicas, mas também a tradição de ensino, colaboração e curiosidade que inspira a nova geração de nematologistas no Brasil.

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Características do novo gênero

Os adultos de M. caresi medem de 0,4 a 0,9 milímetro e ocorrem em três formas distintas — fêmeas semi-obesas, fêmeas imaturas e machos delgados. Apresentam corpo fusiforme, cutícula finamente estriada e um estilete (estrutura usada para perfurar tecidos vegetais) curto e robusto. O sistemas digestivo e reprodutivo possuem combinações de características únicas, reforçando sua distinção em relação a outros gêneros da família. Diferentemente de muitos anguinídeos que provocam galhas ou deformações nas plantas, a nova espécie descrita causa manchas foliares — um tipo de sintoma menos frequente entre nematoides desse grupo, mas de grande interesse para estudos ecológicos e de fitopatologia.

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Fonte:
Instituto Biológico

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